Ontem, o jovem artista Prince Belofá apresentou ao público seu primeiro álbum, “NEGUINHO”, um trabalho que alia ritmo, espiritualidade e política para retratar a vivência negra nas quebradas do Distrito Federal. Com o disco, o músico consolida seu lugar na cena independente e expande seu alcance para além das fronteiras do centro-oeste, em uma estreia marcada por autenticidade, lirismo e consciência crítica.
Composto por dez faixas, além de uma introdução e um interlúdio, o álbum levou três anos para ser finalizado, desde a concepção até a gravação e mixagem. Belofá define o trabalho como uma síntese de suas influências e experiências: “É afro trap e sampa rap, mas no fim das contas é um disco de rap. Rap pra caralho. Um disco que o Rappin Hood faria”, comenta, em tom bem-humorado.
Além das referências musicais, o disco é atravessado por espiritualidade e crítica social. Para o artista, o rap não pode ser dissociado de seus contextos político e cultural. “O rap não é só um ritmo. Não tem como isolar o rap de seu contexto social e de sua cultura como um todo. O rap é político. Costumo dizer que, assim como Exú é o dono das ruas, o rap, o hip hop é um movimento nascido nas ruas. É elementar. É importante pra mim fazer essa associação”, afirma.

Mosaico de vozes e vivências
“NEGUINHO” reúne participações de Marcelo Café, Nayê, Aggin, Isa Marques, Aqualtune e Layó, compondo um panorama de vozes que dialogam sobre identidade, resistência e afeto. As produções são assinadas por Noze, Piá The Kid, ZucaBeatz e Rubão, responsáveis por dar ao projeto uma sonoridade plural, que percorre do rap cru ao groove dançante, passando por trap, reggae e referências afro-diaspóricas.
Rubão, um dos produtores do disco, destaca a potência do artista: “Prince é aquele mano que é tipo porta-voz da cultura sem se esforçar. Ele tem uma fala e uma presença, e as ideias que ele passa nesse álbum também. Eu acredito que muita coisa ali é história pessoal, mas são vivências com as quais muitos neguinhos conseguem se identificar.”
A força do nome
Dar ao álbum o título “NEGUINHO” é, para o artista, um gesto proposital e carregado de camadas. Ele explica que a palavra assume sentidos distintos dependendo de quem a pronuncia: afetuosa na boca de familiares e amigos, ou ofensiva quando dita por pessoas brancas. “Em qualquer um dos casos isso é bom, porque abordo todos esses sentimentos no disco”, diz. A obra, portanto, atravessa o “neguinho” dito com carinho, o “neguinho” associado ao racismo e o “neguinho” que desperta alerta e afirma identidade.

Fã de samba e influenciado tanto por Racionais MC’s quanto por Alcione, Djonga e Jovelina Pérola Negra, Prince Belofá define sua sonoridade como uma fusão de afrobeats, rap e neo-samba. No álbum, essas referências se conectam a elementos percussivos, pontos de macumba e outras marcas da ancestralidade negra. O resultado é um álbum de atmosfera cinematográfica, que se constrói como uma trilha sonora da jornada do herói negro entre amores, crenças, vivências e desafios.