
Camilla Sanches
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Gravar um novo disco é sempre um momento de experimentação para o cantor e compositor pernambucano Lenine. Com o mais recente trabalho da carreira, Chão, lançado em outubro, não foi diferente. O álbum foi produzido em parceria com JR Tostoi e Bruno Giorgi, filho de Lenine, e chegou aos palcos este ano, com passagens por Recife (“meu chão de origem”), onde estreou, e Rio de Janeiro (“meu chão de escolha”).
Brasília recebe a produção nesta quarta-feira, em apresentação única, às 21h, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. “Meus discos falam de questões que me comovem. A natureza, o meio ambiente e a preservação ambiental são algumas dessas questões e tudo isso é refletido no que eu faço”, diz.
Segundo Lenine, esta, porém, não é a principal característica do projeto. Na opinião dele, o que mais diferencia este álbum é a opção de fazer um CD sem bateria e percussão. “Nada contra eles”, brinca. “Gravar disco é um momento laboratorial, onde posso experimentar”, conta o artista.
Segundo Lenine, Chão procura criar um novo relevo sonoro. Ele define o trabalho como uma opereta: “Foi feito para ouvir de um tacada só”. Entre as dez canções, algumas não têm intervalos entre elas. “Meus discos, geralmente, começam com um título e um desejo. Eu queria falar sobre o chão, esse monossílabo que é quase uma onomatopeia do andar, que soa nasal, reverbera no corpo. O desejo era descobrir outros sons.”
O trabalho levou seis meses, entre composição, gravação e mixagem e deu origem a um conteúdo inédito e autoral. “Sou um compositor antes de tudo. Mais de 50% do que produzo não é para mim, são para outros intérpretes, para o cinema, teatro…”, lista.
Uma das faixas do CD, O Amor é Pra Quem Ama foi gravado no estúdio do filho, Bruno Giorgi, que fica na casa da sogra de Lenine, avó do rapaz, evidentemente. “Para minha sorte, a porta estava aberta e, enquanto gravávamos, o canário dela cantava lá fora”, lembra o pernambucano.
A coincidência não parava por aí. “O mais interessante é que ele cantava no mesmo tom que a gente e estava evoluindo. Na hora, o Bruno comentou que precisávamos aproveitar aquilo.” Lenine, é claro, concordou. Além da afinação, o pássaro tem nome real, Frederico IV, e é uma das participações mais que especiais do CD.
“Todos os sons orgânicos do álbum foram mantidos. Nada foi editado. Da mesma forma natural com que surgiram, foram mantidos.” O mesmo ocorre em Os Passos, a faixa que intitula do disco.