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Festival premia os melhores hoje

Arquivo Geral

30/11/2010 10h24

A curadoria do 43º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tentou sacudir o marasmo das duas edições anteriores apostando nas experimentações de jovens cineastas. Mesmo diretores mais experientes no longa-metragem, como Eryk Rocha e João Jardim, aparecem na programação estreando em novos territórios. Foi inútil para a crítica tentar encaixar em padrões pré-definidos algumas das propostas vistas no Cine Brasília desde a última terça-feira. A entrega do Troféu Candango acontece hoje, a partir das 20h30, no Cine Brasília. Também será exibido o longa Os Deuses e os Mortos (1970), de Ruy Guerra, para convidados. 

 

Nesses tempos em que o cinema brasileiro chega ao público por meio de blockbusters como Tropa de Elite 2 – que já levou 10 milhões de pessoas para as salas de cinema – o Festival de Brasília abriu espaço para filmes que questionam, não só classificação em gênero, mas toda o processo de produção que envolve o cinema nacional atualmente. 

 

A Alegria, produção carioca que abriu a mostra competitiva de longas em 35mm, deu o mote para o que seria o viés dessa competição. Os diretores Felipe Bragança e Marina Meliande usaram uma equipe enxuta, composta em sua maioria por colegas de faculdade, para conduzir sua fantasia urbana. Transeunte, de Eryk Rocha, também dispensou grandes estruturas de produção, buscando nas ruas sua inspiração. 

 

Enquanto Transeunte usa o rigor estético para mostrar, por meio de imagens e sons, a transformação na vida de um aposentado, A Alegria é conduzido de forma instintiva, pela energia desenfreada de seus jovens protagonistas. O primeiro dá tratamento poético a uma história de solidão, a princípio prosaica. O segundo utiliza o fantástico para projetar os anseios de uma geração sufocada pela violência urbana, desafiando o cânone do realismo no cinema independente. 

 

Nesse clima de experimentações, nada causou mais estranheza do que Os Residentes, produção mineira de Tiago Mata Machado. O longa é mais um manifesto do que um filme, com personagens que ficam reduzidos a atos estéticos. Ao defender seu filme, o cineasta acabou tocando em pontos determinantes no debate suscitado pelo festival. “Se o cinema sobrevive, é porque é impuro”, afirmou, ao criticar as amarras realistas do cinema contemporâneo. “O cinema é um organismo vivo. Todo o vírus que afetá-lo o tornará mais forte”. A fala define bem o espirito desse festival. 

 

A surpresa agradável dessa edição ficou por conta de outra produção mineira – O Céu Sobre os Ombros, estreia de Sérgio Borges  em longas-metragens. O filme, classificado como ficção pela curadoria do festival, enfoca três personagens reais, que interpretam suas histórias de vida. O que é real, ou o que é encenação não importa. O interessante é a forma com que o diretor descortina as facetas desses personagens estigmatizados pela sociedade, e o nível de intimidade que sua câmera alcança.

 

O oposto acontece com Amor? de João Jardim. Mesmo optando pelo formato de documentário, a essência do filme está na encenação. Os atores trazem impacto dramático, mesmo com a estética engessada escolhida por João Jardim.  O diretor utiliza letreiros para deixar bem claro o que o espectador vai assistir. Por questões éticas, os depoimentos sobre relacionamentos abusivos são interpretados por atores.

 

Enquanto a curadoria dos longas-metragens deixou bem claro suas intenções, a seleção de curtas-metragens não teve o mesmo rigor. Houve uma variedade maior de temas e formatos. 

 

Temas infantis foram representados com competência por A Mula Teimosa e o Controle Remoto e Fábula das Três Avós. Os dois curtas brasilienses em competição, Braxília e Falta de Ar, impressionaram pelo apuro técnico. Entretanto, o primeiro mexeu com a veia ufanista do brasiliense, com a homenagem ao poeta Nicolas Behr. 

 

A região Norte do País, pouco representada no festival nas últimas décadas, se fez presente com o curta amazonense Cachoeira, prejudicado pela linguagem mal resolvida, e o ótimo Matinta, produção paraense, com Dira Paes, que também flerta com o cinema fantástico.

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