Por Larissa Barros
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Antes dos grandes shows, da areia e da euforia do público, o Na Praia já tinha um compromisso: ser diferente. Em 2015, no mesmo ano em que a ONU lançou os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), o festival dava início à sua própria jornada ESG, uma trajetória que transformou diversão em impacto e fez da sustentabilidade o centro de todo o espetáculo. Hoje, o Na Praia é reconhecido como o maior festival de sustentabilidade do mundo.
A história do Na Praia também é a história da R2 produções, que completa 20 anos em 2025 transformando ideias em experiências inesquecíveis. O festival, que começou com uma proposta inovadora à beira do Lago Paranoá, cresceu e se consolidou como um dos maiores casos de cultura, sustentabilidade e impacto social do país. Com ações como operação lixo zero, acessibilidade, uso de energia limpa e reflorestamento, o evento se tornou único, e atraiu marcas globais para compartilhar esta história.

Edu Azambuja, sócio do Na Praia e diretor de sustentabilidade, explica que, no início, tudo começou por uma questão de necessidade. “Precisávamos colocar uma grande quantidade de areia próxima ao lago, e para isso era obrigatória uma autorização ambiental. Na época, o grupo R2 ainda era pequeno, e não havia ninguém responsável por essa parte. Então, assumi a tarefa de conseguir essa autorização, para garantir que o evento fosse realizado sem causar impacto ambiental, como o risco da areia atingir diretamente o lago”, relembra.
“Coincidentemente, foi também o ano em que a ONU lançou os 17 ODS. Quando obtivemos a autorização, comecei a estudar os ODS e percebi que sustentabilidade ia muito além da questão ambiental. Até então, quando se falava em sustentabilidade, a maioria das pessoas pensava apenas na preservação de animais como a onça-pintada ou a baleia-jubarte. Mas os objetivos traziam temas como igualdade de gênero e redução das desigualdades sociais. Para a época, tudo isso era muito novo. O que começou como uma exigência técnica acabou se transformando em uma estratégia que hoje está no centro de tudo o que fazemos”.

As areias utilizadas no Na Praia foram doadas para parques e escolas públicas do Distrito Federal. “Muitas escolas, principalmente as da rede pública, receberam a areia que doávamos após o fim do evento”, conta Edu Azambuja. Um dos exemplos mais marcantes foi a reforma da creche da Vila Planalto, localizada no antigo terreno onde o festival era realizado. “Antes de sairmos de lá, queríamos deixar um legado positivo para a comunidade que, de alguma forma, foi impactada pela presença do Na Praia. Então, desde a primeira edição, já tínhamos essa preocupação de fazer algo diferente, algo que nos colocasse em uma posição de responsabilidade e que, no fundo, tivesse como objetivo fazer o melhor pelas pessoas e pelo mundo”.
Kallel Kopp, estrategista de sustentabilidade do Na Praia, conta que o festival sempre buscou ir além das metas básicas. “A gente gosta de zerar jogos, sabe? De alcançar o máximo possível em cada desafio. Nosso objetivo sempre foi esse, como ser, de fato, o melhor para o mundo naquilo que a gente faz.” Com orgulho, conta sobre os marcos já conquistados. “Nos tornamos o maior festival ‘lixo zero’ do mundo, e isso é algo que a gente fala com muito orgulho, o tempo inteiro. Batemos recordes impressionantes e, em alguns momentos, até deixamos de lado a eficiência econômica só para provar que era possível fazer diferente”, explica.

Segundo ele, o foco era mostrar que dava para ir além. “Como tratar o microlixo? Como lidar com papel higiênico de forma correta e consciente? A gente foi lá e zerou esse jogo. Mostramos que é possível, que dá pra fazer. Agora que já sabemos como funciona, podemos continuar sendo lixo zero, mas com mais equilíbrio”.
Hoje, os desafios que o festival encara são ainda maiores, e globais. “Agora a gente quer zerar novos jogos, que são desafios planetários e urgentes. Um deles é a equidade de gênero e o combate à violência contra a mulher. Isso não pode ser apenas inspirador, tem que ser uma obrigação. É inadmissível que, em 2025, mulheres ainda sofram violência apenas por serem mulheres”.
Kallel destaca iniciativas como o Conta Comigo, o Consiga Seguro e o apoio ao Instituto Glória como exemplos de ações que devem inspirar todo o setor de entretenimento. “A outra frente é o combate à fome. Ainda vivemos em um mundo onde os alimentos são mal distribuídos e muitas pessoas passam fome. Isso é inaceitável”, avalia.
Para chegar mais perto do objetivo, foi fundada a iniciativa “Fome de Música”, que segundo o estrategista o objetivo é de transformar essa boa prática do festival em uma política de impacto que chegue a todo o mercado de entretenimento. “A ideia é usar a potência dos artistas, dos palcos e dos espetáculos para comunicar, engajar e, principalmente, agir. O objetivo é simples, acabar com a fome”.

“A única forma de fazer algo realmente legal pelo planeta é entender qual é o seu impacto negativo. Quando percebemos que mandávamos lixo para o lugar errado, nos tornamos lixo zero. É assim com a crise hídrica, com a violência contra as mulheres, com o carbono, primeiro é preciso reconhecer o problema. Metrificar, comprovar, mostrar o que está sendo feito. Isso dá legitimidade. Mostra que é real. E quando esse impacto positivo é comprovado, ele deixa de ser apenas uma ação de caridade. Ele vira parte do modelo de negócio. Vira fonte de renda. Vira cor”, conclui.