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Literatura

Conceição Evaristo fala sobre memória, ancestralidade e novos projetos

A escritora mineira, referência central da literatura contemporânea, falou sobre trajetória, revisitou textos e explanou futuros lançamentos em conversa com o jornalista Matheus Leitão

Alexya Lemos

27/11/2025 14h47

Atualizada 28/11/2025 11h25

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Foto: Alexya Lemos/ JBr

A presença de Conceição Evaristo em Brasília, na noite desta quarta-feira (29), transformou o auditório da Caixa Cultural em um espaço de escuta atenta, emoção e muita reflexão. Aos quase 79 anos, a autora reafirmou sua vitalidade criativa e política, além de um humor afiado, em bate-papo conduzido pelo jornalista Matheus Leitão. Revisitou momentos marcantes de sua trajetória, falou sobre sua escrita, suas referências, temas centrais de sua obra e adiantou o novo livro que está preparando.

Nascida em Belo Horizonte, Conceição Evaristo cresceu em uma família de origem humilde, marcada pelas experiências coletivas de mulheres negras que mais tarde se tornariam matéria viva de sua obra. Depois de se mudar para o Rio de Janeiro, formou-se professora e construiu, no magistério e na literatura, uma trajetória profundamente ligada à formação crítica e afetiva de várias gerações de leitores.

Suas inspirações incluem escritoras e pensadoras que também revolucionaram a maneira de narrar a vida das mulheres negras: Carolina Maria de Jesus, Djamila Ribeiro, Lélia Gonzalez e Angela Davis.

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Foto: Alexya Lemos/Jornal de Brasília

Foi dessa fonte ancestral e feminista que nasceu o conceito de “escrevivência”, termo cunhado pela autora para definir uma escrita que brota das dores, memórias e resistências de quem historicamente foi silenciado. Durante a noite, um de seus trechos mais conhecidos ecoou com força entre os presentes: “A nossa escrevivência não pode ser lida como história de ninar os da casa-grande, mas sim para incomodá-los em seus sonhos injustos.” A frase, que integra o livro que lhe rendeu o Prêmio Jabuti em 2015, sintetiza sua postura política e estética.

Obras revisitadas e reflexões sobre linguagem

Ao longo da conversa, Evaristo retomou passagens de livros marcantes como Canção para ninar menino grande, Insubmissas lágrimas de mulheres, Olhos d’água e Ponciá Vicêncio, comentando as sensações, intenções e contextos que motivaram cada texto. Em vários momentos, ela destacou o limite e, ao mesmo tempo, a potência da linguagem. “A palavra não dá conta de tudo o que a gente quer dizer”, afirmou, arrancando murmúrios de concordância da plateia.

As perguntas do público guiaram parte da noite, abrindo espaço para temas como ancestralidade, a história das mulheres negras, a Marcha das Mulheres Negras que ocorreu no início da semana na Esplanada dos Ministérios e teve a presença marcante da escritora que, em cima de um carro elétrico, entoou o grito “A gente combinamos de não morrer”, frase que se tornou símbolo de luta das pessoas negras que, nas palavras da autora, “eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”.

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Foto: Alexya Lemos/Jornal de Brasília

Ela também falou sobre a importância das danças e cantos como formas de expressão que ultrapassam a barreira da tradução e brincou dizendo que, se conseguisse cantar ou dançar, não teria escrito uma linha sequer na vida. Falou ainda sobre o percurso de deixar Belo Horizonte rumo ao Rio de Janeiro para realizar o sonho de se tornar professora, referência que ainda hoje respalda sua prática literária.

Homenagem no Carnaval e novos caminhos literários

Um dos momentos mais celebrados da noite foi quando Conceição falou sobre a homenagem que receberá no Carnaval de 2026, quando o Império Serrano levará para a Marquês de Sapucaí o enredo “Ponciá Evaristo, Flor do Mulungu”. O desfile celebrará sua vida e obra, com foco na escrevivência, conceito que fez dela uma das escritoras mais estudadas do país e do exterior.

Ainda no campo das novidades, Evaristo revelou que prepara um novo livro, provisoriamente intitulado O gozo e seus movimentos, obra inspirada no seu livro de 2008, Poemas da Recordação e Outros Movimentos, agora focando em narrativas mais sensuais e até eróticas, temas que já perpassam suas obras, mas agora em destaque. A revelação reforça o momento criativo da autora, que, mesmo prestes a completar oito décadas de vida, segue produzindo, refletindo e expandindo sua escrita.

A gravação completa do bate-papo em breve estará no canal do YouTube do “Sempre um papo”, com legendas e libras.

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