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Música

Cézar Mendes, violonista admirado por João Gilberto e Caetano, faz turnê própria

O espetáculo, batizado de “Depois Enfim”, já passou por Salvador, Rio de Janeiro e agora chega a São Paulo, no Bona, onde ele se apresenta nesta quinta e sexta-feira

Redação Jornal de Brasília

15/08/2024 16h27

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Foto: Fred Siewerdt/Divulgação

LEONARDO LICHOTE
RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS)

Parceiro de artistas como Caetano Veloso e Arnaldo Antunes, gravado por intérpretes como Gal Costa e Marisa Monte, vencedor de um Grammy Latino como compositor, o santamarense Cézar Mendes é admirado por seus colegas e tem um punhado respeitável de canções. Apenas em fevereiro deste ano, porém, ele estreou um show seu.

O espetáculo, batizado de “Depois Enfim”, já passou por Salvador, Rio de Janeiro e agora chega a São Paulo, no Bona, onde ele se apresenta nesta quinta e sexta-feira.

Perguntado sobre porque decidiu levar ele mesmo suas canções ao palco, Mendes responde meio brincando, meio a sério: “O compositor está passando fome, meu querido. Você não subiu no palco, não ganha dinheiro”. Na sequência, ele avança em outros motivos para a estreia tardia. “Eu precisava ter segurança, fazer canções que eu tivesse vontade de cantar”.

Sua primeira plateia contribuiu enormemente para afastar dele qualquer insegurança. “Quando me convidaram para fazer o show na Casa Rosa [em Salvador], eu pedi a Caetano para me ajudar a montar o roteiro, o que ele faz melhor do que ninguém”, diz Mendes.

“Uma noite ele foi no meu quarto para ouvir o que eu estava preparando. Sentou e eu comecei a tocar. Quando vi, ele estava chorando. Disse: ‘Eu nunca tinha ouvido você tocando suas músicas assim, juntas'”.

O roteiro inclui a primeira canção composta por Mendes, exatamente com Caetano: “Aquele Frevo Axé”, que batizou um álbum de Gal.

Mendes já tocava violão desde menino, e era conhecido como professor do instrumento -já deu aulas para Maria Bethânia, Bem Gil e Moreno Veloso, entre outros. Mas não se via capaz de compor. “Eu achava tão poucas notas, parecia que era tudo tão repetido”, lembra o artista.

Foi Paula Lavigne quem o sugeriu fazer uma música com Caetano, em 1997. “Falei pra mim mesmo: ‘Você tá louco, cara?’ Eu nunca tinha feito nada. Mas aí entrei num ônibus pra Itapuã e quando cheguei no meio do caminho, a melodia estava pronta, inteira”.

Desde então, tem sido assim com Mendes. O compositor de 73 anos não tem nenhuma disciplina em seu ofício, apenas recebe a inspiração quando ela chega.

“O Roberto (Mendes, seu irmão) senta no cantinho dele ali todo dia e faz três, quatro músicas. Eu não consigo. A minha vem quando ela vem”, sintetiza.

Suas melodias carregam mesmo uma beleza de apelo direto e ar de standard, como se estivessem por aí há muito tempo mesmo quando você as ouve pela primeira vez. Sem malabarismos, com “poucas notas”, como ele diz. “São primas”, brinca ele.

Os letristas – além dos citados Caetano e Arnaldo, a lista inclui Ronaldo Bastos, Tom Veloso, Marisa Monte, José Carlos Capinan e Zélia Duncan, entre outros – deitam seus versos ali com um conforto que chega ao ouvinte. Não há arestas. “São melodias redondas”, resume o compositor.

“Você não pode fazer melodia se não conhece Cole Porter e Carlos Lyra. É o mínimo”, diz Mendes, apontando duas referências centrais de sua música.

Como músico, ele tem experiência e já fez turnês com Adriana Calcanhotto e Tribalistas. Mas como artista principal, novato, a situação é diferente. A cada show, quando o nervosismo bate, ele lembra o porquê demorou tanto em se lançar na aventura de um show próprio.

“Quando dá o terceiro sinal, eu passo mal, vomito”, diz. “Na noite anterior não durmo, é uma desgraça”. Mas o prazer compensa. “Quem não gosta de aplausos?”.

No Bona, Cézar Mendes tem a companhia de Tom Veloso (violão) e Tomás Improta (piano), além de participações especiais -Arnaldo Antunes na quinta, Mart’nália na sexta.

O filho mais novo de Caetano tem sido seu parceiro mais constante. Foi uma das parcerias da dupla, “Talvez”, lançada por Caetano e Tom, que ganhou o Grammy Latino de Gravação do Ano em 2021. A composição também está garantida no repertório.

Outra que tem presença certa é “João”, que o violonista compôs para João Gilberto, de quem o compositor se tornou amigo em seus últimos anos. A letra de Arnaldo celebra o baiano de Juazeiro: “Quando uma só pessoa/ O silêncio aperfeiçoa/ Toda a multidão/ Escuta o coração/ E se torna civilização”.

Agora que se assumiu como cantor, Mendes já tem novos planos na carreira. Atualmente, pensa em seu segundo disco, desta vez dando sua voz às composições -em seu primeiro álbum, de 2018, elas foram interpretadas por convidados como Djavan, Carminho e Fernanda Montenegro.

Ele quer que a atriz marque presença também no novo disco, ao lado de artistas da nova geração. “Eu quero muito trabalhar com uma turma que tá chegando aí. Dora Morelenbaum, Zé Ibarra”, diz.

O músico conta que a coragem para cantar também veio de olhar para o cenário contemporâneo da música. “Estou vendo tanta gente cantando mal aí mesmo com ‘autotune’. Eu não desafino”, afirma. “E tem outra coisa: quando o compositor canta a música dele, você enxerga a música, a verdade dela”.

Diagnosticado com Parkinson, Mendes diz que a doença tem prejudicado sua locomoção e seu equilíbrio. “Mas você sabe que pra quem tem música na alma, tudo fica leve, né?”, diz. “O meu neurologista me falou: ‘A música vai te salvar’. E é verdade”.

Depois Enfim
Quando Qui. (15) e sex. (16), às 21h
Onde Bona Casa de Música – r. Dr. Paulo Vieira, 101, São Paulo
Preço R$ 160

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