Camilla Sanches
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Maria do Caritó é uma solteirona quase na casa dos 50 anos e virgem, em função de uma promessa feita pelo pai a São Djalminha. É a outro santo, desta vez o casamenteiro Santo Antonio, segundo a tradição católica, que ela faz promessas e simpatias para burlar o que foi prometido pelo pai e conseguir um marido. Com texto de Newton Moreno (de Centenárias) e direção de João Fonseca, o espetáculo Maria de Caritó chega a Brasília, neste primeiro fim de semana do mês das festas juninas e às vésperas da data em que se celebra o dia de Santo Antônio – 13 de junho, um dia depois do Dia dos Namorados –, a quem a personagem recorre para sair da solteirice. O elenco conta com Lilia Cabral, no papel da protagonista, Leopoldo Pacheco, Dani Barros, Fernando Neves e Silvia Poggetti.
“A Silvia, o Fernando e eu somos amigos de longa data, foi por eles que conheci o autor do texto, e há mais de 30 anos não nos encontrávamos no palco. É um personagem que o Newton escreveu sob encomenda, praticamente, para mim”, revela a atriz. “Lembro como hoje. O texto dele chegou no primeiro dia da primavera de 2008, em 22 de setembro”, recorda Lilia, que estava no ar como a Mercedes, de Divã, e se prepara para viver outra protagonista, desta vez numa novela das 9, Fina Estampa, de Aguinaldo Silva, que substitui Insensato Coração. “Não dá para criar um elo entre elas, a Mercedes e a Maria de Caritó. O que elas têm em comum é, também, uma característica muito própria de todo brasileiro, a de sempre lutar por seus sonhos e acreditar, ter fé de que eles se realizarão”, diz.
Depois de três anos longe dos palcos, a atriz volta com um sucesso de público e crítica. A montagem foi vencedora do Prêmio Arte Qualidade Brasil 2010.
A comédia revela valores, costumes e crendices que permeiam o imaginário do brasileiro. Maria do Caritó está decidida a se casar, ainda que precise enfrentar a fúria do pai e da cidade, que acredita que ela é santa. “O que mais me encantou no texto é que ele fala sobre fé. Ela não deixa de acreditar”, fala Lilia. “Maria do Caritó é uma heroína que se equilibra no duplo feminino, sacra e profana, virgem e mundana, santa e palhaça”, completa Newton.
Na cultura popular nordestina, Caritó é a prateleira no alto da parede, ou nicho nas casas de taipa, onde as mulheres escondem o carretel de linha, o pente, o pedaço de fumo, o cachimbo. E assim, a moça que ficou no caritó é aquela que ficou na prateleira, intacta. Enfim: que ficou para a titia. O cenário, de Nello Merrese, é baseado na ingenuidade poética do Nordeste. Há paus de sebo, baús de circo, oratório de bandeiras e alguns caritós. E várias imagens de santos foram criadas especialmente para o espetáculo.
Maria do Caritó – A partir desta sexta até domingo, na Sala Villa-Lobos do Teatro Nacional. Sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 20h. Ingressos: R$ 70 (inteira), sexta, R$ 80 (inteira), sábado e domingo. Não recomendado para menores de 14 anos.