O CCBB Brasília recebe, até 10 de junho, a montagem inédita no Brasil de Isso é o Que Ela Pensa (Woman in Mind), do aclamado dramaturgo inglês Alan Ayckbourn. Escrita em 1985, a peça é considerada um ponto de virada na dramaturgia de Ayckbourn, sendo uma dos trabalhos mais poderosos e polêmicos de sua prolífica carreira.
Isso É O Que Ela Pensa fala sobre uma mulher que lentamente perde a conexão com a realidade. Com direção de Alexandre Tenório, que recentemente dirigiu “A Serpente no Jardim” também de Ayckbourn, e com a premiada atriz Denise Weinberg no papel de Susan, personagem central, o público é conduzido a experimentar este mundo instável em que realidade e sonho estão intrinsicamente entrelaçados.
Susan chegou a uma encruzilhada sexual, social e cultural. É uma esposa moderna que idealiza uma família que parece tirada diretamente de uma revista dos anos 50: um marido carinhoso, um irmão protetor e uma filha atenciosa, enquanto sua família verdadeira é composta por um grupo de pessoas bastante depressivas. Mas a peça foi escrita para mostrar o ponto de vista dessa mulher, convidando a plateia a se identificar com ela.
Logo após a estréia na Inglaterra, Ayckbourn afirmou ter descoberto que inúmeras mulheres já tiveram uma experiência muito próxima a de Susan. E enquanto os homens riam, a platéia feminina a observava atentamente. Na montagem inglesa, Julia McKenzie — cuja interpretação de Susan lhe rendeu o Evening Standard Award de melhor atriz – recebeu montanhas de cartas de pessoas que estiveram bem próximas de um colapso nervoso.
A montagem brasileira é um projeto acalentado pelo diretor Alexandre Tenório desde 1987, quando entrou em contato com a obra pela primeira vez. Isso É O Que Ela Pensa é sem dúvida um dos meus textos prediletos. Ayckbourn constrói magnificamente cenas de humor e emoção que conduzem uma personagem em crise a um dos finais mais emocionantes da dramaturgia contemporânea”, declara.
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dealizador do projeto, o ator Eduardo Muniz, que estagiou com Ayckbourn na Inglaterra, diz que o processo de criação do personagem é muito rico em função desse contato direto com o dramaturgo.
Para Ayckbourn, ter uma montagem no Brasil é motivo de muita alegria. “Estou muito contente que Eduardo e sua equipe escolheram esta peça em particular para o público brasileiro. Afinal, é uma história que se passa inteiramente na mente de uma mulher. Convidamos você a entrar no mundo íntimo e totalmente privado de Susan, compartilhar seus pensamentos e memórias, suas fantasias e pesadelos. Tudo girando na cabeça dessa mulher mais rápido do que qualquer engenhoso designer cênico, qualquer brilhante técnico de um palco de mágica, poderia razoavelmente alcançar. Certamente a nossa melhor esperança é usar os elementos básicos essenciais do teatro prontamente disponíveis para nós: iluminação, som e, é claro, no final, o próprio trabalho dos atores. O resto, como um grande escritor disse uma vez, é silêncio.”