A Casa do Cantador será palco de um encontro de música, ancestralidade e resistência no fim de semana de Cosme e Damião. Neste sábado (27) e domingo (28), o Festival Tardezinha do Samba chega à sua 6ª edição celebrando o tema “Confluência”, em homenagem ao pensador Nego Bispo. A proposta é unir tradições e linguagens – do samba ao rap, do samba-rock ao charme – para criar um espaço de troca e envolvimento, marca registrada do evento.
Idealizador e coordenador do festival, o músico Marcelo Café explica que a ideia de “confluência” guiou todas as escolhas da programação. “Desde a exposição fotográfica de abertura até as oficinas de cavaquinho para mulheres e de instrumentos com recicláveis, todo o percurso está ligado à ideia de soma e de valorização dos saberes orgânicos. Partimos do chão do terreiro para que esse saber se encontre com a rua do rap, do charme, da batalha de poesia, do samba rock. Tudo tecnologia preta de resistência, reinvenção e contracolonial”, afirma.

Ancestralidade em cena
Realizado no fim de semana em que se celebra Cosme e Damião, o festival se conecta com as tradições de matriz africana.“O palco se chama Palco Seu Zé e todo o caminho de construção, pertencimento e até de letramento de muitas comunidades negras nasceu nos terreiros. Assim é com o samba, o funk carioca, os afoxés e muitas outras manifestações culturais que têm o tambor como base. Não poderia ser diferente com um festival que celebra o samba e suas variações”, explica Café.
Além de shows, o evento conta com saraus, oficinas e atividades para crianças, reafirmando o caráter educativo e comunitário da Tardezinha. Para Marcelo, esta é uma forma de devolver à população periférica o acesso a um festival que nasce do seu próprio território. “O festival se define como ‘da periferia e pela periferia’ porque nasceu na Ceilândia e tem uma equipe majoritariamente de Regiões Administrativas. Nossa busca é valorizar o artista do DF não só com palco, mas com respeito, boa estrutura e cachês honestos.”

Desafios e potência coletiva
Conciliar o papel de músico e produtor não é tarefa fácil, mas é parte do compromisso de Café com a cena cultural do DF. “Entendi que para fazer meu trabalho crescer, eu mesmo teria que criar as estruturas. Brasília é recorrente em não valorizar seus artistas, e a maior cidade do DF não tem nem um cinema ou espaço adequado para shows, fora a Casa do Cantador. O festival não teria chegado até aqui sem as parcerias que me ajudam a equilibrar essa balança.”
Tecnologias pretas como eixo
O conceito de “tecnologias pretas” é central na proposta do festival. “Defino essas tecnologias como modos de ver e moldar o mundo pela cultura afro-brasileira, formas de ressignificar nossa existência. Para além de festa, o festival celebra o sagrado por meio da música, que é uma tecnologia de cura e de afirmação”, diz Café, citando Muniz Sodré: “é na música e especialmente no samba que negras e negros reencontram sua ancestralidade”.
Programação
Sábado – 27/09, a partir das 10h
-Cia. Cafundó
-Lavagem da Casa do Cantador com Afoxé Ogum Pá
-Banda Patacori
-Samba da Guariba convida Janine Mathias
-Samba na Comunidade convida Hugo Ojuara
-Cris Pereira convida Luana Bayô
-Desfile Benguelê Atelier
-Filhos de Dona Maria convidam Glória Bonfim
-Grupo Arruda convida Marcelo Café
-Nos intervalos: DJ Kirianga e DJ Odara Kadiegi
Domingo – 28/09, a partir das 14h
-Tardezinha Flashback com Equipe Megasonic
-Sarau Voz e Alma SarauVá
-Equipe Megasonic convida Eric Jay & Will Sintonia
-GOG (lenda do rap nacional)
-Pegada Black
-Marcelo Café convida Jéssica Américo
-Clube do Balanço (SP) convida Marcelo Café
Tardezinha do Samba – 6ª Edição
Quando: 27 e 28 de setembro (sábado e domingo), a partir das 10h
Local: Casa do Cantador
Entrada Gratuita
Classificação: Livre