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JBr Talks no Na Praia debate equidade de gênero como estratégia para segurança e direitos

O encontro, reuniu especialistas e lideranças de diferentes áreas para discutir soluções efetivas capazes de mudar a vida das mulheres

Camila Coimbra

15/08/2025 5h00

Atualizada 14/08/2025 23h23

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

Transformar a equidade de gênero em uma estratégia concreta para garantir segurança e ampliar direitos foi o foco do JBr Talks, projeto especial do Jornal de Brasília realizado no Na Praia Festival. O encontro, ocorrido na última terça-feira (12), reuniu especialistas e lideranças de diferentes áreas para discutir soluções efetivas capazes de mudar a vida das mulheres e influenciar políticas públicas.

O debate contou com a participação da oficial de programa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), Anna Cunha; da fundadora do Instituto Glória e integrante da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ), Cristina Castro; da produtora de eventos e criadora do projeto Conta Comigo, Eli Moura; e da advogada, ex-delegada da Polícia Civil e fundadora do Instituto RevEllas, Patrícia Bozolan. A mediação foi feita por Paula Reis, gestora regional da Amcham Brasil, conduzindo um diálogo que transitou entre protocolos, prevenção, mudança cultural e práticas institucionais.

A conversa começou pelo ponto que, para Patrícia Bozolan, é inegociável: protocolos claros. Ex-delegada da Polícia Civil e fundadora do Instituto RevEllas, ela viu de perto o vácuo entre a lei e a prática. “O protocolo de feminicídio, por exemplo, não existia como norma institucionalizada. Hoje existe, e isso faz diferença”, disse. No instituto que dirige, mulheres, crianças e adolescentes encontram atendimento jurídico, acolhimento psicológico e até a possibilidade de registrar ocorrências sem precisar ir à delegacia. “O processo começa com observação, levantamento estatístico e construção de políticas que se transformam em leis e, depois, em práticas institucionais”, completou, defendendo que capacitações para forças de segurança sejam recorrentes, e não ações pontuais.

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

Se a fala de Patrícia aponta para o fortalecimento da estrutura de combate à violência, Cristina Castro, do Instituto Glória e da ANTAQ, defendeu que, além de protocolos, é preciso mudar a forma como a equidade e o fato de ser mulher são percebidos. Para ela, a narrativa da vulnerabilidade também deve dar espaço ao debate sobre à valorização da competência feminina. “O fato de ser mulher não deve ser tratado como fragilidade, seja dentro do lar, em uma contratação, na promoção de emprego ou no acesso a cargos de liderança. Ainda há uma diferença salarial expressiva entre gêneros, mesmo quando as mulheres são comprovadamente mais estudiosas e dedicadas”, pontuou.

Ela lembrou que mais da metade da população brasileira é formada por mulheres, responsáveis por cerca de 75% das decisões de consumo no mundo. “Investir na competência feminina é investir em lucratividade e no fortalecimento da sociedade como um todo”, concluiu.  Anna Cunha ressaltou que a prevenção começa antes, no reconhecimento dos direitos sexuais e reprodutivos como parte essencial da cultura de paz. Sendo uma oficial do Programa do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), ela destacou que garantir autonomia sobre o próprio corpo é um passo fundamental para territórios mais resilientes e respeitosos. “Quando não sabemos que um direito existe, é mais difícil reagir a uma situação de violência”, afirmou. Anna defendeu que políticas de prevenção falem diretamente com adolescentes e jovens, e que meninos e homens sejam incluídos no diálogo. “Sem eles, dificilmente teremos ações plenamente eficazes”, alertou.

A ligação entre segurança e cultura ficou por conta de Eli Moura, criadora do Conta Comigo, projeto pioneiro que oferece atendimento psicológico imediato para mulheres em situação de vulnerabilidade durante grandes eventos. A iniciativa nasceu em 2015, após um caso de violência sexual em um evento que ela produziu, e evoluiu para um protocolo robusto com equipes treinadas, sala de acolhimento, atendimento a colaboradoras e artistas, além de ações preventivas. Eli lembrou que o projeto também inspirou leis como o protocolo “Por Todas Elas” no DF e o “Não é Não” em arenas esportivas. “A lei nasce da cultura e a influencia de volta. Acolher é também prevenir”, disse. Ela explicou que o atendimento do Conta Comigo é proativo: psicólogas identificam situações de risco, intervêm e acompanham a vítima até que esteja segura. Em eventos como o Na Praia, esse trabalho já chegou a públicos de mais de 120 mil pessoas por dia.

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

Essa rede de cuidado encontrou terreno fértil no próprio Na Praia Festival, organizado pela R2 Produções. Especialistas em sustentabilidade, os sócios Edu Azambuja, e Kallel Kopp explicam que a parceria com o UNFPA e projetos como o Conta Comigo surgiram da escuta ativa das mulheres. Pesquisas aplicadas pelo Instituto Glória revelaram que a saída do evento era percebida como o ponto mais inseguro, o que levou à criação de iniciativas como o Siga Segura, em que profissionais especializadas acompanham mulheres até seus transportes ou residências. O diagnóstico também motivou ajustes como aumento de seguranças mulheres, parcerias com aplicativos de transporte femininos e treinamentos obrigatórios sobre assédio e empoderamento para todos os colaboradores.

Kallel conta que o número de acolhimentos cresce a cada edição, sinalizando maior confiança das mulheres no serviço, enquanto os casos de violência diminuem cerca de 30% ao ano. “Nem todo atendimento está ligado a um crime; muitas vezes acolhemos situações de vulnerabilidade, como crises de pânico ou excesso de álcool”, afirmou. Para Edu, a integração das ações e a chancela do UNFPA consolidam o Na Praia como referência em segurança. “O objetivo é que, mesmo que uma mulher não tenha a melhor noite da vida dela, com certeza não terá a pior”, resume.

Mais do que um debate, o JBr Talks se transformou em um chamado à ação. Entre protocolos, educação, mudança cultural e escuta ativa, ficou claro que a equidade de gênero é também uma estratégia de segurança.

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