Alguns filmes parecem condenados a girar em círculos, como se estivessem presos em suas próprias armadilhas narrativas. Os Estranhos: Capítulo 2, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (2), é exatamente isso: uma continuação que dificilmente se justificaria, mas que insiste em se arrastar até o espectador quase esquecer o impacto do original. O que poderia ser um mergulho no medo acaba se transformando em um exercício repetitivo de perseguições já esgotadas.
Maya retorna como protagonista, marcada pela sobrevivência e pelo trauma. O roteiro tenta construir tensão em torno de sua vulnerabilidade, abordando o estresse pós-traumático, mas logo se perde em uma estrutura preguiçosa. Há potência dramática na personagem, porém o filme prefere repetir corredores, florestas e fugas intermináveis em vez de explorar novos caminhos.

Renny Harlin, veterano de Hollywood, parece acreditar que prolongar cenas equivale a criar tensão. O efeito é o oposto: planos excessivamente abertos, sequências alongadas e pouca inventividade transformam o que deveria ser sufocante em monotonia. O terror precisa de ritmo, mas aqui o relógio joga contra a narrativa.
Ainda assim, há momentos de respiro. Madelaine Petsch entrega uma atuação sólida, trazendo humanidade a uma personagem que poderia cair no estereótipo. Seu olhar ferido, a contenção no desespero e a energia que imprime em cada tentativa de sobrevivência sustentam boa parte do longa. Sem ela, a trama já teria sucumbido de vez.

Os vilões, porém, não acompanham esse fôlego. A tentativa de justificar sua maldade por meio de flashbacks soa artificial. O fascínio do terror está justamente no enigma do desconhecido; quando a câmera insiste em explicar origens dolorosas, a estranheza perde força e o mistério se dissolve.
O roteiro também tropeça nas escolhas fáceis: Maya tem diversas oportunidades de encerrar a ameaça, mas segue correndo sem rumo. Em vez de aumentar a tensão, essa insistência dilui o impacto e afasta o público. Em determinado momento, o espectador deixa de temer pelo destino da personagem e passa apenas a contar os minutos até o próximo “quase” fim.

Entre clichês de slasher, cenários reaproveitados e uma floresta que mais enfeita do que assusta, o longa se sustenta em fragmentos. Algumas sequências — como as do necrotério, do carro e do ferimento — surgem como lampejos criativos, mas logo se perdem em um mar de repetições. É pouco para um projeto que se propõe a fechar uma trilogia.
Curiosamente, apesar de desnecessário, Os Estranhos: Capítulo 2 consegue ser levemente superior ao primeiro. A redução do elenco e o foco na perseguição direta à protagonista dão certa coerência ao enredo. Mas esse mérito se desfaz diante de uma direção pouco inspirada e de escolhas narrativas que preferem o susto fácil à construção genuína do medo.

Conclusão
No fim, o filme cansa pela própria insistência. Quem gostou do primeiro pode se contentar com mais do mesmo. Já quem saiu decepcionado dificilmente terá paciência para acompanhar Maya em mais uma corrida sem destino. O terror precisa do inesperado; quando tudo o que resta é repetir a estranheza, o resultado não passa de previsível.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Renny Harlin;
Roteiro: Alan R. Cohen, Alan Freedland;
Elenco: Madelaine Petsch, Froy Gutierrez, Gabriel Basso, Rachel Shenton, Ema Horvath;
Gênero: Terror;
Duração: 96 minutos;
Distribuição: Paris Filmes;
Classificação indicativa: 16 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z