Gustavo Mariani

A noite brasiliense da última quinta-feira fez uma escapadinha pelo passado e visitou subtâncias cósmicas das décadas de 1960/70. Quem pilotou a máquina do tempo foi uma díva “popmente” romântica, Dione Warwick, norte-americaníssimamente bem direcionada para uma política musical de muito boa vizinhança, com os “sessentões” brasileiros que lhe dão os ouvidos há cerca de de meio século.
Pelo Caminho de San Jose, a cantora pintou pelas partes de baixo do equador, Walk on By, até a Bahia de Dorival Caymmni e a Mangueira, de Dna Zica e Cartola, sem deixar de visitar a Bossa Nova de Tom Jobim, principalmente, a Garota de Ipanima, como pronunciava. Ficou até as Águas de Março rolarem, mesmo fazendo um tremendo esforço para enrolar a platéia com o seu terrível “portunglês”. Mas nada que um pedacinho de papel escrevinhado e disponível à sua mão esquerda não pudesse ajudar, naqueles momentos de terror em que a plateia era convocada a socorrê-la. Tudo com simpaticíssimo bom humor. E aplausos, é claro!
Dione, que fez um giro completo pelos seus hits encantantes de “brasucas”, reencontou, acompanhada por uma ótima orquestra, reforçada por dois músicos carioca e um brasiliense, o baterista Zé Renato. Bem humorada, ela não se cansou de falar vários “muito obrigadou”. E até mostrou ter aprendido o jeitinho brasileiro. Pelo menos, quando um celular tocou, por duas vezes, exatamente, no instante em que ia soltar a voz. Sem problemas! Brincou, destilando um sorriso irônico, acompanhado por um meigo “thank you”, que lhe valeram outros tantos aplausos, ao final da barulheira da perafernália eletrônica.
O momento mais Dione do show não poderia deixar de ser, claro, quando ela jurou que nunca mais voltaria a amar (I’ll Never fell in Love Again, seu maior hit no Brasil. Aquele alertando as mocinhas da época de que poderiam pegar pneumonia, beijando os namorados. Conselho sem nenhuma comprovação, mas de grande valor científico. Afinal, levanta plateias. O receite sempre, Miss Worwick!