O filme Tropa de Elite, lançado em 2007, conquistou sucesso entre policiais por ter valorizado a profissão com a história do Capitão Nascimento, do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Para as filmagens da continuação da saga do “herói-policial”, o diretor José Padilha escalou policiais de verdade para figurarem como membros do Bope em cenas de ação. Dentre os 80 selecionados de todo o Brasil, o Distrito Federal está representado em Tropa de Elite 2, que estreou sexta passada, por oito agentes da Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (DPOE).
Entre fevereiro e março deste ano, Cristiano Robert, Maiquel Anderson, Carlos Justino, Paulo Moura, Deidson Brian, Carlos Neto, Jackson Mariotini e Paulo Rogerio viajaram três vezes ao Rio de Janeiro para gravar cenas de conflito em favelas. Eles foram escolhidos dentre 600 policiais que enviaram seus currículos para a seleção realizada pelo C.A.TI / Swat, cujo pré-requisito era o curso de progressão em favelas, ministrado pela mesma empresa.
No Rio, nossos oito policiais vivenciaram de perto a produção de um dos filmes mais esperados do ano. Numa rotina intensa de ensaio e gravação, conviveram com os atores, passaram por zonas de risco e viveram “na pele o que um policial do Bope vive de verdade”, como contou Cristiano.
Segundo ele, o diretor Padilha fez questão de que desta vez não houvesse nenhum erro técnico nas operações do Bope no filme. “No primeiro filme, qualquer policial treinado notava erros técnicos dos figurantes e dos atores, como a maneira de segurar a arma”, afirma Cristiano, que assistiu ao Tropa de Elite nove vezes. “Acho que este segundo vai superar o primeiro e realmente valorizar nossa profissão”, opina. A produção do filme também cuidou para que nenhum material vazasse pelas mãos dos figurantes. “Não podíamos levar câmeras porque tinha fiscalização”.
Para participarem da continuação do filme do qual são fãs, os policiais trabalharam praticamente em um esquema de voluntariado. Bancaram as próprias passagens para irem ao Rio e se hospedaram em Bangu, no alojamento do Grupamento de Intervenção Tática (GIT). “A produção do filme oferecia alojamento para nós, mas era muito distante dos locais de gravação. Então preferimos ficar lá, com o grupo treinado e formado por nós”.
Apesar de serem militares, enquanto figurantes eram civis. “Como a gravação nas favelas era, de certa forma, uma operação de risco, a gente tinha uma equipe de segurança particular”, comenta Cristiano. Por isso, os chamados para as gravações no Rio eram feitos com pouca antecedência. “Eles nos ligavam para estar no Rio dois dias depois. Nunca tínhamos detalhes de nada. Os moradores das favelas também eram pegos de surpresa e durante uma das filmagens eles se assustaram e pensaram que o Bope estava mesmo subindo o morro”, relata. “Mas esse esquema de segurança foi necessário para não haver um assédio da população e para garantir que os bandidos não armassem algum atentado”, analisa.
Para Cristiano, o clima de realidade e tensão era rotina durante as filmagens, o que deve ter sido transmitido para o Tropa de Elite 2. “Em algumas cenas, enquanto a gente estava com armas falsas e os que interpretavam bandidos estavam com armas de madeira, os atores usavam armas de festim, que não mata, mas machuca. Por isso, os que eram bandidos ficavam ainda mais tensos, pois os tiros passavam perto”, revela.
Outra situação tensa vivida pelo grupo de Brasília ocorreu de madrugada. “O táxi que pegamos para ir à gravação em uma das favelas, por volta das 3h, errou o caminho e nos deixou no lugar errado. Quando vimos, estávamos perdidos e desarmados na madrugada no morro. Nossa sorte é que fomos resgatados pelo Bope”, recorda.