Andréia Castro
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Com Gonzaga – De Pai para Filho, o cineasta brasiliense Breno Silveira repete a fórmula bem-sucedida de Os Dois Filhos de Francisco e conta de maneira emotiva e superproduzida a relação de dois dos mais importantes nomes da música popular brasileira: Luiz Gonzaga do Nascimento, o Gonzagão, e Luiz Gonzaga do Nascimento Junior, o Gonzaguinha. Uma história que fala de encontros e desencontros, e de dúvidas sobre um pai e um filho que precisaram sofrer décadas para sarar as feridas e, finalmente, se conhecerem.
Inspirado em biografias da obra Gonzaguinha e Gonzagão – Uma História Brasileira, de Regina Echeverria, o filme retrata Luiz Gonzaga adolescente, passando por diferentes etapas de sua carreira e vida, até chegar ao seu clímax, na década de 1980.
O roteiro de Patrícia Andrade resgata de forma comovente detalhes da carreira musical de Luiz Gonzaga e parte da trajetória de Gonzaguinha, com passagens importantes na vida de ambos, no sertão de Exu (PE) e na favela de São Carlos (RJ). No entanto, os holofotes da narrativa estão sempre voltados para a discussão da difícil relação e o esperado acerto de contas entre um pai inconstante e seu filho amargurado.
Para viver o rei do baião foram escolhidos três atores, que o retrataram dos 17 aos 70 anos. O músico Chambinho do Acordeon, que faz Luiz Gonzaga no seu auge, ainda que não sendo um ator profissional, mostra um sorriso iluminado e entrega uma atuação convincente, mas é com Adélio Lima, que vive Gonzagão aos 70 anos, que o personagem tem seus momentos mais emocionantes. Sempre em parceria com Júlio Andrade (o Gonzaguinha, dos 35 aos 40).
Os dois roubam a cena e rendem os melhores momentos da produção, apresentando uma caracterização impressionante e grandes interpretações. O embate entre pai e filho no reencontro, que pontua o começo e final do título, desnuda momentos viscerais de felicidades momentâneas e muitas decepções e tristezas.
Trilha especial
Como já era de se esperar, a trilha sonora é impecável, passeando pelo baião e o popular. É, sem dúvida, uma bela seleção da história musical dos dois protagonistas – duas gerações tão distintas e, ao mesmo tempo, tão protestantes. O sertão na sanfona retirante e o grito estudantil no violão. A fotografia reserva bons momentos e conversa com as canções: a temperatura de cor forte do Nordeste e o clima urbano e caótico do Rio de Janeiro combinam músicas agitadas e percussivas para os momentos felizes e cordas para os de tristeza.
Apesar de humanizar os dois ídolos brasileiros, mostrando seus erros e falhas, a trama não os aprofunda e é engolida pelas várias camadas das personalidades de pai e filho, chegando a beirar o superficial. No entanto, o filme é sincero e comove pela simpatia e incrível simplicidade dos personagens que sempre quiseram se amar, mas não sabiam como. Prepare o lencinho e bom filme.