Na sua mais recente animação, Elio, que chega às telonas nesta quinta-feira (19), a Pixar nos conduz por uma jornada cósmica que mescla nostalgia, humor e uma dose de vulnerabilidade infantil. O filme resgata o encanto das aventuras de Spielberg e aborda, com sensibilidade, os sentimentos de isolamento, comuns na infância. Ao contar a história de um garoto solitário em busca de conexão, Elio vai direto ao coração de quem cresceu com as ficções intergalácticas dos anos 80, ressoando um sentimento universal de solidão.
A trama segue Elio, um garoto que vê no vasto espaço não apenas uma fuga de sua dor, mas também a chance de experimentar uma amizade inesperada com seres de outro planeta. Se o ponto de partida remete a filmes como Contatos Imediatos e outras tramas intergalácticas dos anos 80, o filme surpreende ao mostrar como o vazio existencial de Elio ressoa no cosmos, destacando uma conexão emocional bem mais humana do que as vastas aventuras no espaço.

Desde o início, Elio nos apresenta uma Terra melancólica, onde um garoto se sente completamente desamparado. A Pixar não hesita em expor a solidão devastadora de Elio (interpretado por Yonas Kibreab), e a luta silenciosa de sua tia Olga (Zoe Saldaña), que assume o papel de tutora enquanto tenta reconstruir os laços familiares após a perda dos pais do garoto. A sensibilidade com que a Pixar aborda o luto e o vazio existencial é um acerto, tocando a dor universal de quem enfrenta a perda. O personagem de Olga, com sua força e vulnerabilidade, reflete a fragilidade humana e a impotência diante da dor de quem se ama.
À medida que a história avança, Elio encontra no cosmos a sua única solução para a dor. Em uma cena emblemática no museu de exploração espacial, o garoto se encanta pela sonda Voyager 1 e começa a enviar sinais ao espaço, refletindo seu desejo sincero e desesperado de contato intergaláctico. O pedido de Elio, simples e universal — querer ser visto, desejado e reconhecido — é algo com o qual todos podemos nos identificar em diferentes momentos da vida.

A verdadeira reviravolta acontece quando, por um erro de sorte e uma boa dose de confusão, Elio é confundido com o embaixador da Terra para uma assembleia alienígena intergaláctica. A ideia de um garoto inexperiente, no auge de sua solidão, sendo lançado em negociações espaciais, agrega um toque de humor que também transmite uma crítica velada sobre as responsabilidades que nos são impostas sem aviso. A Pixar, mais uma vez, combina com maestria comédia e reflexão. As negociações com o vilão alienígena Lorde Grigon, um empresário impiedoso, ecoam as dinâmicas de poder observadas em grandes aventuras, mas com uma dose de sátira e atualidade.
Apesar dos momentos de leveza, a narrativa perde um pouco de sua carga emocional quando o filme se afasta dos dilemas internos de Elio e se aprofunda no universo alienígena. Embora os encontros com seres do espaço tragam ação e diversão, o filme acaba por se distanciar de sua essência emocional, tornando-se mais previsível. As influências de Douglas Adams e as referências a Toy Story são evidentes, mas algo mais autêntico parece faltar para equilibrar os dois mundos.

Um dos elementos mais intrigantes é o tapa-olho azul de Elio, que, embora estranho, ganha um simbolismo interessante à medida que ele revela sua verdadeira identidade. Essa escolha visual, que faz referência à necessidade de se esconder e se proteger, é uma metáfora recorrente na infância: esconder o verdadeiro eu por medo de ser rejeitado. Para Elio, o tapa-olho pode representar um mecanismo de defesa, uma forma de se resguardar antes de se expor completamente ao mundo.
Elio não é apenas sobre perdas e descobertas, mas também sobre os primeiros passos do amadurecimento. Ao fazer amizade com Glordon, o filho de Lorde Grigon, Elio aprende a valorizar a empatia e o perdão, até nas circunstâncias mais improváveis. A amizade entre os dois é retratada com delicadeza, mostrando como as barreiras podem ser superadas quando se busca a compreensão mútua, mesmo em um território desconhecido e distante.

Conclusão
Por fim, Elio é uma obra encantadora que acerta ao explorar as complexidades da infância com um toque de magia espacial. Apesar de perder um pouco da sua intensidade emocional ao se desviar do drama humano para se entregar a aventuras alienígenas, o filme mantém seu charme e vulnerabilidade. A Pixar, mais uma vez, nos entrega uma animação que, apesar de suas falhas, conquista pela sua capacidade de emocionar e nos lembrar da importância da conexão, da solidão e da amizade em tempos de incerteza.
Confira o trailer:
Ficha Técnica
Direção: Domee Shi, Madeline Sharafian, Adrian Molina;
Roteiro: Adrian Molina, Julia Cho, Mark Hammer;
Elenco: Yonas Kibreab, Zoe Saldaña, Jameela Jamil, Brad Garrett;
Gênero: Aventura, Ficção científica, comédia;
Duração: 99 minutos;
Distribuição: Walt Disney Pictures/Pixar; 
Classificação indicativa: Livre;
Assistiu à cabine de imprensa a convite da Espaço Z