Uma câmera na mão, uma ideia na cabeça e alguma inspiração da Suécia. Assim nascia o Cinema Novo de Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Nelson Pereira dos Santos… O país escandinavo teve uma influência quase desconhecida pelo público brasileiro na cinematografia nacional de vanguarda, nos idos da década de 1960. Mas uma grande mostra retrospectiva com a contribuição do cineasta sueco Arne Sucksdorff tenta preencher esta lacuna e fazer justiça ao realizador, a partir desta terça-feira, no Centro Cultural Banco do Brasil de Brasília.
Até o dia 24, o público da cidade e visitantes poderão assisitr a filmes inéditos no Brasil como Mr. Forbush e os Pinguins, O Menino na Árvore e A Fera e a Flecha, além de Ritmos da Cidade, filme que deu à Suécia seu primeiro Oscar. Sucksdorff também tem em sua prateleira duas Palmas de Ouro conquistadas no Festival de Cannes e o prêmio especial do Festival de Veneza. Entretanto, considerado um dos mais importantes cineastas suecos, ao lado de Ingmar Bergman e Alf Sjoberg, o diretor será lembrado por meio de seis longas-metragens, um média e sete curtas que promovem uma incursão do cinema de Sucksdorff.
Com curadoria do cineasta e professor Sérgio Moriconi, a mostra Arne Sucksdorff – O Sueco do Cinema Novo começa com a exibição do documentário Arne Sucksdorff: Uma Vida Documentando a Vida, da pesquisadora mato-grossense Bárbara Fontes. O filme tem 32 minutos de duração e foi finalizado em 2002. As filmagens percorreram cinco locações: Suécia, Rio de Janeiro, Cuiabá, Poconé e Pantanal. No dia 23, haverá um bate-papo com José Wilker, ex-aluno do histórico curso que Sucksdorff ministrou no Brasil, o cineasta Vladimir Carvalho e o curador Sérgio Moriconi. A mostra tem o apoio da Embaixada da Suécia no Brasil e do CTAV – Centro Técnico Audiovisual do Ministério da Cultura.
Arne Sucksdorff foi fundamental na consolidação do Cinema Novo no Brasil. Ao desembarcar no Rio de Janeiro, em 1962, a convite da Unesco, para ministrar curso de formação em técnica cinematográfica, Sucksdorff mudou a história do cinema nacional. Com ele, chegaram câmeras de 35mm (a famosa Arriflex) e 16mm, a revolucionária Éclair, a mesa de montagem Steenbeck (na qual Nelson Pereira dos Santos montaria Vidas Secas), os dois primeiros gravadores Nagra que chegaram ao Brasil (possibilitando o som direto), refletores, tripés e toda uma lista de equipamentos fundamentais. O Brasil, finalmente, tomava contato com os segredos das novas técnicas cinematográficas.
Com este pequeno parque de equipamentos, muitos filmes brasileiros fundamentais foram produzidos. Películas hoje clássicas do Cinema Novo foram montadas na moviola Steenbeck, como Maioria Absoluta, de Leon Hirszman, Os Fuzis, de Rui Guerra, e Terra em Transe, de Glauber Rocha. Arne Sucksdorff tornou-se uma referência fundamental para alguns dos nossos mais importantes cineastas. Durante o curso que veio ministrar no Brasil, teve como intérprete Arnaldo Jabor – que ainda não havia se apaixonado pelo cinema. Na lista dos alunos estavam José Wilker, Eduardo Escorel, David Neves, o grande fotógrafo Dib Lutfi, o jornalista Vladimir Herzog, entre outros.
Arne Sucksdorff foi um grande realizador, tanto no campo do documentário como também na ficção. Tem uma obra extensa feita tanto para o cinema quanto para a televisão. Um dos seus principais longas ficcionais foi rodado nos morros cariocas – Meu Lar é Copacabana foi produzido pela Svensk Filmindustri e tem roteiro assinado pelo ator Flávio Migliaccio. O filme é comparado a Os Esquecidos, de Luis Buñuel. Além de sua cinematografia, a mostra pretende exibir o raríssimo Marimbás, que tem argumento e roteiro de Vladimir Herzog e foi o projeto escolhido para ser realizado pelos alunos de Sucksdorff. O filme é pioneiro no Brasil na utilização do som direito.
PROGRAMAÇÃO DE FILMES DA MOSTRA
Dia 16
18h30 – Arne Sucksdorff – Uma Vida Documentando a Vida (Cor, 32’) + Um Conto de Verão (P&B, 18’)
20h00 – Fábula/ Meu Lar é Copacabana (P&B, 88’)
Dia 17
18h30 – Mundo à Parte I e II (cor, 60’)
20h00 – A Grande Aventura (P&B, 94’)
Dia 18
18h30 – Mundo à Parte III e IV (cor, 60’)
20h00 – A Fera e a Flecha (cor, 75’)
Dia 19
18h30 – Vento do Oeste (P&B, 18’) + O Vento e o Rio (P&B, 10’) + Vila Indiana (P&B, 27’) + Sombras na Neve (P&B, 11’)
20h00 – O Menino na Árvore (P&B, 85’)
Dia 20
16h00 – Mr. Forbusch e os Pingüins (cor, 101’)
18h00 – Vento do Oeste (P&B, 18’) + O Vento e o Rio (P&B, 10’) + Vila Indiana (P&B, 27’ + Sombras na Neve (P&B, 11’)
20h00 – Fábula/ Meu Lar é Copacabana (P&B, 88’)
Dia 21
16h30 – Arne Sucksdorff – Uma Vida Documentando a Vida (Cor, 32’) + Um Conto de Verão (P&B, 18’)
18h00 – A Grande Aventura (P&B,94’)
20h00 – O Menino na Árvore (P&B, 85’)
Dia 23, terça
18h00 – Mundo à Parte I e II (cor, 60’)
19h30 – Ritmos da Cidade (P&B, 18’) + Marimbás (P&B, 10’)
SESSÃO SEGUIDA DE DEBATE – com a participação do ator José Wilker
Dia 24, quarta
18h30 – Mundo à Parte III e IV (cor, 60’)
20h00 – Ritmos da Cidade (P&B, 18’) + Mr. Forbusch e os Pingüins (cor, 101’)
ARNE SUCKSDORFF – O SUECO DO CINEMA NOVO
De 16 a 24 de março, com sessões às 18h30 e 20h00 (de sexta a domingo, também às 16h30), no Cinema do Centro Cultural Banco do Brasil em Brasília (Setor de Clubes Sul, Trecho 2). Ingressos a R$ 4 (inteira). Informações: (61) 3310-7087. Não recomendado para menores de 14 anos.