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Trilha da Inclusão transforma o Espaço Renato Russo com arte e protagonismo de PCDs

Festival multilinguagem gratuito acontece de sexta a domingo, com cinema, teatro, dança, feira criativa e espaço sensorial

Aline Teixeira

01/08/2025 5h00

Atualizada 31/07/2025 23h30

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Foto: Divulgação

Neste fim de semana, o Espaço Cultural Renato Russo, será palco da segunda edição do Trilha da Inclusão, festival multilinguagem protagonizado por pessoas com deficiência. Com entrada gratuita e programação acessível, o evento reúne teatro, dança, cinema, música e feira criativa em três dias de celebração da diversidade, da arte e da presença múltipla.

Idealizado por Cássia Lemes, o projeto parte de uma premissa essencial: dar centralidade a artistas com deficiência em todo o processo artístico e curatorial. “No Trilha da Inclusão, pessoas com deficiência não estão apenas representadas — elas são o centro da criação, da curadoria e da cena. Isso muda tudo. Colocar esses corpos e vozes como protagonistas é reconhecer outras formas de fazer arte, viver o mundo e ocupar os espaços culturais”, afirma a idealizadora.

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Foto: Divulgação

Com financiamento do Fundo de Apoio à Cultura (FAC-DF), o festival também se destaca por pensar a acessibilidade de forma ampla e sensível. “A acessibilidade no Trilha vai muito além dos recursos obrigatórios — ela é parte da concepção do festival desde o início. Cada espaço, mediação e atividade foi pensado para acolher diferentes formas de estar no mundo. Acessibilidade não é só um recurso técnico, é uma escolha política e uma prática cotidiana”, pontua Cássia.

Entre os recursos disponíveis estão audiodescrição, Libras (em texto escrito e sinalizado), curadoria em áudio, atendimento bilíngue, objetos táteis, sinalização acessível e espaços de descompressão. Além disso, haverá um ambiente sensorial voltado a crianças neurotípicas e neurodivergentes, criado em parceria com a Clínica Avivar.

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Foto: Divulgação

Um dos destaques da programação é a Mostra de Cinema Surdo, que reúne obras dirigidas por cineastas com deficiência auditiva e convida o público a mergulhar em novas formas de escuta e percepção.

Entre os filmes selecionados está Entre Sinais e Marés, curta de João Gabriel Kowalski e João Gabriel Ferreira que narra uma história de amor sob a perspectiva do silêncio. A mostra também exibe A Busca do Eu e o Silêncio, do premiado diretor Giuliano Robert — cineasta e fotógrafo surdo com carreira internacional e passagens por Warner Bros, Netflix e Globo.

Na sexta-feira (1), a atriz Renata Rezende sobe ao palco com o monólogo Sopro de Liberdade, encenado inteiramente em Língua Brasileira de Sinais. A peça traz a trajetória de uma mulher surda em busca de identidade, expressão e autonomia em uma sociedade que não compreende seu silêncio.

“A Mostra de Cinema Surdo e o espetáculo em Libras são mais do que atrações: são convites para ampliar a forma como a gente escuta, sente e se conecta. Essas linguagens visuais criam estéticas próprias e carregam narrativas muito singulares”, explica Cássia Lemes.

Celebração de corpos diversos

No domingo (3), o Instituto Steinkopf apresenta o projeto Uma Sinfonia Diferente, com crianças e adultos autistas em uma performance musical inspirada no mar. Já na dança, o coreógrafo Marcos Abranches — referência na cena inclusiva e artista com paralisia cerebral — apresenta Corpo Sobre a Tela, performance que transforma movimentos em pintura viva.

“Eu como artista luto por uma vida mais digna e descobri que através da arte posso contar minha história”, afirma Abranches. “Já ouvi depoimentos de pessoas dizendo que sentiram uma profunda sensação de liberdade e ficaram muito emocionadas com o espetáculo.”

Outro destaque é a Feira ARTeira, com curadoria de Beta Leonez, que reúne artistas neurodivergentes e neurotípicos em uma celebração do fazer manual, da economia criativa e da convivência diversa. “A feira e o Espaço Acolher são pontos de respiro e encontro. O Acolher, em especial, é um refúgio sensorial para quem precisa de um tempo diferente do tempo do mundo — com apoio emocional, atividades lúdicas e cuidado. Inclusão de verdade é estar, pertencer e ser respeitado como se é”, destaca Cássia.

Cultura com presença

Para Cássia Lemes, os desafios que artistas com deficiência enfrentam no circuito cultural ainda são muitos. “O acesso ainda é a maior barreira — não só física, mas simbólica, estrutural e financeira. Muitos artistas esbarram em editais pouco inclusivos, falta de recursos e olhares que não enxergam sua potência para além da deficiência.”

Com o Trilha da Inclusão, o objetivo é transformar esse cenário com protagonismo, escuta e espaço real. “O festival propõe outra lógica: uma cena cultural onde todos os corpos cabem, contam e criam. Não é sobre adaptar espaços já prontos, mas construir outros possíveis.”

Trilha da Inclusão
Local: Espaço Cultural Renato Russo
Datas:  1, 2 e 3 de agosto
Cinema, teatro, dança, feira e espaço sensorial
Ingressos: gratuitos

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