Camilla Sanches
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Panela, balde, ralador, cabine de orelhão e até escapamento de carro. Estes são apenas alguns dos objetos que o grupo de percussão Patubatê usa em suas apresentações. Sucata. É disso que é feito os instrumentos com os quais Fred Magalhães, Fernando Mazoni, Gustavo Lavoura e o DJ Leandronik, fazem música.
Pela segunda vez, o grupo leva sua música inusitada com materiais reciclados para terras africanas, num passeio por quatro países do continente: República de Camarões, Quênia, Botswana e Gabão.
Com apoio do Ministério de Relações Exteriores, os eventos são realizados pela Embaixada do Brasil na África e tem por objetivo promover a cultura brasileira no exterior.
“A expectativa é fazer contato com músicos locais, convidá-los para vir ao Brasil e aprender muito da cultura de lá, novos ritmos para incorporar ao nosso trabalho”, comenta Fred Magalhães, o mais antigo integrante do grupo.
A turnê começa na próxima quarta-feria, dia 23, em Gaborone (Botswana) e se encerra, no Libreville (Gabão), em 2 de abril.
No Quênia, no último final de semana de março, o grupo é atração da ExpoBrasil 2011, evento que vai reunir vários artistas brasileiros, principalmente artesãos.
O grupo surgiu em 1999, na Escola de Música de Brasília (EMB), onde Fred estudanda. No início, era um grupo de professores e alunos que faziam músicas com instrumentos de percussão erudita, como xilofone, marimba, tímpano, vibra-fone.
“No final do curso, a gente teve a ideia de fazer um maracatu misturado com funk, tudo isso com sucata, panela, baldes, carrinho de compras”, lembra o percussionista.
Com a boa receptividade dos colegas, Fred começou a estudar. “Vi uns vídeos do Stomp, do Blue Man, do Hermeto Pascoal, coisas do Chico Science, porque ele gostava muito de misturar ritmos regionais com rock e funk. No início era mais performance, percussão, fazíamos muita coisa do Stomp, também. Depois é que partimos pras ondas da gente mesmo”.
Em 2004, entraram os Djs, eram dois, agora é só um, o Leandronik. “Queríamos dar um up no trabalho. No Brasil, o pessoal não está acostumado a assistir um concerto só com percussão, que não tenha voz e um cantor lá na frente. Então, em função disso, resolvemos colocar um DJ na formação”, conta Fred Magalhães.
Daí em diante, a criatividade começou a surgir. “Começamos a pensar músicas para performances. O ritmo, por exemplo, entra o DJ com a melodia e a harmonia pensando na performance. Como, por exemplo, num ritmo de samba que eu possa jogar baldes, num ritmo de baião que eu possa tocar numa cabine de orelhão. Então, é tudo adaptado à perfomance”.
O convite para a África veio de uma aluna da oficina que o grupo realiza toda quinta-feira, das 19h às 22h, no Colégio Inei (605 Norte). A aluna trabalha no Itamaraty. “Segundo ela, sempre levavam chorinho e música clássica e nos convidaram para fazer um trabalho, agregando a isso a oficina. Eles queriam começar pela África, que é um continente de pessoas muito carentes e esse tipo de trabalho é muito bem recebido por lá”.
Assim como no Brasil, os músicos vão levar oficinas para o povo africano. No primeiro dia, são ministradas as aulas e, no segundo, um show com a participação dos alunos, que, geralmente, são jovens e crianças carentes.
Nesta viagem vão fazer uma oficina com um grupo que toca com ossos e sementes. “Tem tudo a ver com a nossa proposta. Vamos aprender um pouco com eles e eles conosco”.
Em Camarões, uma das cidades pelas quais o Patubatê passa durante a estadia no continente africano, o grupo terá 400 crianças para dar oficinas. “Teremos que dar por etapas porque do contrário não temos condição de atender a todos num único dia”. As oficinas que eles costumam dar é para 60 ou 80 alunos, no máximo.
A programação da viagem inclui, para cada um dos quatro países visitados, uma oficina, no primeiro dia, e um show, no dia seguinte. Nas oficinas, eles aprendem um ritmo.Na verdade, vários ritmos brasileiros, mas para apresentação que eles fazem junto com a gente no show, ensaiamos um ritmo mais intensamente, que geralmente é o samba.
“A identificação é muito rápida e eles pegam o ritmo muito rápido também porque os africanos são muito percussivos. Comentei com uma aluna esses dias que eles não conhecem o ritmo da gente, mas quando acabamos de tocar, eles repetem tudo com a boca. É impressionante”.
Voltando da África, o grupo tem agenda cheia com apresentações marcadas em Belo Horizonte, São Paulo, Uberlândia.