
Depois de vencer a 5ª edição do projeto Seleção Brasil em Cena, no último mês de setembro, o espetáculo Sexton, escrito pela brasiliense Julianna Gandolfe e por Helena Machado, estreia no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, onde cumpre temporada de 10 de janeiro a 3 de fevereiro. Da capital federal, o espetáculo segue para o CCBB do Rio de Janeiro, onde será apresentado de 7 a 31 de março.
Sexton conta com direção de Rodrigo Fischer e elenco composto por Jessica Cardoso, Mário Luz, Paulo Wenceslau, Gaivota Neves, Jeferson Alves e Karol Oliveira. O espetáculo é livremente inspirado na vida e na obra de Anne Sexton, poetisa confessional americana, ganhadora do prêmio Pulitzer. Uma das precursoras do confessionalismo, Sexton foi vanguardista ao inserir tabus femininos na poesia. Primeira poetisa cultuada como celebridade pelos americanos, ela fazia de suas declamações verdadeiras performances exuberantes de si mesma. “Infelizmente a obra dela é praticamente desconhecida no Brasil. São poemas extremamente imagéticos e diretos. Uma espécie de porrada poética onde as experiências pessoais são motores motivadores de suas poesias”, explica o diretor Rodrigo Fisher, que não conhecia a obra de Sexton antes da montagem e se disse “profundamente identificado” logo de início.
A montagem tem início na infância de Anne e segue até sua morte. A história, entretanto, não é contada linearmente, mas de maneira poética onde vida e arte são entrelaçadas. O texto de Julianna e Helena narra passagens da vida de Sexton abordando a relação dela com a família, amigos, psiquiatras, amantes e, principalmente, com a poesia. É a partir de encontros da poetisa com sua própria obra e com importantes nomes da poesia, como Robert Lowell, John Holmes e Sylvia Plath, que temas como suicídio, morte, vício, depressão, amor e sexo vêm à tona.
Uma das autoras da peça, Julianna Gandolfe conta que a escolha de retratar a obra e a vida de Sexton em seu texto de estreia para os palcos veio da “necessidade de falar de temas catárticos de uma forma poética. Além disso, o texto traz uma intensidade muito bonita, com trechos densos e outros irônicos, bem-humorados”. O diretor Rodrigo Fischer completa dizendo que Sexton é “um elogio à vida, à poesia, à possibilidade de viver independente de ações e padrões que secam a nossa vontade de viver. A ideia é a de refletir sobre a vida de Anne Sexton sem julgamentos, tentando simplesmente apresentar uma mulher que viveu intensamente sua vida, mesmo que para isso fosse necessário encarar a dor e a própria morte”. No espetáculo, a intensidade de Sexton não é passada ao público apenas por meio das palavras e do teatro. Rodrigo Fischer propõe em Sexton um diálogo com outras artes, como o cinema, e também com a tecnologia, presentes em projeções que compõem o espaço cênico da peça.
Atriz que dá vida a Sexton nos palcos, Jessica Cardoso também se impressionou com a intensidade de sua personagem. “Ela é extremamente instigante. Por vezes a imagem que tenho dela é a de um baú no fundo do mar lacrado com correntes onde posso ler: ‘Não abra. Perigoso!’ Ela, definitivamente, me move, me esmaga e desorienta”, afirma a intérprete de apenas 20 anos de idade.