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O arcabouço dos personagens foi construído a partir do conceito de queer, reclamado por uma parte do movimento punk como sendo de gêneros e sexualidades que não se conformam com a sociedade heteronormativa. Em várias improvisações na época dos ensaios, o grupo buscou o andrógeno para acentuar essa indefinição dos sexos. Com isso, não há homens ou mulheres, e sim, pessoas, relações e situações.
Entre lojas de doces, restaurantes e uma garagem, um amplo corredor de concreto, com paredes grafitadas e uma incontestável atmosfera noturna e soturna chamou a atenção do Grupo Liquidificador. O local, guardado por um grande portão e com acesso pelos fundos do Conic, era o local ideal para a encenação no formato “peça-festa” pensada para o espetáculo “Ultra-Romântico”, segunda montagem do grupo brasiliense. A partir de 05 de outubro, o público poderá partilhar dessa experiência, quando “Ultra-Romântico” fizer sua estreia.
O espetáculo fica em cartaz no subsolo do Conic até 04 de novembro, com sessões de sexta a domingo. Aos sábados, a montagem será seguida de uma festa comanda por DJs e bandas da cidade.Ingressos: R$ 20, 00 (inteira)/ R$ 10,00 (meia)Classificação indicativa: 16 anos.OBS: Quem assistir ao espetáculo em qualquer um dos três dias terá direito a convite para a festa.Festa: aos sábados, a partir das 23h.Ingressos: de 23h a 00h, R$ 10,00 (preço único)/ de 00h à 01h00, R$ 15,00 (preço único)/ a partir de 01h00, sujeito a alteração.Classificação 18 anos.Informações:(61)9633-8711
“Ultra-Romântico” é uma releitura do livro “Noite na Taverna”, de Álvares de Azevedo, uma das mais significativas obras brasileiras da segunda fase do período romântico. Trabalhando nos ensaios com improvisações, a exemplo do aconteceu com o espetáculo anterior, “A Cartomante”, o Grupo Liquidificador criou um roteiro que funde em uma única narrativa as histórias contadas no livro pelos personagens Solfieri, Bertram, Gennaro, Claudius Hermann e Johann. O condutor da história é Ângela, representação da musa idealizada do jovem romântico, a provocação que o herói precisa para seguir em frente.
“Nossa ideia como grupo e como indivíduos é sempre nos posicionarmos enquanto artistas. Por isso, é vital que nossas montagens surjam de percepções nossas sobre a obra original”, explica a atriz Karinne Ribeiro, responsável pela dramaturgia final.
E foi justamente esta percepção particular que levou o Grupo Liquidificador ao subsolo do Conic. O corredor de concreto circundado por habitantes por vezes amedrontadores à sociedade era o espaço perfeito para situar esta taverna do século XXI, onde jovens personagens vivem intensamente histórias de amor, idealismo, boemia, morte, loucura e crime.
A força motora da jornada é a noite. É ao longo dela que o jovem romântico encontra espaço para se libertar do tédio e da burocracia do dia. Para perpetuar esse ciclo de aventuras que só a noite proporciona, o Liquidificador pensou no conceito de “peça-festa”, no qual a festa (que vai acontecer sempre aos sábados) funcionará como uma continuidade da peça. “A 00h a cidade fecha, deixando o jovem romântico tendo que inventar sua própria jornada. Mas ainda é o meio da noite, o meio da história, bem no momento em que o enredo deveria tomar forma e chegando ao clímax. Por isso, criamos a festa”, explica o ator Kael Studart.
Mas não foi apenas este termo punk que o Grupo Liquidificador absorveu em “Ultra-Romântico”. Por toda encenação, há um forte diálogo entre o movimento surgido na Inglaterra e a segunda fase do período romântico, em associações diretas ou subjetivas aos punks burgueses de Brasília dos anos 80; burgueses acadêmicos românticos de São Paulo; punks junkies da Inglaterra; boêmios byronistas ingleses; integrantes da secreta sociedade Epicuréia paulistana; punks do underground de São Paulo; e os brasilienses consumidos pelo mesmo spleen (tédio) dos românticos da Inglaterra. “Os punks e os ultrarromânticos tinham ideologias semelhantes. As duas correntes buscavam algo diferente, algo que quebrasse com o estado das coisas e dos pensamentos. E, sobretudo, uma forte a busca pela juventude”, detalha o diretor Fernando Carvalho. O espetáculo flerta ainda com os beats norte-americanos e os clubbers.
A encenação de “Ultra-Romântico” explora o roteiro com música ao vivo, composta e executada por Ricardo Alcântara, além de exibição de vídeos e projeções.
Trilogia literária
“Ultra-Romântico” é o segundo trabalho do Grupo Liquidificador. O espetáculo continua a trilogia iniciada em “A Cartomante” de uma pesquisa de linguagem contemporânea de encenação que funde narrativa literária e teatro. Depois do realismo de Machado de Assis, o grupo se debruçou em estudos para transpor a linguagem literária da segunda fase do romantismo de Álvares de Azevedo à cena teatral.
A trilogia se encerra em 2013, com o naturalismo, em um espetáculo baseado no livro “O Cortiço” de Aluísio de Azevedo.
Grupo Liquidificador
O Grupo Liquidificador nasceu em 2010, dentro da Universidade de Brasília, a partir da vontade comum de seus integrantes de se pensar e produzir teatro em Brasília. Fernanda Alpino, Fernando Carvalho, Glauber Carvalho, Iza Cavanellas, Kael Studart, Karinne Ribeiro e Tiago Medeiros convergiram no grupo suas bagagens heterogêneas adquiridas nos cursos de Artes Cênicas, Educação Artística, Letras e Artes Visuais.
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No seu processo criativo, o Grupo Liquidificador pesquisa dentre as fontes mais diversas, aproveitando tanto as referências individuais como as comuns. Esse processo resulta em espetáculos que transitam entre as definições de cultura pop, erudita e de massa, tendo em vista a discussão sobre a existência ou não desses conceitos, bem como seus limites e flexibilidades. O que une seus sete integrantes é, principalmente, a vontade de fazer um teatro genuinamente brasiliense, detentor de todas as contradições que a Capital possa ter.
Ficha técnica “Ultra-Romântico”:
Texto original: Álvares de Azevedo
Adaptação: Grupo Liquidificador
Dramaturgia final: Karinne Ribeiro
Direção: Fernando Carvalho
Elenco: Fernanda Alpino, Iza Cavanellas, Kael Studart, Karinne Ribeiro e Tiago Medeiros
Figurinos: Glauber Carvalho
Luz: Tiago Medeiros
Trilha sonora (composição e execução ao vivo) e operação de som: Ricardo Alcântara
Operação de luz: Ana Luiza Quintas
Cenografia: Glauber Carvalho
Produção: Bravo Produções