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JBr Talks: Festival mais acessível do Brasil

Um dos eventos mais acessíveis do mundo, o Na Praia é uma plataforma de impacto social e ambiental. Na segunda edição do JBr Talks, os convidados do painel se reuniram para conversar sobre as práticas inovadoras e inclusivas do evento

Amanda Karolyne

18/07/2025 5h00

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

Um bom festival é feito para agradar o público em cada etapa: desde a compra do ingresso até o retorno para casa, ao final do dia de shows. Com banheiros adaptados em todas as áreas do complexo, equipe de atendimento PCD, guia de acessibilidade online, empréstimo gratuito de equipamentos e comunicação acessível, o Na Praia trabalha constantemente para, ano após ano, entregar experiências inovadoras, com programação e estrutura totalmente inclusivas para todas as pessoas. Essas e outras ações de acessibilidade e inclusão foram temas do segundo painel do JBr Talks, realizado nessa quarta-feira.

Nesta segunda gravação, Paula Reis, gerente regional da Amcham Brasil — parceira do JBr nesse projeto — foi a mediadora do tema da conversa: “sustentabilidade acessível: como integrar inclusão às estratégias ESG com verdade”. Para falar sobre o assunto, o debate contou com a participação de Edu Azambuja, sócio e diretor de sustentabilidade da R2; Gabriel Rosa, sócio da IS.ECO e estrategista de sustentabilidade; e Mariana Borges, especialista em estratégias ESG. 

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

O diretor de Acessibilidade e Inclusão da IS.ECO, Gabriel Rosa, em sua participação no JBr Talks, afirmou que a IS.ECO sempre entendeu que a acessibilidade é uma extensão da sustentabilidade, por acreditar que um ambiente sustentável precisa ser acessível para todos. Ele já trabalhava no monitoramento das ações de infraestrutura da empresa, mas em 2019 sofreu um acidente de carro e se tornou uma pessoa com deficiência. “Acabei me capacitando mais nesse modelo de negócio, buscando garantir o direito de todos ao lazer, à informação e à cultura”, destacou. 

Gabriel participa ativamente dos projetos de acessibilidade para garantir mais autenticidade às ações. “Quando o público vê uma pessoa com deficiência na operação, no cargo de liderança, seja de qual evento for, traz mais autoridade para aquilo que está sendo passado”, considerou. Ele citou a frase: “Nada sobre nós, sem nós”, para descrever o sentimento de muitos PCDs de cansaço, por sempre terem pessoas que não entendem do assunto, tomando decisões pela comunidade. 

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

Para mudar isso, Gabriel apontou que os meios de comunicação do Na Praia, por exemplo, estão sempre abertos para fazer uma intermediação mais direta com as pessoas. “Temos um telefone disponível para informações, dúvidas, críticas e sugestões. Além de uma pesquisa de satisfação com nossos clientes após o evento, para opinar sobre a acessibilidade do espaço”, declarou. “Tentamos ao máximo entender as necessidades e as dificuldades de cada um. A gente sabe que temos muito a aprender e a melhorar, mas estamos nessa busca por mais capacitação e mais inovação. Nosso maior objetivo é trazer o público para vir curtir e se sentir pertencente a esse espaço que para nós é de todos”. 

Das várias ações do Na Praia, uma que ainda será inaugurada na edição de 2025, é a sala de conforto sensorial.”Estamos com expectativas altas para esse lançamento. Esse lugar vai ser uma área de acolhimento para pessoas neurodivergentes em geral. Vai ser um ambiente mais calmo para as pessoas que sentem desconfortos sensoriais, devido aos ruídos e luzes, por exemplo, que podem causar fobia em algumas pessoas do espectro autista”. A previsão é que na próxima semana de shows, o espaço esteja pronto. 

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

Acessibilidade em evolução 

Edu Azambuja costuma falar que a cada ano o Na Praia vai evoluindo quanto às ações de acessibilidade. “Não colocamos um marco inicial, mas, a cada ano, a gente vai implementando ações para que nosso evento possa ser o mais acessível possível.” O evento tem uma série de iniciativas voltadas para o público PCD, a começar pela cortesia, que vai além do proposto pela lei que garante meia PCD para a pessoa e o acompanhante também. Além disso, o festival também garante que no local dos shows tenham vagas exclusivas para pessoas com deficiência bem na porta do festival. Já na vila gastronômica,  todos os estandes contam com balcões rebaixados para o atendimento inclusivo. 

Na ocasião, Edu explicou que na entrada do festival, o público PCD pode encontrar a central de acessibilidade, onde após se identificar, terá acesso a vários recursos gratuitos, como os cordões de identificação de deficiências ocultas, a cadeira de roda elétrica para se locomover na areia e a mochila vibrotátil. Edu contou que a inspiração para trazer essa mochila ao Na Praia, veio de um show do ColdPlay. “Se trata de uma mochila que vibra de acordo com a frequência da música e a pessoa a regula de acordo com o grau de surdez”, comentou. Ele citou que nesta edição atual do evento, a novidade é a cadeira anfíbia, para quem usa cadeira de rodas poder entrar na água também. 

O Na Praia também estreou neste ano uma área elevada PCD, que Edu considera o espaço mais nobre de shows. “É uma área que fica na frente do palco com uma visibilidade muito boa”. Além disso, todos os shows grandes tem intérpretes de libras. “Hoje o nosso intérprete de libras é uma atração do evento”, comentou. No painel, Edu lembrou que foi um desafio no começo, porque as pessoas questionavam quantos surdos realmente iriam ao Na Praia, mas Edu reforçou que era justamente para que essas pessoas passassem a frequentar o evento, que o serviço precisa ser oferecido. Durante o painel, ele reforçou que a estrutura do evento é constantemente pensada para suprir as necessidades que as pessoas com deficiência tiverem. 

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

Kallel Kopp, CEO da IS.ECO, conversou com a equipe do Jornal de Brasília sobre como foi iniciar esse processo para trazer mais acessibilidade ao Na Praia. O projeto foi moldado desde o design da experiência e do serviço, com foco em todas as rotas que sejam acessíveis. “Foi pensada uma solução arquitetônica completa para que as pessoas realmente possam ter a acessibilidade e possam chegar em todos os espaços. Mas a gente entende que somente acesso arquitetônico não é o suficiente. É preciso ir além”. 

A cada ano a IS.ECO em parceria com a R2+Na Praia vai dando um passo em busca de novas soluções em prol da acessibilidade. “A gente tem buscado novas parcerias. Porque esse é um projeto que nunca vai acabar, está em plena evolução”. Para ele, a parceria com o festival é essencial para identificar as necessidades dos diversos públicos que colocam o pé na areia, para levar as soluções encontradas para todo o Brasil. “Depois que identificamos que tinham pessoas com cadeiras de rodas que não conseguiam entrar no lago, a gente comprou a cadeira anfíbia que possibilita isso. A gente vai identificando todas as problemáticas e a cada ano fazendo com que esse grande laboratório vivo traga novas soluções”, citou. 

Estratégia ESG para além da sustentabilidade

Durante o painel, a especialista em estratégias ESG, Mariana Borges, reforçou que falar em ESG vai além de medidas que envolvem o meio ambiente. Mariana explicou que a sustentabilidade dentro do pilar social, vai falar de clientes, fornecedores, colaboradores e pessoas da comunidade ao redor. “Levando em consideração também todas as formas de diversidade, pensando que as pessoas são diferentes mesmo e têm necessidades diferentes. E nisso a gente inclui as pessoas com algum tipo de deficiência — seja intelectual, motora ou física”, pontuou. Dessa maneira, a acessibilidade e a sustentabilidade são aspectos que unidos a diversos outros, fazem com que a empresa gere mais resultados.

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Foto: JP Rodrigues/Jornal de Brasília

As palavras-chave para se pensar acessibilidade como estratégia, de acordo com Mariana, são equidade, diversidade, inclusão e pertencimento. Segundo ela, é preciso pensar nesse público desde o momento dá compra do ingresso até a hora de ir embora. “De que forma eu faço com que esse grupo tenha a melhor experiência possível? Para que volte ao meu evento, consuma e curta o espaço. E que também faça propaganda do meu evento”, citou as questões que as empresas precisam ter em mente. Ela lembra que esse processo não acontece de um dia para o outro — e deixa um recado às empresas que veem no festival uma inspiração:  “O Na Praia começou com uma intenção forte — e foi construindo, aos poucos, algo que hoje serve de exemplo.”

Pertencimento e inclusão através da música

A equipe de reportagem do Jornal de Brasília acompanhou, no último sábado, o jovem Mateus Moreira de Almeida em uma experiência PCD durante a programação, cujo ponto alto para ele foi o show da Glória Groove. Aos 24 anos, ele é atleta de levantamento de peso paraolímpico e modelo inclusivo. Mateus nasceu com mielomeningocele e hidrocefalia. Ao receber o diagnóstico, os médicos disseram para a mãe que Mateus não passaria dos dois anos de vida. Agora, prestes a completar 25 anos, ele é campeão brasileiro da modalidade, com várias medalhas. “Amante do esporte, amante da moda, mister cadeirante e apaixonado pela vida”, pontuou.

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Foto: Rodrigo Lima/Jornal de Brasília

Muito emocionado, Mateus teve a oportunidade de conhecer pessoalmente a cantora Gloria Groove, de quem é grande fã. “Falei pra ela que o trabalho dela com representatividade é enorme, e que eu, como homem com deficiência, me sinto muito representado — mesmo sendo uma minoria diferente. Poder compartilhar esse sentimento com ela foi muito importante”, comentou. O encontro aconteceu no sábado, durante sua vivência nas instalações do Na Praia, festival do qual ele é muito fã. “Eu me sinto incluso no Na Praia porque me sinto parte do evento. Eles fazem de tudo para que a gente se sinta parte da família — não só como um comprador, um público.”

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Foto: Rodrigo Lima/Jornal de Brasília

Mateus acredita que outras produções culturais deveriam se inspirar no festival, que em todas as edições se esforça para oferecer a melhor experiência possível às minorias. “Falar de representatividade, pra mim, é muito tocante. Porque hoje a gente consegue ver pessoas com deficiência incluídas na sociedade, podendo fazer parte das coisas — não naquele modelo antigo, de ‘coitadinho’. A gente quer viver, quer curtir, igual a qualquer outra pessoa.”

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