O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso abriu hoje a oitava Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), no estado do Rio, com uma análise da mistura social do país e comentários sobre o sociólogo e antropólogo Gilberto Freyre, o homenageado do evento neste ano.
FHC elogiou o conceito de “democracia racial” antecipado pela obra de Freyre (1900-1987), segundo o qual a população brasileira percebe e sofre as diferenças de classe e econômicas, mas não as derivadas das distintas raças que formam a sociedade.
“Freyre não nega a violência na escravidão, mas diz que os brasileiros conseguiram um equilíbrio entre contrários”, afirmou o ex-presidente que, apesar de criticar as posições conservadoras de Freyre, reconheceu que sua obra “ajuda a entender” a realidade do Brasil.
“Não sei se sou a pessoa mais indicada para falar sobre Gilberto Freyre”, ponderou FHC, mesmo depois de apontar o autor de “Casa-Grande e Senzala” (1933) como um dos que mais trabalhou durante seus estudos de Sociologia na universidade.
O ex-presidente dividiu a palestra de abertura da Flip com Luiz Felipe de Alencastro, professor de História do Brasil na universidade de Sorbonne.
A participação de FHC não esteve isenta de polêmicas e alguns escritores criticaram a abertura da Flip a figuras públicas que não pertençam estritamente ao âmbito literário.
Após a palestra inaugural, o público de Paraty aproveitou o show de abertura do evento, que este ano contou com Edu Lobo, Renata Rosa e Marcelo Jeneci.
A partir de amanhã e até domingo, a programação da Flip oferecerá mesas-redondas com escritores, filósofos e intelectuais de vários países, entre eles a chilena Isabel Allende e o anglo-indiano Salman Rushdie.