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Lawrence da Arábia, 75 anos de legado árabe ao Ocidente

Arquivo Geral

19/05/2010 16h10

Há exatos 75 anos morria o arqueólogo, militar, escritor e diplomata britânico Thomas Edward Lawrence, mais conhecido como Lawrence da Arábia, o homem que levou o Oriente Médio ao conhecimento do Reino Unido, experiência relatada em seu livro “Os Sete Pilares da Sabedoria”.

Passados três quartos de século de um acidente de motocicleta, veículo que agora é exibido no Imperial War Museum de Londres, o aventureiro foi uma enigmática figura que contextualizou o mundo árabe aos olhares ocidentais.

Profundo conhecedor da região, Lawrence seria chamado de “rei sem coroa da Arábia” pelo jornalista Lowell Thomas, que o conheceu durante a expedição e escreveu um livro com relatos do oficial britânico.

Lawrence viajou ao Oriente Médio durante a Revolta Árabe (1916-1918) a serviço da Coroa Britânica em favor da independência dos árabes, submetidos ao Império Otomano.

Mas era T.E. Lawrence um manipulador em prol dos interesses britânicos? Um cristalino exemplo da distorção entre a realidade de uma batalha e o mapa estratégico de um Governo? Ou um idealista enlouquecido pela cadência monótona das dunas de um deserto?

As façanhas do lendário aventureiro, nascido em 1888 no País de Gales, seguem sem claras definições entre a realidade e a miragem. “Os Sete Pilares da Sabedoria” é tão apaixonante que os historiadores continuam duvidando. E o cinema, com “Lawrence da Arábia”, colaborou para distorcer os autênticos limites de sua façanha.

Segundo ele, tratava-se de uma causa justa. “Uma cavalgada da liberdade árabe de Meca a Damasco”, mas que servia como estratégia britânica para frear o inimigo otomano em plena Primeira Guerra Mundial.

Seu livro já começava com uma advertência: “Não pretendo ser imparcial. Eu estava lutando pela minha causa em minha própria esterqueira”. Esterqueira esta que o levou a ser promovido de militar de baixa patente a braço-direito do rei árabe Faisal.

Recentemente, o jornal “The National” oferecia de Abu Dhabi a visão que o Oriente Médio tem de Lawrence e compilava os testemunhos de Michael Asher, autor do documentário “In search of Lawrence”. “Quando falava a eles sobre Lawrence, eles pensavam que me referia a Peter O’Toole, que o interpretou no cinema”.

T.E. Lawrence, na realidade, sempre negou a glória. “Minha exata participação nela (a libertação árabe) foi secundária”, explicava.

Lowell Thomas demorou a perceber a sagacidade do aventureiro. “Parecia estranho que este homem tímido, quase débil, pudesse ser o misterioso chefe dos guerrilheiros. Somente depois, quando o vi galopando habilidosamente sobre seu camelo, rodeado por sua feroz e impetuosa escolta, pude enfim acreditar”.

Seu carisma teve um ponto de inflexão: “Uma vez, andando sozinho por Deraa, uma praça otomana, foi detido. Os turcos nem suspeitavam que aquele pequeno homem era o líder da revolução. E foi barbaramente torturado”, relatava Thomas em artigo publicado em 1964.

Desde então, “exausto pelo cansaço e pelos ferimentos, Lawrence parecia o gênio da vingança. Quase não dormiu até destruir as colunas turcas que fugiam”.

No final de sua vida, Lawrence estava longe de se sentir orgulhoso dos resultados de sua bravura. O tratado Sykes-Picot de 1916 entre Grã-Bretanha e França acabou com as esperanças de autodeterminação do povo árabe e com suas próprias ambições.

“Quando terminamos e amanheceu o mundo novo, os homens velhos voltaram a surgir e nos arrebataram nossa vitória para refazer o mundo segundo o modelo que já conheciam. A juventude pôde ganhar, mas não tinha aprendido a conservar”, resumiria Lawrence.

E em uma época de reminiscências ainda coloniais, se alguma coisa T.E. Lawrence fez foi entender com humildade que tinha que se adaptar a um povo diferente do seu.

Lawrence se lamentava: “Durante os dois anos que estivemos juntos sob o fogo, se acostumaram a crer-me e a pensar que meu Governo, da mesma forma que eu, era sincero. Em vez de me sentir orgulhoso, me sentia contínua e extremamente envergonhado”, escreveu.

Seu lamento histórico, por outro lado, seria acompanhado pelo desencanto e flagelo pessoal. “Um sentimento de intensa solidão na vida e um desprezo, não pelos outros, mas sim por tudo o que fazem”.

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