SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)
Hayley Williams nunca havia feito sucesso de verdade fora da banda Paramore, que a lançou ao estrelato há 20 anos. Até agora. Seu terceiro disco solo, o “Ego Death at a Bachelorette Party”, finalmente a tirou debaixo da sombra do grupo de rock, que, embora tenha lugar na memória dos fãs, já não tem o impacto de outrora.
Mesmo que não tenha conseguido emplacar um hit, pela primeira vez Williams recebeu indicações ao Grammy por um projeto só dela. Foram quatro, mais do que ela já recebera numa tacada só por um disco do Paramore, nas categorias de álbum alternativo, performance de música alternativa, canção de rock e performance de rock. As nomeações, dadas na semana passada, atestam a fase mais celebrada da artista, que parece pouco pensar em sucesso comercial agora.
“Sempre defendi a banda, mas muitas vezes deixei de seguir minha intuição, especialmente agora, com 30 e poucos anos”, diz ela, por videochamada. “Sou teimosa e luto pelos outros mais do que por mim mesma. Estou tentando mudar isso.”
Hayley tem 36 anos, e começou a carreira na adolescência, aos 14. Vocalista do Paramore, ela encontrou apelo em um contingente de adolescentes que sentiam falta de um rock mais pop, mas não menos intenso, sobre temas da juventude, como insegurança, identidade e relações conturbadas. O grupo cativou mais ou menos a mesma galera que ia à escola ouvindo Avril Lavigne e Evanescence.
Sua carreira solo começou em 2020, com o álbum “Petals for Armor”, e seguiu no ano seguinte com o “Flowers for Vases / Descansos”, nenhum tendo feito muito barulho fora da bolha.
À frente do Paramore, Hayley lançou seis álbuns, o primeiro, “All We Know Is Falling”, em 2005, e o último, “This Is Why”, há dois anos, cuja turnê passou pelo Brasil. Entre os hits estão o rock “Misery Business”, a melosa “The Only Exception”, e “Decode”, da trilha sonora do filme de vampiros “Crepúsculo”, que impulsionou o sucesso da banda em 2008.
Mas o grupo vem passando por uma aparente crise. No fim de 2023, eles desativaram seu site, fizeram um apagão nas redes sociais, e meses depois cancelaram shows sendo um no Lollapalooza, em São Paulo, o que suscitou rumores sobre o grupo acabar.
Hayley diz que isso não vai acontecer, mas é evasiva ao falar do futuro. “O Paramore é como uma barata, nunca deixará de existir, nem no fim do mundo. Descobrimos há muito tempo que não podemos matá-lo, e isso me deixa em paz porque por muito tempo eu ficava tentando provar que viemos para ficar. E nós provamos. Mas não sei o que vem aí para a banda. Pela primeira vez, estou bem em não saber o futuro.”
Notar que agora deu certo sem os parceiros, o guitarrista Taylor York e o baterista Zac Farro, pode motivar Hayley a seguir mais tempo sem eles. Fortalece essa tese o rumor de que ela teria terminado com York, de quem é namorada há alguns anos.
A especulação surgiu graças ao novo disco. Fãs encontraram na canção “Parachute”, uma das indicadas ao Grammy, sinais de que a vida amorosa da cantora não vai nada bem.
“Pensei que você fosse me segurar/ nunca parei de me apaixonar por você/ agora entendo melhor/ nunca me deixe sair de casa sem um paraquedas”, Hayley canta, com a voz embargada.
Na entrevista, ela confirma que é uma canção de término, mas diz que “não quer entrar demais no mundo do Paramore”, sugerindo que há mesmo uma relação entre a letra e alguém da banda.
“É natural as pessoas especularem, mas prefiro não me explicar demais porque essa é a magia da composição. Eu, por exemplo, não quero saber os detalhes mundanos das músicas que gosto de ouvir. Quero escutá-las e acreditar no que eu quiser”, Hayley diz.
“Preciso proteger minha sanidade, minhas memórias e minhas experiências. Essa é a tensão que existe entre ser uma compositora confessional e alguém que está aprendendo a lidar com a percepção pública.”
Este é mesmo um disco repleto de confissões. Em “Negative Self Talk”, Hayley narra as aflições que a ansiedade lhe causa. Fala de saúde mental também em “Mirtazapine”, nome em inglês de um antidepressivo. Noutra faixa, “Kill Me”, me mate em português, ela se lamenta de ter herdado os tormentos da avó.
“Agora penso mais no que me importa como pessoa, não como parte de uma gangue. Com este álbum, olhei para a mim mesma mais jovem e falei está tudo bem, você pode errar.”
Um destes erros foi assinar com a gravadora Atlantic Records no começo da carreira, quando Hayley era adolescente e não sabia o peso do contrato, um daqueles que mina a autonomia do artista. Ela e o Paramore ficaram presos ao acordo, até dois anos atrás. “Um monte de desgraçados que deixei ricos”, ela canta agora em “Ice in My OJ”, no que parece uma referência a essa dor.
“Mas ainda estou tentando descobrir como me mexer nessa indústria, que é muito complicada mesmo quando você está tomando as decisões”, diz a roqueira.
Ego Death at a Bachelorette Party
Autoria Hayley Williams
Gravadora Post Atlantic
Onde ouvir Nas plataformas digitais
Hayley Williams diz por que se descolou do Paramore com disco sobre confissões
Seu terceiro disco solo, o “Ego Death at a Bachelorette Party”, finalmente a tirou debaixo da sombra do grupo de rock
Foto: Reprodução