Neste domingo (7), a Praça da Bíblia da Candangolândia será palco da 4ª edição do Samba pras Moças, um encontro que une música, empreendedorismo, ancestralidade e empoderamento feminino. Mais do que um festival, o projeto é um espaço de resistência e celebração da cultura afro-brasileira, construído a partir da vivência e da força de mulheres pretas e periféricas.
A programação traz uma seleção de artistas que reafirmam a diversidade do samba e da música preta: DJ Kashuu, Pé no Chão, Ane Êoketu, Mari Sardinha, DJ Odara Kadiegi, Bruna Tassy e Kika Ribeiro. “O samba começou nas comunidades, no morro, e nasceu com as mulheres pretas, guerreiras que sempre trabalharam. O Samba pras Moças vem para lembrar que nós, mulheres negras, também precisamos de lazer e de cuidado. Muitas vezes não temos condições financeiras de investir em cultura e descanso, porque a prioridade é sobreviver. Esse espaço surge para unir tudo: o lazer, o cuidado estético e a celebração da nossa ancestralidade”, afirma Paula Olivio, diretora artística do evento e fundadora da ONG Obinrin Badú.

Idealizado por Paula a partir da observação da realidade de mulheres em situação de vulnerabilidade, o projeto nasceu como um trabalho de formiguinha. “O maior desafio sempre foi o financeiro. Não havia investidores, então precisei acreditar sozinha, investir com meus amigos e mostrar, aos poucos, que era possível. Hoje, ver o Samba pras Moças conquistando seu espaço e tendo o apoio do FAC é a prova de que vale a pena correr atrás de um sonho e reunir pessoas que acreditam nele também”, conta.
Além dos shows, o festival terá a Feira das Moças, que fomenta a economia local e dá visibilidade ao trabalho de empreendedoras da moda, gastronomia e artesanato. “A visão da mulher empreendedora é muito importante para mim. Cada evento é uma chance de mostrar para a comunidade que nós, mulheres pretas, somos criadoras, gestoras e artistas. Muitas vezes, não temos acesso a investimento, nem a crédito em bancos. Quando abrimos esse espaço e alguém descobre que uma mulher dali faz bijuteria, doce ou livro, isso já transforma a realidade. É um reconhecimento que faz diferença”, destaca Paula.

O evento também conta com recreação infantil — incluindo contações de histórias afro-brasileiras, pula-pula e distribuição gratuita de algodão-doce e pipoca doce — e espaços de beleza, reforçando a proposta de acolhimento para mulheres que muitas vezes não encontram tempo para se cuidar. “Como trancista, sempre percebi que a mulher preta raramente se olha ou se nota. No Samba pras Moças, ela pode relaxar, curtir um pouco, enquanto os filhos estão em atividades seguras e educativas. Esse cuidado coletivo é parte do que acreditamos”, explica.
As atividades formativas também têm destaque, com oficinas de tranças e percussão que incentivam crianças e jovens a reconhecerem suas raízes e se fortalecerem a partir delas.
Para Paula, o evento reafirma que cultura é também ato político: “O Samba pras Moças mostra que as mulheres negras precisam ser assistidas, cuidadas e reconhecidas. Queremos que elas entendam que podem sonhar, empreender e lutar, apesar das dificuldades. Nossa luta é também pela saúde, especialmente a saúde mental, tão afetada no dia a dia. A cultura nos fortalece e nos mostra que não estamos sozinhas.”
O Samba pras Moças é realizado pela Obinrin Badú e Saturno Cultural, com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC) / Secretaria de Cultura e Economia Criativa do DF.
Samba pras Moças – 4ª edição
Data: Domingo, 07 de setembro
Local: Praça da Bíblia – Candangolândia/DF
Horário: das 11h às 18h30
Entrada: gratuita