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Cinema com ela
Cinema com ela

“Eternidade” reinventa a fantasia romântica com charme e nostalgia

O longa chega aos cinemas nesta quinta-feira (4) com uma história sensível sobre amores interrompidos, reencontros improváveis e decisões que moldam o infinito

Tamires Rodrigues

04/12/2025 5h00

eternity

Foto: Divulgação/A24

Eternidade chega aos cinemas nesta quinta-feira (4) com a ambição de resgatar a fantasia romântica dos anos 90 e, ao mesmo tempo, vestir esse imaginário com o brilho contemporâneo da A24. O diretor irlandês David Freyne parece guiado pelo desejo de revisitar a era em que o cinema acreditava em mundos paralelos, amores impossíveis e destinos decididos por uma centelha de magia. O resultado é um filme que mira alto, abraça a nostalgia e entrega uma proposta visual deliciosamente vintage, mas nem sempre alcança a força emocional que promete.

A história se passa em uma vida após a morte construída com charme retrô. O público é levado a um centro de convenções com alma de anos 60, onde todos chegam rejuvenescidos e prontos para escolher o cenário de sua eternidade. Há mundos temáticos, ambientes utópicos, realidades customizadas e até destinos pensados para quem deseja fugir da lógica terrena. É uma cosmologia inventiva, divertida e cheia de personalidade, que imediatamente posiciona o filme no território da fantasia afetiva.

Nesse universo de possibilidades, acompanhamos Larry, agora em sua versão jovem interpretada por Miles Teller. Em vida, ele teve um casamento longo e quase feliz, e ao descobrir que pode aguardar sua esposa na vida além, decide esperar por ela. Quando Joan finalmente chega, rejuvenescida e vivida por Elizabeth Olsen, o reencontro deveria selar a continuidade de uma história de amor. Mas o roteiro apresenta uma delicada complicação: o primeiro marido de Joan, morto há décadas, também a espera no além.

O filme constrói então um triângulo amoroso que não nasce do ciúme ou da disputa tradicional, mas de um conflito íntimo sobre passado, presente e memória. Joan precisa escolher entre a promessa do amor que foi interrompido e a solidez daquele que sobreviveu ao tempo. A escolha transcende o afeto e mergulha em questões de identidade, amadurecimento e reconhecimento de si. É uma alegoria sobre quem éramos, quem nos tornamos e com quem desejamos continuar caminhando quando nada mais nos prende ao mundo real.

O talento de Freyne aparece especialmente na leveza com que conduz esse dilema. Ele brinca com referências clássicas, visita o imaginário das fantasias dos anos 40, recupera o clima de “filme de sessão da tarde sofisticado” e injeta uma sensibilidade queer que amplia o alcance emocional da narrativa. Os mundos alternativos, as escolhas irreversíveis e até os personagens secundários funcionam como um mosaico divertido e inteligente que dá frescor ao gênero.

O elenco embarca na proposta com entrega total. Miles Teller encontra um tom raro entre juventude e experiência acumulada. Elizabeth Olsen ilumina cada cena com aquela mistura delicada de doçura e firmeza que só ela sabe sustentar. Callum Turner compõe o ex-marido idealizado com charme clássico. E Da’Vine Joy Randolph aparece como uma espécie de guia espiritual cheia de humanidade, apesar de ter menos espaço do que o público desejaria.

Há, porém, uma fronteira que o filme cruza com menos segurança: o seu desfecho. O último ato se preocupa mais em amarrar engrenagens e reviravoltas do que em permitir que o público sinta o peso da escolha de Joan. A emoção que parecia prestes a transbordar se dilui, como se o filme tivesse receio de mergulhar no sentimentalismo que o sustenta desde o início. O resultado é uma conclusão elegante, mas distante do impacto prometido.

Ainda assim, Eternidade acerta ao revisitar uma tradição cinematográfica que andava esquecida. É um filme que celebra a fantasia romântica, confia no poder das grandes ideias e aposta que o público está disposto a se emocionar com histórias que não cabem no realismo cotidiano. Mesmo quando tropeça, faz isso tentando algo maior, e essa ambição já o coloca em um lugar especial dentro da safra recente de romances.

O longa também funciona como uma espécie de carta de amor a um tempo em que o cinema arriscava mais. Freyne brinca com o impossível e constrói um universo que poderia existir apenas na imaginação. É um gesto quase artesanal dentro de uma era dominada por fórmulas. Por isso, mesmo quando não atinge seu ápice, deixa uma impressão calorosa de coragem criativa.

Conclusão

No fim, Eternidade é uma experiência doce, inventiva e repleta de momentos de brilho. Não é perfeito, mas tem alma e vontade de encantar. É o tipo de obra que nos lembra de que o cinema, quando se permite sonhar, ainda pode criar lugares onde o amor, a memória e o desconhecido conversam com graça. E talvez seja exatamente esse tipo de imaginação que faz falta no nosso presente.

Confira o trailer:

Ficha Técnica
Direção: David Freyne;
Roteiro: Pat Cunnane, David Freyne;
Elenco: Miles Teller, Elisabeth Olsen, Callum Turner, Da’Vine Joy Randolph, John Early, Olga Merediz;
Gênero: Comédia Romântica;
Duração: 113 minutos;
Distribuição: A24;
Classificação indicativa: 12 anos;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da assessoria Cris Brito

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