
A Sociedade Armorial Patafísica Rusticana, o Pacotão, um dos blocos mais populares e antigos de Brasília, oferecerá de presente aos foliões um livro com toda a história do bloco carnavalesco, desde a sua fundação, em 1978, até os dias atuais. A previsão é lançá-lo no mercado após este Carnaval, em abril.
“É um importante resgate sobre a história do Carnaval da cidade e da história política local e nacional, por meio de um bloco que se destacou por criticar o governo e as gestões políticas brasileiras”, comentou o cineasta Pedro Lacerda, 54 anos, 25 deles dedicados ao Pacotão.
As 400 páginas do documento reúnem uma infinidade de imagens históricas, ilustrações, relatos de foliões e integrantes da diretoria (a Politburo) e marchinhas emblemáticas, que ano a ano construíram a história do Carnaval candango.
“Ao contrário do que muitos pensam, existe Carnaval na capital do País, e este livro e o Pacotão estão aí para provar isto”, assegurou o organizador da publicação, Fernando de Oliveira Fonseca.
Obra coletiva
Pacotão: Um Bloco na Contramão é uma obra coletiva com textos de Moacyr de Oliveira Filho, o Moa, um dos fundadores do bloco; Armando Rollemberg, jornalista e irmão do senador Rodrigo Rollemberg (PSB); e o compositor Paulão de Varadero, além de fotografias de André Dusek e Irone Queiroz, entre outros.
Varadero é autor de uma das frases mais famosas do bloco: “O Pacotão é o papel higiênico da história”. Colega de folia, o carioca Wilsinho Vaia explica: “Eles (os políticos) aprontam e a gente vai limpar colocando tudo de ruim que eles fazem na boca do mundo.”
“O Pacotão vai contra tudo. É uma manifestação de oposição a quem está no poder, sempre”, define Cicinho Filisteu, integrante da comissão organizadora do bloco e um dos idealizadores do livro sobre o bloco de rua. E assim como o Pacotão sempre sai às ruas (da quadra 302 Norte até destino desconhecido) na direção oposta à original da via, o livro também é organizado de trás para frente.
“Cantamos a conjuntura do momento político, seja nacional ou internacional”, completa Wilsinho Vaia, autor de marchinhas e integrante da nova geração do bloco. “Em função de tudo que acontece no Congresso (Nacional), tudo que se apronta ali, o pessoal de fora tem a ideia de que o brasiliense não sabe se manifestar. No Pacotão, provamos que isso não é verdade. É o momento de protestarmos contra tudo, a política, o governo, até contra a sogra”, brinca.
Expressão popular
O organizador do livro, Fernando Fonseca, acredita que a obra é uma tentativa de resgatar a sociologia da cidade. “É oportuno porque nos ajuda a levantar nossa autoestima. É uma narrativa que representa a expressão popular”, pontua Ivan Presença, livreiro e agitador cultural, além de integrante do Pacotão.
Os capítulos são divididos por temas. Um trata da Politburo, a comissão de frente, aqueles que fazem o bloco acontecer todos os anos na contramão do circuito oficial. Os que ainda vivem e os que fizeram parte, mas “já subiram para o primeiro andar”, nas palavras de Cicinho Filisteu.
Outro capítulo é dedicado às marchinhas que marcaram a trajetória das três décadas de Carnaval. Uma terceira parte é dedicada ao patrono e presidente da Sociedade Armorial Patafísica, Charles Preto, figura onipresente e responsável por todas as decisões que dizem respeito ao bloco, acima de quem não há outro.
Os foliões, é claro, indivíduos assíduos do desfile, também têm seu espaço reservado. “Há pessoas que desfilam há muitos anos, outras que usam a mesma fantasia desde o primeiro Carnaval. Busquei destacar algumas dessas personagens”, conta Fernando Fonseca.