A crítica da crítica da crítica. Guimarães Rosa escreveu, Benedito Nunes analisou, Victor Sales Pinheiro compilou as análises e agora analisamos a compilação: A Rosa o Que É de Rosa: Literatura e Filosofia em Guimarães Rosa. O peso do autor que inicia essa cadeia justifica sucessão ininterrupta de impressões literárias.
Rosa foi único no Brasil e Nunes o compreendeu muito bem. Não tão bem no início, é verdade, já que definiu Grande Sertão: Veredas como um romance “escrito em linhas tortas”. E, se formos rigorosos, Nunes (que nasceu e se firmou em Belém) pode ser considerado um tanto marginal, tendo reproduzido perspectivas do grande Antônio Candido (USP).
Importância
Mas, como afirma João Adolfo Hansen (professor da USP por muitos anos) ao citar o próprio Guimarães no prefácio de A Rosa o Que É de Rosa provincianismos escondem a “pretensão de ser modelo e regra do universal”, e formulações do “litoral brasileiro subordinado ao pequeno projeto ilustrado de uma burguesia caipira e funcionária-pública que escolheu ser branca, católica e francesa” não podem ser tomadas como suprassumo literário.
Em outras palavras, vale a pena reconhecer a importância de Benedito Nunes e diversificar os olhares – sempre com o foco em Rosa, no caso. E não se trata de um exercício restrito aos teóricos da Literatura.
Melhor compreensão
Apesar de denso e profundo, o livro ajuda qualquer leitor a compreender melhor o potencial de suas leituras. Obras literárias não podem ser reduzidas a mero entretenimento, como parece encarar a maioria dos leitores brasileiros.
A Rosa o Que É de Rosa mostra aos leigos e simples curiosos que novos significados de um texto podem nascer neles mesmos, e que a temida Filosofia pode se tornar acessível por meio da Literatura – e vice-versa, já que pensamos mediante a linguagem e ainda mais mediante a linguagem esteticamente trabalhada.
Torna-se irresistível, assim, voltar (ou ir pela primeira vez) aos clássicos de Guimarães Rosa, que numa fusão maravilhosa de forma e conteúdo nos presenteiam com muito mais do que meras “estórias”, como ele gostava de definir.
Linguagem
Rosa utilizou a língua portuguesa como verdadeiro sujeito, pluralizou a racionalidade. E, diferentemente da grande literatura moderna, valorizou aquilo que simplesmente existe.