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Jorge Amado volta aos cinemas com Quincas Berro D’Água

Arquivo Geral

21/05/2010 6h17

A deliciosa “baianidade” do universo de Jorge Amado e seus personagens pitorescos sem dúvidas são atrativos para os diretores do cinema e da televisão que há décadas adaptam clássicos do escritor. Mas, Quicas Berro D’Água, que estreia hoje nos cinemas, é o primeiro filme baseado na obra do escritor a ser dirigido por um baiano, Sérgio Machado. Baseado no livro A Morte e a Morte de Quicas Berro D’Água, o filme conta a história de um vagabundo conhecido como Quincas (Paulo José), que já foi Joaquim Soares da Cunha, um respeitável funcionário público. Cansado da vida de aparências, Quincas decide viver como quer: à toa, de bar em bar. Bêbado e vadio, é rejeitado pela família, que faz de tudo para manter a lenda do honrado funcionário público. Um belo dia, Quicas bate as botas. Inconformados com a morte do companheiro, seus amigos da vida noturna do Pelourinho decidem levar o corpo de Quincas para uma noitada.

 

Diretor de Cidade Baixa, Sérgio Machado lembra que sua relação com Jorge Amado não se limitou aos livros. O escritor gostou tanto de seu primeiro curta, que o enviou a Walter Salles, na época, envolvido com o filme Central do Brasil. “Até hoje eu trabalhei em praticamente todos os filmes dele (Walter Salles) e ele produziu todos os meus filmes. Isso tudo veio por meio de Jorge Amado”, declara. “A generosidade dele para comigo, é a principal característica de sua obra. São livros escritos por uma pessoa generosa”, completa.

 

Familiarizado com o trabalho do escritor, a história do morto que sai para sua última farra chamou a atenção do diretor. “Quando reli o Quincas e tive o insight de fazer o filme, eu estava em uma piscina e gargalhei, comecei a incomodar as pessoas em volta e fiquei com vergonha”, diverte-se. “É uma comédia, mas fala de coisas que eu falo no Cidade Baixa de forma até mais explícita.  É uma ode à amizade, que já era tema do meu longa anterior”, esclarece. “É um filme que fala da morte para reafirmar o quanto é bacana estar vivo”.

 

A atração principal do longa é Paulo José, que aos 72 anos, encarou o desafio físico de viver um personagem que é arrastado de um lado para o outro do Pelourinho. O ator mostra personalidade e magnetismo, mesmo ao interpretar um cadáver. O Quincas de Paulo José, que também é o narrador da aventura noturna, é irônico, com um comentário divertido para tudo e um constante sorriso de escárnio no canto da boca. A disposição de Paulo José impressionou o diretor. Por conta do estado de saúde do ator, que sofre do Mal de Parkinson, Machado mandou fazer dois bonecos caríssimos para substituí-lo em cenas mais complexa. Eles mal foram usados. “A piada do filme é essa: os bonecos foram quem mais ganharam dinheiro no filme e os que menos trabalharam”, brinca. “O Paulo não só nunca ficava exausto, como era o primeiro a chegar e o último a sair”.

 

Quem conduz toda a ação são os companheiros de farra de Quincas, vividos por Luiz Miranda, Flávio Bauraqui, Irandhir Santos e Frank Menezes. Bêbados, enganadores e sem dinheiro, os anti-heróis, que se empenham tanto para prestarem sua última homenagem ao amigo, conquistam por sua extrema ingenuidade, no fim das contas. “Aqueles personagens têm algo de chapliniano – o vagabundo nobre. Eles têm uma gentileza”, acredita o diretor.

“Caretas”
Fazendo oposição aos personagens noturnos do Pelourinho, está a família de Quincas, representada por Vanda, personagem de Mariana Ximenes, e seu marido, Leonardo, interpretado por Vladimir Brichta. São eles que tentam recuperar o corpo de Quincas depois que ele é interceptado, para dar-lhe um enterro digno de um comendador.
Brichta confessa que interpretar o certinho Leonardo foi um desafio no contexto do filme. “Tive que amarrar o meu ímpeto de viver aquela aventura tão contagiante”, afirma o ator. “Eu sabia que tinha essa tarefa árdua de apresentar o outro lado”.

 

À frente da busca por Quincas está Mariana Ximenes como a filha distanciada, que, pouco a pouco, começa a entender as razões do pai, enquanto adentra seu mundo noturno. O personagem de Brichta é praticamente uma versão mais nova de Joaquim Soares da Cunha, respeitável servidor público. “Era muito fácil o personagem do Vladimir ter virado um chato, um caretão. Queríamos dar uma outra cara para ele. Era muito fácil ser desleal com a família”, opina Machado. “Acho que o bom personagem é surpreendente e ambíguo.”

 

Esse é o primeiro dos três filmes baseados na obra de Jorge Amado a estrear no cinema . Os outros, ainda em fase de produção, são Capitães da Areia, de Cecília Amado, neta do escritor, e Os Velhos Marinheiros, de Marcos Jorge.

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