Menu
Música

Folha indica os melhores álbuns de 2025, segundo críticos e jornalistas

A Folha de S.Paulo convidou sete profissionais especializados em música para listar os cinco melhores álbuns que ouviram este ano

Redação Jornal de Brasília

25/12/2025 11h54

Foto: Divulgação

AMANDA CAVALCANTI, ANDRÉ BARCINSKI, FELIPE MAIA, GUILHERME LUIS, SIDNEY MOLINA E THALES DE MENEZES
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)

O ano de 2025 na música foi marcado por nomes como Bad Bunny e Rosalía desbancando a música anglófona, que em geral domina a indústria tanto nos números quanto na preferência da crítica. No Brasil, se destacaram artistas novos e veteranos, nomes conhecidos e outros menos falados.

A Folha de S.Paulo convidou sete profissionais especializados em música para listar os cinco melhores álbuns que ouviram este ano. O resultado é uma seleção diversificada, que transita pelo pop, tecnobrega, funk, rap, rock, música clássica e MPB, entre outros estilos.
Confira a lista completa abaixo.

VEJA AS INDICAÇÕES DE CADA CONVIDADO
*
AMANDA CAVALCANTI
Jornalista especializada em música
Novo Testamento
Ajulistacosta. Gravadora: Independente
Este não apenas foi o ano em que a rapper de Mogi das Cruzes Ajuliacosta caiu nas graças do pop brasileiro, colaborando com Duda Beat e Ludmilla, mas também foi o ano em que ela lançou seu trabalho mais impactante até aqui. “Novo Testamento” é exatamente o que o nome sugere: apesar da influência de medalhões do rap nacional, com beats no estilo boom bap e parcerias com KL Jay e Nave Beatz, Julia reescreve as regras do gênero neste disco que é tanto um conto pessoal quanto um manifesto público.

Debí Tirar Más Fotos
Bad Bunny. Gravadora: Rimas Entertainment
De 5 de janeiro para frente, o ano foi dele. É difícil achar algo para dizer sobre “Debí Tirar Más Fotos” que ainda não tenha sido dito, mas é mais difícil ainda encontrar um disco que tenha sido mais influente, inspirador e dançante do que a história de Bad Bunny e seu reencontro com sua terra natal, Porto Rico. Na antecipação de sua primeira passagem pelo Brasil, que vai acontecer em fevereiro, o disco soa ainda mais bonito.

Rock Doido
Gaby Amarantos. Gravadora: Deck
Quem acha que o hyperpop nasceu em Londres certamente nunca foi a Belém. O ritmo de sensibilidade pop, que leva nome de rock mas na verdade é brega, é o objeto de estudo de Gaby Amarantos nessas 22 faixas que se atropelam como num set de aparelhagem paraense. De quebra, ainda carrega as melodias mais chicletes de 2025.

Sem Esperança
Deaf Kids e Test. Gravadora: Cospe Fogo Gravações
Numa colaboração que já vinha borbulhando há anos, os quatro músicos comemoram os 15 anos de suas bandas fundamentais para o metal e noise brasileiro da última década. São dez faixas que soam diretas, mas não retas. A percussão de Barata e Sarine brilha por cima das guitarras dissonantes e vocais enterrados, recriando em estúdio a atmosfera de improvisação dos shows que os músicos fazem em conjunto há anos.

Root Echoes
DJ Babatr. Gravadora: Hakuna Kulala
Se a cena de club music latina está explodindo dentro e fora do Brasil -com nomes como Nick León, Clementaum e Wost, só para citar alguns dos artistas que tiveram destaque neste ano-, grande parte disso se deve ao venezuelano DJ Babatr. Um dos criadores do que veio a ser conhecido como “raptor house”, o artista, que começou em Caracas nos anos 2000, ficou longe da música por 14 anos até ser convidado por León a gravar a colaboração “Xtasis” em 2022. “Root Echoes” expande e resume sua paleta sonora de hard techno, tribal e trance, que encontra reflexões em pistas por todo o mundo -da rave paulistana Mamba Negra aos festivais internacionais como Sónar e Unsound.

ANDRÉ BARCINSKI
Jornalista, crítico e roteirista
Death Hilarious
Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs. Gravadora: Rocket Recordings
Imagine o Melvins fazendo covers do Emerson Lake & Palmer, com passagens quebradas como o Gang of Four. Denso, épico e viajante. Essa banda inglesa é tudo que o Idles almeja ser.

It Was the Moment
Michelle Gurevich. Gravadora: Independente
Gurevich é uma crooner do submundo ao estilo de Tom Waits, Leonard Cohen e Marianne Faithfull, fazendo uma música de cabaré extremamente erótica e misteriosa. Acho incrível que ela não seja mais falada por aí.

Instant Holograms on Metal Film
Stereolab. Gravadora: Warp Records
O 11º disco, primeiro em 15 anos, dessa banda única liderada pelo britânico Tim Gane (guitarra) e pela francesa Laetitia Sadier (vocais, teclados). Nada mudou no planeta Stereolab, que continua entortando o pop francês dos anos 60, a bossa nova e os ritmos repetitivos do krautrock do Neu, criando um som que é só deles.

Po$t American
Dead Pioneers. Gravadora: Independente
Projeto musical de Gregg Deal -pintor, escultor, grafiteiro, artista performático-, que vem marcando seu nome por trabalhos fortes e impactantes sobre a experiência indígena nos Estados Unidos. Dead Pioneers resgata o hardcore político do Dead Kennedys e o pós-punk torto do Minutemen. Um discaço.

The Bad Fire
Mogwai. Gravadora: Rock Action Records
O 11º LP do grupo veterano grupo escocês de post-rock que continua sua incansável missão de fazer música linda e sem letras, explorando camadas em cima de camadas de guitarras e teclados. Para os padrões do Mogwai, até que “The Bad Fire” é um disco bem comercial.
FELIPE MAIA
Jornalista e etnomusicólogo

Bruxaria Não É Phonk
Halc DJ. Gravadora: Hino dos Bailes
O funk de rua de São Paulo há alguns anos têm sido uma das bússolas da música eletrônica mundial. Na capital, o gênero se renova nas favelas, pequenos estúdios e celulares de artistas como Dayeh, D.silvestre, RD da DZ7 e LK da VB. Halc DJ é um desses nomes. Em seu disco, ele une com originalidade a potência sonora da zonas oeste e sul, de bailes como DZ7 e Helipa, à audácia rítmica das zonas leste e norte, caso dos bailes da Caixa d’Água, Marcone e 12 do Cinga. Muitas dessas festas têm sido alvo de uma repressão oficial movida a pânico moral e demagogia, a chamada “CPI dos Pancadões”. Pena para eles. Apesar de sufocado, o funk segue vivo.

Futuro Cercano
Valesuchi. Gravadora: Discos Nutabe
Música feita com barulhos, sintetizadores, senóides, fios, cabos, tomadas, energia elétrica de amperagem e voltagem. Em seu segundo disco, a produtora e DJ Valesuchi busca as formas mais prístinas do fazer musical eletrônico para nos mostrar um amanhã. É um futuro próximo, palpável, uma alternativa à inteligência artificial tosca, ao “type-beat” pastiche, à música básica incensada como revolucionária pela aliança de indústria e redes sociais. Em faixas que vão do apoteótico jogo de arpejos de “G” ao funk minimalista “Fortune”, a artista subjuga a máquina para convidar o humano a dançar.

Debí Tirar Más Fotos
Bad Bunny. Gravadora: Rimas Entertainment
Em 2022, esta lista já dava Bad Bunny como um dos nomes do ano. Em 2025, ele o faz de novo. Benito abraçou o mundo a partir de sua pequena ilha em “Debí Tirar Más Fotos”. O disco é mais que latino -é caribenho. É no cruzamento insular que tanto deu à música que o artista conquistou o planeta. Lançando mão de um rico dicionário de claves, líricas e harmonias -salsa, plena, bomba-, ele transforma o reggaeton em pop complexo e indefectível. Demorou a pegar por aqui, e seu sucesso nos Estados Unidos -para o terror de Donald Trump- colaborou. Mas agora não tem jeito, o coelho mau vem em 2026. Quem falava de uma tal barreira linguística queimou a língua.

Amor de Encava
Weed420. Gravadora: Independente
“Essa é a internet, eu sou seu guia.” A frase é um meme algo datado, mas não menos futurista -ao menos nas mãos dos jovens do Weed420. Desterrados do seu próprio país, a Venezuela, os artistas do grupo imaginam um mundo de música latino-americana entre onirismo digital e paisagens sonoras ruidosas. A bordo de uma “encava”, ônibus que circulam por cidades venezuelanas, eles viajavam entre joropos e vallenatos, músicas bregas e populares, e juntam as sucatas de baterias de jungle, locuções de rádio, buzinaços e até algum funk. É como ouvir um novo Akira, dessa vez nascido em uma neo-Caracas, em um jornada do tipo “Diários de Motocicleta” rumo às entranhas da América do Sul.

Melodia&Barulho
Mauí. Gravadora: Deck
Brasil e Jamaica há décadas tecem uma frondosa malha musical, seja no arco do Recôncavo que vai de Cachoeira a Salvador, seja nas radiolas ludovicenses e nos sistemas de som do interior do Maranhão, entre outros. Mauí, carioca de Duque de Caxias, nos apresenta outra dessas trilhas em “Melodia&Barulho” -é a via da canção e da rima brasileiras com dancehall, drum’n’bass, reggae, uma triangulação que ecoa tanto a ilha quanto sua diáspora em Londres. Aliado a beatmakers e DJs que vêm definindo a novíssima música eletrônica brasileira -nomes como Taleko, Linguini, Jacquelone, Chediak- e toasters (MCs) nacionais como Kabrum e Afrodite Bxd, o jovem de voz de veludo e caneta de cronista faz na sua estreia um disco verde, amarelo e negro.

GUILHERME LUÍS
Jornalista da Folha
Lux
Rosalía. Gravadora: Columbia Records
Com Rosalía, o raio cai no mesmo lugar uma, duas, quantas vezes forem necessárias. Seu “Lux” é apoteótico mas singelo, tudo na medida certa, uma verdadeira luz na mesmice que vinha se alastrando pelo ano.

Ego Death at a Bachelorette Party
Hayley WIlliams. Gravadora: Post Atlantic
Difícil imaginar que a vocalista do Paramore se sairia melhor fora da banda. Mas foi isso mesmo. Seu terceiro disco solo é melhor que os últimos que ela lançou com o grupo, seu trabalho mais íntimo até então, uma união poética e muito bem produzida dos seus traumas juvenis e dos dramas de mulher adulta.

Something Beautiful
Miley Cyrus. Gravadora: Columbia Records
A maior diva pop lançada pela Disney chega ao seu auge justamente ao se afastar do pop plastificado que fez -muito bem- no megahit “Flowers”, há dois anos. Aqui, Miley eleva sua eterna vontade de experimentar, e apresenta um disco dançante, bem escrito, e superelegante.

Mayhem
Lady Gaga. Gravadora: Interscope Records
Não é o melhor disco de Gaga, mas é a forma mais precisa de resgatar o melhor que ela já fez. Com ares de “Born This Way”, o “Mayhem” reempacota o seu dark pop dos anos 2010 com um toque de atualidade, umas boas batidas eletrônicas, e muita atitude no vocal.

Coisas Naturais
Marina Sena. Gravadora: Sony Music
Há anos Marina Sena domina o pop brasileiro, e com o “Coisas Naturais” ela reafirma seu jeito único de fazer música fácil, mas bem pensada, com um texto poético, mas não cabeçudo. Destaque também para o “Marinada”, minidisco de verão que ela acaba de lançar.

ISABELA YU
Jornalista
Black Star
Amaraae. Gravadora: Golden Angel/Interscope Records
Dividida entre os Estados Unidos e Gana, a artista resgata a história da música de pista entre continentes, onde house, R&B e funk se entrelaçam em um complexo mosaico sonoro. Na coprodução das músicas, ela contou com os brasileiros Deekapz, Maffalda e MU540, o espanhol El Guincho e mais uma porção de feats -entre eles Bree Runway e PinkPantheress.

KM2
Ebony. Gravadora: Independente/Altafonte
Menos pop que o antecessor, “Terapia”, de 2023, o trabalho leva a rapper de volta pra casa -não à toa o nome, apelido da cidade de Queimados, na Baixada Fluminense. Nas faixas, a artista versa sobre saúde mental, divide inseguranças e reflete sobre as angústias da vida.

Rock Doido
Gaby Amarantos. Gravadora: Deck
Com um cardápio vasto de bordões nas letras -de mandar foguinho pro crush a botar a blusa cropped pra jogo-, o álbum leva o espírito dançante e irreverente das aparelhagens. Nas músicas, a cantora une diferentes gerações da música eletrônica paraense -Gang do Eletro, Viviane Batidão, DJ Méury e Baby Plus Size.

Big Buraco
Jadsa. Gravadora: Risco/Altafonte
O segundo álbum da compositora baiana traz uma rica paleta sonora -em “Sol na Pele”, por exemplo, o groove do baixo se alterna com scratches, tudo isso enquanto ela canta sobre amor e faz referência a Caetano Veloso e Olodum. Por aqui, a MPB de Jadsa bebe da vanguarda paulista, do hip hop e do jazz.

Moisturizer
Wet Leg. Gravadora: Domino Recording
Ao longo das músicas, a banda demonstra a força de se mostrar vulnerável. As ironias e referências à cultura pop, que fizeram o grupo chamar atenção na estreia, em 2022, ainda estão lá, mas há a segurança de quem sabe que ocupa uma posição de destaque na nova geração do rock britânico -claro, sem levar tudo isso muito a sério.

SIDNEY MOLINA
Crítico, professor e violonista
Os Guardiões da Magia
João Luiz. Gravadora: Rocinante
Lançado também em vinil, o álbum traz a produção recente do cubano Leo Brouwer, de 86 anos -o mais importante nome vivo da composição para violão- nas mãos do violonista brasileiro João Luiz, a quem o compositor dedicou duas das obras gravadas.

Lux
Rosalía. Gravadora: Columbia Records
Imanência e transcendência trabalhadas com forte sentido autoral conduzem o pop experimental de Rosalía à maturidade plena. Atenção para os arranjos de Caroline Shaw e, claro, para as participações de Carminho e Björk.

50 Ponteios de Camargo Guarnieri
Karin Fernandes. Gravadora: Selo Sesc
A pianista aborda com categoria a integral de um dos mais importantes ciclos brasileiros para o instrumento. Escritos entre 1931 e 1959, os “Ponteios” de Guarnieri são “prelúdios” artesanalmente elaborados, dignos de figurar ao lado de Chopin e Debussy.

Sinfonias nº 13 e nº14 de Claudio Santoro
Orquestra Filarmônica de Goiás dirigida por Neil Thomson. Gravadora: Naxos
A cada novo lançamento do projeto dedicado à integral sinfônica do compositor amazonense pela Filarmônica de Goiás revela-se a qualidade deste que talvez tenha sido o mais importante sinfonista do país.

Lembrando Garoto
Cristóvão Bastos, Romero Lubambo e Mauro Senise. Gravadora: Biscoito Fino
Nos 70 anos da morte do genial compositor Anibal Augusto Sardinha, o Garoto, Cristóvão Bastos (piano), Romero Lubambo (violão e guitarra), Mauro Senise (sax e flauta) exploram o potencial de seus temas para a improvisação.

THALES DE MENEZES
Jornalista
From the Pyre
The Last Dinner Party. Gravadora: Universal Music
O quinteto feminino britânico não se contentou em gravar o melhor álbum de 2024, “Prelude to Ecstasy”, sua estreia. Já emendou logo o disco mais empolgante de 2025. “From the Pyre” é outro coquetel de pop sofisticado como seu antecessor, mas desta vez menos adolescente. Se antes a vocalista Abigail Morris era o dínamo do Last Dinner Party, com a melhor voz roqueira em muitos anos, agora a guitarrista Emily Roberts toma realmente o controle sonoro. Só tem hit, como “Second Best”, “Woman Is a Tree” e “The Scythe”.

Again
The Belair Lip Bombs. Gravadora: Third Man Records
O segundo álbum da banda australiana saiu pelo selo criado por Jack White. É mais um acerto do ex-White Stripes, que leva para o resto do mundo o rock urgente do quarteto liderado pela vocalista e guitarrista Maisie Everett. Apesar do título do álbum remeter à repetição, o grupo avança bastante em relação ao trabalho de estreia, que já tinha feito barulho. Canções como “Hey You” e “Cinema” mostram que o rock está vivíssimo na Austrália com The Belair Lip Bombs.

Something Beautiful
Miley Cyrus. Gravadora: Columbia Records
A badalação é menor em relação ao novo e supervalorizado álbum de Taylor Swift, mas nesta temporada Miley Cyrus venceu a disputa fonográfica das divas. “Something Beautiful” é um dos álbuns pop mais bem feitos da história. Impressionante. Talvez demore algum tempo, muito tempo até, mas vai ser reconhecido como uma pérola pop. Não tem uma música ruim. Miley dispara sua voz rouca em baladas, canções que são quase rock e flertes com a disco music.

No Hard Feelings
The Beaches. Gravadora: AWAL
Demorou, mas, no terceiro álbum, o quarteto feminino canadense finalmente conseguiu levar ao estúdio a mistura criativa de rock, pop, fúria e deboche que já tinha transformado The Beaches num dos shows mais incendiários do planeta. E foi necessário um megahit, “Can I Call You in the Morning?”, para colocar a banda no topo sem que as garotas tivessem que abrir mão de sua atitude safada e da militância lésbica que dominam as ótimas entrevistas do grupo.

Novo Rumo
Arnaldo Antunes. Gravadora: Rocinante/Três Selos
Passou a pandemia, veio o disco e a longa turnê com o pianista Vitor Araújo, e depois o reencontro dos Titãs em grandes arenas. Já estava na hora de Arnaldo Antunes fazer outro álbum solo bacana. E “Novo Rumo” aparece soando como um disco de banda, um disco de grupo de rock. Mas vai muito além, misturando pop, experimentalismos e até um flerte com samba. E tem participação de David Byrne, uma das fontes de inspiração de Arnaldo. Um álbum para ouvir alto.

Especiais

Não há lightboxes disponíveis.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado