O estado é de abandono e o mau cheiro do esgoto habita os corredores da Faculdade de Artes Dulcina de Moraes. Em cenário de caos, a instituição sobrevive na base de incertezas. Há pouco mais de 15 dias, a instituição teve a energia elétrica cortada pela Companhia Energética de Brasília (CEB), em resultado de uma das dívidas que contraiu, no valor de R$ 85 mil.
Agora, sem luz, muitas disciplinas pararam de ser ministradas. O telefone da faculdade também está cortado. A universitária Erika Caroli teoricamente se formaria este semestre. Porém, com tantos problemas, não será possível a conclusão do curso. “A gente nunca sabe em quem acreditar porque sempre surge uma história diferente. Só conseguimos ter aula com a luz do sol. Quando a gente precisa usar o som, nos viramos com o celular mesmo”, comenta.
Formação
Bacharel em Artes Cênicas, ela e sua turma não têm local para apresentar trabalhos realizados em grupo. O Teatro Dulcina de Moraes encontra-se em péssimas condições, tomado pelo cheiro de mofo. As cortinas nunca foram trocadas e baratas passeiam livremente pelo local.
O piso do palco foi reformado, mas não há iluminação e sonorização adequada. “Está em estado caótico. O ar condicionado não funciona. As lâmpadas estão queimadas e as cadeiras viram leitos. Ao sentar, a pessoa acaba deitando porque estão quebradas”, lamenta Erika.
Interdição
Outra sala do espaço, a Conchita de Moraes foi interditada em 2011. Antes disso, para ser utilizada, os próprios alunos uniram forças para fazer um mutirão de limpeza no local. “Ficamos assustados com a quantidade de lixo que encontramos. Um rato passou pelo palco durante um dos ensaios”, diz.
Com muito custo, o ator Sérgio Dhubrann se formou ano passado na faculdade. “Não tínhamos coragem de beber água lá. A fiação e os encanamentos eram muito antigos. Esta situação é desestimulante para todos. Fazíamos tudo na raça”, lamenta. Sérgio ainda não conseguiu seu diploma e não pôde retirar seu Registro Profissional de Ator.
Professores não recebem salário
A professora Luciana Paiva ministra suas aulas na base do improviso. “Alguns alunos chegaram a trazer gerador de energia para ajudar”, explica. Com o pagamento há seis meses em atraso, os professores ainda permanecem na instituição.
Mediante a situação, o Ministério Público tomou algumas medidas e afastou os dirigentes da Fundação Brasileira de Teatro (FBT) responsáveis por administrar o financeiro da faculdade Dulcina. A atuação foi motivada pela constatação de irregularidades praticadas pelos dirigentes da FBT, tais como a falta de prestações de contas dos exercícios de 2010 e 2011, o não pagamento de salários aos empregados e a movimentação de recursos financeiros da entidade em contas pessoais dos administradores. Dois interventores já foram nomeados e devem ser empossados na FBT até o final da próxima semana.
Prejudicados
“O que queremos é fechar este semestre sem prejudicar os alunos. Estamos cumprindo todos os pré-requisitos pedagógicos na esperança de que o Governo do Distrito Federal assuma logo”, destaca Luciana.
“O processo de assunção da Faculdade Dulcina pelo GDF ainda não está finalizado, devendo ser concluído até o segundo semestre deste ano. Sobre os salários, a responsabilidade cabe à FBT”, explica o secretário de Comunicação, Ugo Braga.
Procurada pela reportagem do Jornal de Brasília, a Fundação Brasileira de Teatro não deu retorno até o fechamento desta edição.
Saiba mais
Com a pressão de alunos e professores sobre o estado da faculdade, o GDF informou que assumirá o projeto pedagógico da faculdade, tornando-a a primeira instituição pública distrital voltada exclusivamente para o ensino de artes. Mas, enquanto isto não acontece, a dívida só aumenta.