A trajetória do MPB4 é, por si só, uma linha do tempo viva da música popular brasileira e de suas interseções com a política e a sociedade. Em 2025, o grupo celebra seis décadas de carreira com o álbum MPB4 – 60 Anos de MPB, lançado pela gravadora Biscoito Fino, e fará shows neste final de semana na Sala Martins Pena, no Teatro Nacional.
Com participações de nomes como Chico Buarque, Milton Nascimento, Paulinho da Viola, Edu Lobo, João Bosco, Guinga, Ivan Lins, Toquinho, Kleiton & Kledir, Francis Hime, Dori Caymmi e Alceu Valença, o novo disco também celebra os 60 anos da própria sigla “MPB”, expressão que nasceu em 1965 e foi popularizada pelo grupo, tornando-se sinônimo de um repertório que alia sofisticação musical e engajamento social.
“Acho que o MPB4 se confunde com a história da música brasileira e se confunde com a história política brasileira”, afirma Dalmo Medeiros, integrante do grupo. “O forte do MPB4 continua sendo esse repertório calcado nesse texto mais político.”
Legado político e musical
Desde a formação original, o MPB4 se destacou por um repertório afinado com o contexto político do país. Durante a ditadura militar, o grupo foi porta-voz da resistência cultural, em parcerias marcantes com Chico Buarque e outros compositores de linguagem crítica e refinada. Dalmo lembra que a virada para um repertório mais lírico aconteceu no disco Vira Virou, mas sem que o engajamento fosse deixado de lado.
“O grupo começou em 65 e sempre teve uma característica política forte, procurando autores que tivessem um texto mais político.” Essa coerência, afirma o cantor, é o que ainda sustenta o reconhecimento do grupo em meio a tantas transformações da cena musical.
Novos projetos e reencontros
Os últimos anos têm sido especialmente ativos para o quarteto formado por Aquiles Reis (voz), Dalmo Medeiros (voz e viola), Miltinho (voz, violão, direção musical) e Paulo Malaguti Pauleira (voz, teclado, direção musical). Após o lançamento do álbum de inéditas O Sonho, A Vida, A Roda Viva em 2016 e do registro ao vivo MPB4 50 Anos Ao Vivo, o grupo recebeu sua quarta estatueta do Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Grupo de MPB.
Vieram então uma série de projetos especiais, como os shows O Som da Palavra (com o Duo Gisbranco, centrado na obra de Milton Nascimento e Fernando Brant), Você Corta Um Verso, Eu Escrevo Outro (com músicas censuradas na ditadura), e O Samba Bate Outra Vez (releitura de sambas do repertório do grupo). Também manteve a turnê Toquinho, Ivan Lins e MPB4, que percorreu o Brasil por quase uma década.
A pandemia de COVID-19 interrompeu temporariamente os shows ao vivo, mas não a produção artística. O grupo manteve apresentações virtuais em seu canal no YouTube e lançou o projeto Bate Boca, ao lado do Quarteto em Cy. Também promoveu uma série de 30 entrevistas com artistas, produtores e colaboradores históricos, incluindo Chico Buarque, Ivan Lins, Toquinho, e Kleiton & Kledir.
Encontros marcantes e palco internacional
Em 2022, o grupo estreou um show ao lado de Kleiton & Kledir, parceria que resgata mais de três décadas de afinidade musical e segue em turnê. “Estamos na estrada já há um tempo com a dupla. Eles fazem parte da nossa história e nós da deles”, comenta Dalmo.
Em 2023, o MPB4 levou sua música a Portugal, com apresentações ao lado de João Bosco no Porto e em Lisboa, além de um show solo no Casino de Estoril. No ano seguinte, participou de um concerto especial com a Orquestra Petrobras Sinfônica, na Cidade das Artes, com arranjos de Jaime Além, Itamar Assiere, Paulo Malaguti Pauleira e Gilson Santos.
60 anos de invenção e afeto
O álbum MPB4 – 60 Anos de MPB é mais do que uma celebração de datas redondas. É também testemunho de um grupo que nunca deixou de se renovar. “Novos sonhos, novos projetos sempre existirão”, diz Dalmo. “De vez em quando a gente pensa em cantar só sambas, ou fazer algo com outros artistas. Seguimos a estrada com as canções que fizeram a nossa história.”
Entre discos comemorativos, shows conceituais e parcerias longevas, o grupo se mantém em constante movimento, sempre guiado por uma ideia clara: a música como linguagem política, afetiva e coletiva.
“Sempre tem um projeto novo a caminho. O MPB4 tem essa marca de estar sempre bolando algo.” E seis décadas depois, essa inquietude é o que mantém o grupo afinado com o seu tempo sem jamais desafinar com sua história.
MPB4 60 Anos de MPB
Quando: 25, 26 e 27 de Julho, sexta-feira, sábado e domingo
Onde: Sala Martins Pena – Teatro Nacional Claudio Santoro (Via N2, Eixo Monumental, Setor Cultural Norte, Asa Norte, Brasília-DF)
Horários: Sexta-feira às 21h; Sábado às 21h; Domingo às 19h.
Acesso/Show de Abertura: 1 hora antes do MPB4
Duração: 2h30min
Classificação: 12
Ingressos pelo site