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Cinema com ela
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Juntos – Quando o amor gruda, sufoca e sangra

Estreia nesta quinta-feira (14) o longa que transforma a codependência em um horror corporal afiado e irônico

Tamires Rodrigues

14/08/2025 5h00

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Foto: Divulgação/Diamond Films

Há filmes de terror que se acomodam em sustos previsíveis. Juntos, que chega aos cinemas nesta quinta-feira (14), não está nesse grupo. A estreia de Michael Shanks na direção de um longa-metragem abraça o horror corporal para dissecar um tema tão familiar quanto incômodo: os relacionamentos codependentes. O resultado é uma narrativa que, entre o grotesco e o divertido, nos conduz ao interior de uma relação em que a proximidade ultrapassa qualquer noção saudável de afeto — e é justamente isso que a torna tão perturbadora.

Tim e Millie, vividos por Alison Brie e Dave Franco, não existem no singular. São sempre “nós”, nunca “eu”. A mudança para uma nova casa, motivada pelo trabalho dela, parece apenas mais um capítulo dessa simbiose sufocante: ele, músico frustrado e sem direção; ela, sustentando os dois com estabilidade pragmática. As tensões já estão no ar antes mesmo da viagem, mascaradas por sorrisos e por roupas combinando de forma involuntariamente fofa.

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Foto: Divulgação/Diamond Films

A premissa inicial — casal urbano que se muda para o interior em busca de “uma nova vida” — poderia seguir um caminho batido, mas Shanks torce o clichê. Ao explorarem a região, os dois encontram uma estrutura misteriosa. Um acidente os prende no subsolo e, no dia seguinte, algo inexplicável começa a acontecer: suas pernas grudam, e a dependência emocional se torna literal. O que antes era apenas rotina se transforma em necessidade física e quase dolorosa de não se separar.

Essa virada dá ao filme uma camada extra: o terror não vem apenas de ossos estalando ou pele se deformando, mas do reconhecimento de que relações podem sufocar mesmo revestidas de carinho. A metáfora é clara, mas Shanks a trabalha com leveza, evitando academicismos e apostando num humor ácido que impede a narrativa de se afogar no drama. Há ecos de Midsommar na exploração de traumas e de The Substance na deformação corporal, mas Juntos é mais enxuto, objetivo e menos interessado em chocar pelo choque.

Visualmente, o longa é impecável. A fotografia é nítida, elegante e bem iluminada, contrastando com a escuridão psicológica dos personagens. O design de som se destaca, especialmente nos ruídos secos e incômodos das transformações físicas. É um terror que dispensa jump scares em excesso, preferindo um desconforto gradual que cresce cena após cena.

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Foto: Divulgação/Diamond Films

Brie e Franco aproveitam a química real para criar um casal convincente, tanto na paixão melosa quanto na irritação acumulada. Há momentos de humor desconcertante e outros de tensão quase insuportável, como uma cena de sexo que transforma intimidade em desconforto absoluto. A dinâmica entre eles sustenta a narrativa mesmo quando a trama tropeça.

E tropeços existem. O último ato acelera demais, sacrificando a chance de explorar melhor o horror psicológico. A solução narrativa surge de forma conveniente, e a explicação final, um tanto piegas, enfraquece a tensão construída. Ainda assim, Shanks encerra com uma piscadela irônica e uma sequência final chamativa que reforça a mensagem central: talvez seja mais seguro — e menos sangrento — ficar solteiro.

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Foto: Divulgação/Diamond Films 

Conclusão

No fim, Juntos não é apenas um thriller com boas ideias visuais. É uma sátira afiada sobre o que acontece quando o amor vira prisão, quando o “nós” engole o “eu”. Ao transformar dependência emocional em horror físico, Shanks entrega um filme que diverte, provoca e deixa aquela pontada incômoda que acompanha o espectador muito depois dos créditos.

Confira o trailer: 

Ficha Técnica
Direção: Michael Shanks;
Roteiro: Michael Shanks;
Elenco: Dave Franco, Alison Brie, Damon Herriman;
Gênero: Terror;
Duração: 100 minutos;
Distribuição: Diamond Films;
Classificação indicativa: 18 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z

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