Menu
Música

O BANDEIRO ERASMO CARLOS

Tremendão foi “crooner” de Renato e Seus Blue Caps antes da Jovem Guarda

Gustavo Mariani

14/01/2024 10h12

Ed Wilson, irmão de Renato e de Paulo César Barros, decidiu tentar a carreira solo. Embora ele tocasse o violão-base, a vaga que abriu no conjunto Renato e Seus Blue Caps foi para um um crooner (cantor), na qual entrou Erasmo Carlos, que passou uma temporada e meia com o grupo.

Erasmo conheceu Renato durante o programa Clube do Rock que Carlos Imperial apresentava na TV. Para chegar até lá, ele foi apresentado, por um amigo dos dois, a Roberto Carlos, que não era da sua turma, da Rua Matoso, na Tijuca, mas estudava no mesmo colégio – Ultra, na Praça da Bandeira. Lá pelas tantas, o novo amigo foi à sua casa pegar a letra de um rock – Hound Rock – sucesso de Elvis Presley, para cantar no pré-show de Bill Halley e
Seus Cometas, no Maracanãzinho, e, de quebra, afinou o violão dele, que não sabia tocar, e tocou um pouco. Por fim, o convidou a aparecer na TV.
Entrosado com a rapaziada do rock que ia ao programa do Imperial, Erasmo formou grupo cantante – Os Snakes – com os amigos Trindade, Arlênio e China. Ninguém tocava violão. Por ali, Tim Maia lhe ensinou a fazer os acordes de lá maior, ré, dó e mi, e chamou Roberto Carlos para formarem o conjunto Os Sputnik, que chamavam os Snakes para acompanha-los nos vocais, barato rolou até os inícios de 1960, o fim dos Snakes, que gravaram pelo selo Mocambo, enquanto Roberto Carlos gravava um bolachão em 78 rotações para a Polydor.

Quando Roberto chegou à CBS, os Sakes fizeram vocais para a faixa Malena. Depois, Erasmo ouviu, com Bobby Darin, não entendeu nada, porque não falava inglês, mas resolveu fazer uma letras baseada no que a música lhe dizia. Renato fez as firulas de guitarra, Roberto gravou, com Renato e Seus Blue Caps, e a música fez a carreira do capixaba decolar, sendo tocada pelo dia inteiro nas lojas de discos do Rio de Janeiro.

Além do “Splish, Splash”, Erasmo já havia contribuído com “Eu quero twist”, de sua parceria com Carlos Imperial, para o primeiro LP – “Twist” – de Renato e Seus Blue Caps, cantada na gravação por Reynaldo Rayol, irmão de Agnaldo Rayol. Mais tarde, já fora do grupo, ele cantou, com a turma, Gatinha Manhosa e em Menina Linda, o sucesso que consagrou os Blue Caps, quando a banda que trocara a gravadora Copacabana pela CBS gravou o seu primeiro LP na nova casa – Viva a Juventude.
Em seus primeiros tempos com Renato e Seus Blue Caps, o repertório cantado por Erasmo Carlos não era só rock. Como eles faziam muitos bailes, rolava, também, boleros, para a moçada dançar de rostinho colado.


O interessante nessas história é que, embora tivesse sido parte de Os Snakes, que foram contratados pela CBS, esta gravadora não queria Erasmo como cantor-solo. O chefão da casa, Evandro Ribeiro, lhe disse: “Se já temos o Roberto Carlos, que canta no seu mesmo estilo, pra quê mais você?”. Recusado pela CBS – as gravadoras Odeon e RCA Victor também não o quiseram – Erasmo, então, procurou a RGE, que tinha em seu cast Chico Buarque e Maysa. Para ter o que mostrar a Benil Santos e Raul Sampaio, os homens que comandavam o selo, ele levou por referência o que havia gravado com Renato e Seus Blue Caps. Ganhou o emprego e gravou um compacto simples (vinil, na época), com Terror dos Namorados e Jacaré (como as pranchas de surf eram chamadas, de inicio, no Brasil). Chegado o momento de fazer o seu primeiro LP na RGE, em 1965 – A Pescaria -, Erasmo chamou Renato e Seus Blue Caps para acompanha-lo. Nesse ponto, Renato Barros contou uma história sacaníssima:

– O Erasmo (Carlos) havia incluído no disco uma música – Tom & Jerry -, do Getúlio (Cortes) e foi à representação do personagem pedir autorização para usar a imagem dos dois ratinhos na capa do LP. Tentou fazer parecer que seria promoção para os personagens figurarem na capa do seu dico. Então, o cara do escritório (de representação dos filmes da Metro Goldwin Mayer) que não o conhecia, bateu: “Acho que será promoção para o senhor, pois Tom e Jerry são conhecidos em todo o planeta. Já o senhor, estou conhecendo agora”.
O LP “A Pescaria” incluiu peças composta por Erasmo e Renato Barros – “Beatlemania”, que teve música do segundo e letra do primeiro. Era um chegas pra lá nas garotas qe só queriam saber dos Beatles. Confira: “Vou acabar com a beatlemania/ Que atacou o meu bem/ É a ordem do dia/ Cabelo comprido/Nunca foi prova de ser mal/Se eu não puder na mão/ Eu brigo até de pau/Podem vir todos quatro/Que eu não temo ninguém/Só não quero que fique/Alucinando meu bem/Tenham calma amigos/A paz vai voltar/Pois com a beatlemania/Eu prometo acabar”.

Certa vez, Erasmo declarou que os Beatles eram o modelo para a sua patota só em termos de vestuário (terninhos com quatro botões), calçados (botinhas) e cabelos compridos, pois a moçada tinha influências mesmo era do rock´n´roll surgido antes deles. Confessava-se, assumidamente, alienados por aquela época e que gostava alienação dos rapazes de Liverpool, ao ponto de imitá-los em entrevistas à imprensa, com respostas desconcertantes, para perguntas tipo “o que achava da guerra no Vietnam”, respondendo: “Tem, guerra no Vietnam? Não me avisaram”.

Enquanto Renato e Seus Blue Caps gravaram várias versões dos Beatles, feitas pelo Renato e o seu irmão Paulo César, todas com muito sucesso, Erasmo Carlos só fez versão de uma beatlemaníaca – We said today. Isso porque, segundo Gélson Morais, que foi baterista da banda, Erasmo se ligava muito mais no rock norte-americano, deixando os ingleses em segundo plano.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado