A continuação de Five Nights at Freddy’s retorna às telas nesta quinta-feira (4) tentando equilibrar sustos, nostalgia gamer e uma expansão de mitologia que, no papel, parecia ambiciosa. No entanto, o que se vê é uma obra que oscila entre lampejos de criatividade visual e um roteiro que insiste em complicar o simples. A sensação é de potencial aprisionado, como se a franquia estivesse sempre querendo mostrar mais do que realmente sabe sustentar.
Emma Tammi continua sendo o coração pulsante do projeto. Sua câmera sabe criar inquietação com movimentos calculados, silenciosos e quase elegantes, transformando corredores vazios em ameaças latentes. É nela que moram as melhores decisões do filme, desde a construção dos ambientes até o uso dos animatrônicos como figuras de horror e memória. Tammi tenta, mais uma vez, transformar o caos em atmosfera, e, por instantes, consegue.
Quando o filme depende da direção, o suspense respira. Quando depende do roteiro, o fôlego some. Scott Cawthon, agora responsável sozinho pela narrativa, amplia a mitologia sem amarrar as pontas já existentes e acaba construindo uma sequência que funciona mais como catálogo de mistérios do que como história. A trama cresce horizontalmente, mas não aprofunda nada que realmente sustente o peso dramático proposto.
A investigação sobre uma segunda unidade da Freddy Fazbear’s Pizza surge como promessa de frescor, mas se transforma em um labirinto de informações que não encontram repouso. Entre aparições fantasmagóricas, novos animatrônicos e ligações familiares guardadas a sete chaves, tudo parece correr para todos os lados, menos para o desenvolvimento emocional dos protagonistas. Mike, Vanessa e Abby continuam interessantes, mas são consumidos pelos enigmas improvisados ao redor.
Há, ainda, o problema evidente dos diálogos. Em vez de revelarem camadas, os personagens se perdem em frases que explicam demais e conectam de menos. As relações parecem não evoluir organicamente, e algumas cenas surgem como blocos isolados de explicações, como se a urgência fosse justificar a existência da sequência e não contar uma história que se sustente por si só.
Mesmo assim, há momentos em que a direção de Tammi tenta resgatar o que o texto abandona. Os ritmos se ajustam, a tensão encontra terreno fértil e os animatrônicos voltam a ocupar o espaço que sempre tiveram nos games: o de símbolos culturais que misturam medo, infância, paranoia e memória afetiva distorcida. Nesses instantes, o filme mostra o que poderia ter sido.
Conclusão
No fim, Five Nights at Freddy’s 2 é um produto dividido entre visão artística e ambição narrativa desordenada. A estética está ali, a atmosfera também, mas a história escapa pelos vãos. Falta foco, falta silêncio, falta a coragem de assumir que um filme pode ser menor e ainda assim eficiente. Resta a sensação de que Emma Tammi tenta iluminar um corredor que o roteiro insiste em deixar às escuras. O resultado é uma continuação que entretém por momentos, mas não encontra o susto que realmente importa.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Emma Tammi;
Roteiro: Scott Cawthon, Seth Cuddeback e Emma Tammi;
Elenco: Josh Hutcherson, Elizabeth Lail, Piper Rubio e Matthew Lillard;
Gênero: Terror;
Duração: 105 minutos;
Distribuição: Universal Pictures;
Classificação indicativa: 14 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z