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Literatura

Redescobrindo clássicos da literatura brasileira

Obras marcantes da literatura nacional que merecem voltar à roda de leitura

Alexya Lemos

11/08/2025 10h02

Foto: Divulgação

Quando se fala em clássicos da literatura brasileira, nomes como Machado de Assis, José de Alencar, e Clarice Lispector costumam dominar a lembrança. No entanto, o acervo literário nacional é vasto, diverso e, em muitos casos, pouco explorado fora dos muros da academia. Alguns livros, embora fundamentais, foram deixados de lado pelos currículos escolares e pelo mercado editorial — mas estão prontos para serem redescobertos.

Seja por abordarem temas considerados sensíveis, por fugirem do eixo Sudeste, ou por terem sido escritos por autores marginalizados, muitas obras seguem como peças raras que merecem nova luz. A seguir, uma seleção de títulos e autores que merecem atenção do leitor contemporâneo.

1. “Úrsula” (1859), de Maria Firmina dos Reis

Considerado o primeiro romance abolicionista da literatura brasileira — e escrito por uma mulher negra no século XIX —, Úrsula antecipa debates sobre racismo, patriarcado e desigualdade social. A obra foi praticamente apagada da história literária até ser redescoberta por estudiosos no final do século XX.

Por que ler hoje: atualiza o olhar sobre o papel da mulher negra na literatura e revela uma perspectiva inédita da escravidão no Brasil.

2. “O Quinze” (1930), de Rachel de Queiroz

Embora a autora tenha sido a primeira mulher a entrar na Academia Brasileira de Letras, muitos leitores conhecem pouco da sua produção. O Quinze retrata a seca de 1915 no Ceará com uma sensibilidade crua e poética, destacando a miséria nordestina longe dos estereótipos.

Por que ler hoje: reforça a relevância da literatura regionalista e a força da escrita feminina nas primeiras décadas do século XX.

3. “Cemitério dos Vivos” (1956), de Lima Barreto

Pouco citado fora dos estudos acadêmicos, esse romance inacabado e autobiográfico mergulha na internação do autor em um hospital psiquiátrico. É um testemunho brutal sobre saúde mental, racismo e exclusão — temas ainda muito presentes.

Por que ler hoje: conecta a literatura com discussões contemporâneas sobre saúde mental e racismo estrutural.

4. “O Amanuense Belmiro” (1937), de Cyro dos Anjos

Narrado em forma de diário, o livro retrata a rotina de um funcionário público em Belo Horizonte. Longe de grandes eventos, o charme do livro está na observação filosófica da vida cotidiana.

Por que ler hoje: antecipa um tipo de escrita introspectiva que se tornaria comum em autores pós-modernistas.

5. Poemas de Solano Trindade

Poeta, militante e fundador de movimentos culturais negros no Brasil, Solano escreveu versos que celebram o povo negro, denunciam o racismo e valorizam a cultura afro-brasileira. Sua obra ainda não ocupa o espaço merecido nas escolas.

Por que ler hoje: sua poesia é urgente, acessível e profundamente conectada à luta por igualdade racial.

Redescobrir é resistir

Resgatar essas obras não é apenas uma forma de enriquecer o repertório literário, mas também de reconhecer histórias que foram silenciadas. Ao reler o passado com novos olhos, o leitor amplia sua visão de Brasil — e talvez encontre, nessas páginas esquecidas, respostas para dilemas que continuam atuais.

Dica: grande parte dessas obras está disponível gratuitamente em bibliotecas públicas ou em domínio público na internet, em plataformas como Domínio Público (MEC), Biblioteca Nacional Digital e outros repositórios acadêmicos.

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