Da Redação
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Não foi surpresa! Os pernambucanos invadiram o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deste ano e foram os mais premiados ontem, na cerimônia de encerramento do evento. Deu empate no aguardado troféu Candango de melhor filme: Eles Voltam, de Marcelo Lordello e Era Uma Vez Eu, Verônica, de Marcelo Gomes. “Agora acho que tem mais pernambucano aqui do que na feira de Caruaru e no Carnaval de Recife juntos”, brincou Gomes. E a noite no Teatro Nacional teve até frevo ao vivo.
Era Uma Vez… também levou o Candango de melhor filme (pelo júri popular), além de melhor ator coadjuvante (W. J. Solha), melhor fotografia e trilha sonora. O cineasta fez um apelo: “Se preocupem mais com o som e com a projeção de nossos filmes nos festivais”. Ao receber o prêmio de melhor roteiro, o cineasta agradeceu às mulheres que foram entrevistadas para fazer o filme.
Eles Voltam recebeu ainda prêmios de atriz e melhor atriz coadjuvante. “Se não fosse por ela esse filme não existiria. É impressionante o talento e a entrega da Malu”, disse o diretor sobre a menina Maria Luiza Tavares, que protagoniza seu longa. Um detalhe curioso: o cineasta optou por usar não-atores em seu filme.
Também de Pernambuco, Boa Sorte, Meu Amor, de Daniel Aragão, levou o prêmio de som, direção e montagem. Fora do Nordeste, Enrique Diaz, de Noites de Reis, foi o melhor ator. Já Esse Amor Que Nos Consome, de Allan Ribeiro, levou direção de arte e montagem.
O melhor curta de ficção foi Vestido de Laerte, da dupla Claudia Priscilla e Pedro Marques. “Fiquei muito feliz do Laerte poder ter competido como melhor atriz no festival. Isso acrescenta à discussão de gênero”, disse Marques ao citar a atuação do cartunista crossdresser (que se veste de mulher) no filme.
O curta-metragem mais premiado da noite, entretanto, foi A Mão Que Afaga, de Gabriela Amaral Almeida. Levou o Candango de melhor curta (pelo júri popular) e, pelo júri oficial: melhor atriz, melhor roteiro, além do prêmio Vagalume (concedido pelo grupo cinema para cegos), prêmio da crítica, concedido pela Abracine – Associação Brasileira de Críticos de Cinema e prêmio de aquisição do Canal Brasil, que contou com um corpo de jurados formado por um seleto grupo de jornalistas e críticos de todo o Brasil, incluindo Michel Toronaga, editor de Cultura do Jornal de Brasília.
Da cidade
Único representante de Brasília na mostra competitiva do festival deste ano, A Ditadura da Especulação, de Zé Furtado, ganhou o Candango de melhor documentário pelo júri popular. “Santuário não se move”, disse um pajé ao receber o troféu. A frase foi repetida três vezes pelos realizadores no final dos agradecimentos. O filme é a continuação de Sagrada Terra Especulada – A Luta Contra o Setor Noroeste, premiado em 2011.
Na Mostra Brasília, o destaque foi para Meu Amigo Nietzsche. Dirigido por Fáuston da Silva, o curta que mostra o encontro de um estudante brasileiro com o filosofo alemão do século 19, recebeu o troféu Câmara Legislativa nas categorias melhor direção, melhor roteiro e melhor curta (no júri oficial e no popular).
O longa-metragem Sob o Signo da Poesia, de Neto Borges foi premiado pelo júri popular da Mostra Brasília. No júri oficial, quem levou o troféu foi Parece que Existo, filme sobre o músico João Macdowell dirigido por Mario Salimon.
A noite também foi de protestos. O veterano cineasta Vladimir Carvalho (de Rock Brasília – Era de Ouro) aproveitou para expor sua opinião durante a cerimônia. O alvo foi a diminuição dos recursos do FAC (Fundo de Apoio à Cultura), incentivo do GDF que vem alimentando debates com a classe artística de Brasília. “Vivemos um período de estiagem da seca, mas a pior seca é a instabilidade do governo para a cultura”, criticou o diretor, que foi aplaudido.