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Viva

Entre a realidade e a ficção

Arquivo Geral

27/11/2010 17h14

 

Seguindo o espírito experimentalista desta 43ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, João Jardim apresenta Amor?, uma proposta diferenciada que questiona limites entre ficção e documentário. O longa-metragem, principal atração da noite de hoje na mostra em 35 mm, apresenta depoimentos reais, de pessoas anônimas, interpretados por atores, como Lilia Cabral, Ângelo Antônio e Julia Lemmertz, sobre relações amorosas marcadas por alguma forma de violência. 

 

Mesmo utilizando uma estética que lembra o documentário, esta é oficialmente a primeira incursão do documentarista João Jardim (Pro Dia Nascer Feliz e Janela da Alma, codirigido com Walter Carvalho) no cinema de ficção. O cineasta declara que Amor? é “uma boa mistura” dos dois gêneros, mas acredita que o trabalho esteja mais próxima do cinema de ficção. “O filme é todo encenado, mas as histórias são reais. Não o chamo de documentário porque o filme não tem compromisso com o real. O filme se permite a muitas liberdades para ser chamado de documentário”, opina.

 

Jardim conta que o processo de pesquisa reuniu mais de 50 histórias – colhidas entre conhecidos e em entidades como Juizado Especial da Mulher e fóruns – das quais oito foram selecionadas para entrar no filme. “As melhores histórias vieram de onde menos se esperava, de pessoas que não imaginávamos que tinham passado por isso”, relembra Jardim. No entanto, o cineasta ressalta que o foco do filme não é a violência doméstica, mas o processo sutil pelo qual o relacionamento passa até o ponto de se tornar abusivo. “São histórias sobre como uma relação começa carinhosa e pode se desenvolver em violência e opressão”, detalha. 

 

Por conta do caráter delicado do tema abordado pelo filme, João Jardim optou por contar as histórias verídicas por meio de atores. Lilia Cabral, Eduardo Moskovis, Leticia Collin, Cláudio Jaborandy, Silvia Lourenço, Fabiula Nascimento, Mariana Lima, Ângelo Antônio e Julia Lemmertz passaram por um processo intenso de ensaios, nos quais o diretor tentou extrair interpretações naturalistas. As atrizes abriram mão de maquiagem e a maioria das cenas foram gravadas em uma fazenda no interior do Rio de Janeiro. “Orientei os atores de forma que tomassem para si as histórias, como se as histórias fossem deles, sem criar personagens”, esclarece o cineasta. 

 

A opção pela participação de atores não foi apenas uma questão estética. Jardim acredita que não teria alcançado o nível de intimidade que gostaria filmando personagens reais, por conta da presença intimidadora da câmera. “Foi também uma opção ética. Em uma relação a dois, a pessoa sempre está falando de alguém, e pode ser que esse alguém não queira que a história seja contada”, esclarece.   

 

A interferência da dramaturgia para contar histórias da vida real foi um expediente também usado pelo documentarista Eduardo Coutinho em Jogo de Cena, em que misturou depoimentos contados por personagens reais e interpretações de atores. Acostumado com as comparações entre os dois filmes, Jardim acredita que seu filme tem uma proposta diferente do longa de Coutinho. “Mas Jogo de Cena me mostrou que é possível fazer isso – um filme de ficção com formato de documentário”.  

 

Curtas 

 

Também compõem a programação de hoje os curtas A Mula Teimosa e o Controle Remoto (SP), de Hélio Villela Nunes, e Café Aurora (PE), de Pablo Polo, que serão exibidos a partir das 20h30 no Cine Brasília. O primeiro conta a história da amizade entre dois meninos: um criado na fazendo e outro vindo da cidade grande. Já Café Aurora faz uma crítica à geração internet – que realiza uma infinidade de atividades ao mesmo tempo, sem se aprofundar muito em nada –, mostrando o encontro entre um barista e uma escultora em um café. ” O filme enfoca uma característica comum entre os personagens, que é curtir os detalhes de cada momento”, esclarece Polo. 

 

O diretor adianta que o curta, em que predominam as cenas noturnas,  trabalha percepções sensoriais, que remetem às atividades dos dois personagens. “A fotografia foi toda pensada para isso. Usamos a luminosidade mais baixa para traduzir esse ambiente aconchegante e intimista do café. Quisemos levar isso para o filme todo”.

 

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