Com a desqualificação do documentário O Mar de Mário, único longa-metragem brasiliense na disputa pelo Troféu Candango, os curtas Braxília e Falta de Ar passaram a ser os únicos representantes do Distrito Federal na mostra em 35 mm. O documentário de Reginaldo Gontijo e Luiz F. Suffiati saiu da competição por não ter atendido ao critério de ineditismo do festival. Dirigido pela estreante Danyella Proença, o documentário Braxília, que será exibido hoje, a partir das 20h30, no Cine Brasília, transpõe para o cinema o olhar peculiar do poeta Nicolas Behr sobre a capital federal.
Poesia e cinema sempre permearam a vida de Danyella. Dona de um blog dedicado a poemas, Danyella se formou em jornalismo pela Universidade de Brasília e escolheu como tema de sua dissertação de mestrado a poesia na obra do diretor Luiz Fernando Carvalho. “Tenho uma relação muito visceral com a poesia, de tentar trazê-la para a realidade”, analisa.
A diretora conta que seu primeiro contato com Nicolas Behr foi por meio da canção Travessia do Eixão, do Legião Urbana, escrita por Nonato Veras e Behr. Tempos depois, o interesse pelo poeta matogrossense radicado em Brasília reacendeu quando um amigo lhe recitou um poema de Behr no bar Beirute. História mais brasiliense, impossível. Para completar, o ex-Legião Urbana Dado Villa-Lobos topou fazer a trilha sonora do documentário, para a surpresa da cineasta. “Acho que isso fechou o ciclo em Brasília”, acredita Danyella.
A Braxília de Nicolas Behr nasceu da relação conflituosa, de afeto e angústia, entre o poeta e a capital federal. Ambas têm em comum o fato de serem utopia, mas Braxília continua sendo um sonho que cada um de nós pode reinventar, “sem tijolos e sem dor”.
“Brasília inspira múltiplo olhares”, acredita Danyella. “A poesia de Nicolas é motivada por essa angústia ante a cidade. Quando escrevi o roteiro, tinha passado algum tempo em São Paulo, e, quando voltei, senti uma angústia parecida, com a cidade vazia, sem pessoas na rua”.
O documentário mistura depoimentos de Nicolas Behr, com momentos de intervenção poética na cidade. “Levamos a poesia para a rua. Escrevemos no chão, em escadas, projetamos no Museu da República… Buscamos lugares em que Brasília poderia ser poética”, detalha a diretora.
O outro curta a ser exibido esta noite é Acercadacana, do pernambucano Felipe Peres Calheiros. O documentário conta a história da luta entre a agricultora Maria Francisca contra um grupo empresarial que removeu 50 famílias de uma propriedade para expandir a lavoura de cana-de-açúcar. Calheiros conta que ficou sabendo do caso de dona Maria Francisca por meio da Comissão Pastoral da Terra. “Pensamos em fazer um filme maior, mas, por conta da urgência em participar dessa luta, também dentro da mídia, resolvemos apressar o processo”, argumenta.
O longa-metragem da noite é Os Residentes, do mineiro Tiago Mata Machado, que substituiu o documentário brasiliense O Mar de Mário. Crítico de cinema, Tiago fez sua estreia no longa-metragem em 2006, com o filme O Quadrado de Joana, exibido no 10º Festival de Cinema de Tiradentes.