A peça Bonitinha, mas Ordinária, escrita por Nelson Rodrigues, ganha terceira adaptação para o cinema sob a direção de Moacyr Góes (O Homem que Desafiou o Diabo). Esteticamente certinho demais, o longa nem de longe lembra o universo rodrigueano. O filme, com texto e situações bastante fiéis aos originais, é marcado pelo uso excessivo de close-ups, lembrando, muitas vezes, uma versão adulta de Malhação.
A referência da novelinha infanto-juvenil, aliás, também está presente na atuação de Letícia Colin no papel de Maria Cecília, a pobre adolescente que é violentada por cinco homens negros durante um baile funk numa favela carioca. Cheia de caras e bocas e trejeitos exagerados, Letícia – que tinha 18 anos quando filmou Bonitinha – se perde na interpretação, demonstrando pouca ou quase nenhuma emoção em grande parte das cenas.
Performances intensas
Góes situa a trama no tempo presente e opta por uma versão esterilizada da peça criada pelo anjo pornográfico. Tudo é tão higienizado que fica difícil comprar a história.
O contraponto são os dois protagonistas masculinos, vividos por João Miguel, como o ex-office boy Edgard, e Leon Góes, como Peixoto, que entregam performances intensas na medida certa.
História forçada
O drama começa quando Peixoto, genro e empregado de Dr. Werneck, vivido por um inspirado Gracindo Junior, faz a proposta para Edgard casar com Maria Cecília, filha do chefe. Edgard se vê diante de um dilema moral, se vender para o patrão ou continuar pobre e nos braços de sua paixão Ritinha – vivida por Leandra Leal em uma de suas melhores atuações nos cinemas.
Na época em que foi escrita, em 1952, a peça cujo nome completo é Bonitinha, mas Ordinária ou Otto Lara Resende fazia sentido um pai desesperado querer casar a filha que não é mais virgem a todo o custo. Na versão atual, no entanto, esse pequeno detalhe soa inverossímel. Nelson Rodrigues deve estar se revirando no túmulo.
