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Crítica: Roger Waters está muito mais preocupado com Trump

Arquivo Geral

14/10/2018 8h37

Eric Zambon/Jornal de Brasília

Eric Zambon/Jornal de Brasília

Eric Zambon
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A aparição, por 20 segundos, do nome do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) no show de três horas de duração de Roger Waters em São Paulo, no último dia 9, gerou tamanha repercussão que até parecia ter sido esse o foco do evento. Pois bem, o britânico ex-baixista e vocalista do Pink Floyd trouxe sua cinematográfica e bem produzida apresentação para o estádio Mané Garrincha, na noite deste sábado (13), e mostrou, além de um sistema de som impecável e uma banda afinadíssima, antagonismo direcionado a Donald Trump, presidente dos EUA.

Líderes conservadores ao redor do mundo, como Marine Le Pen, da França, e Vladmir Putin, da Rússia, foram citados brevemente em um painel que mostra onde, na visão de Waters, o neofascismo ganha força. No primeiro show em São Paulo, foi neste instante que o nome de Bolsonaro apareceu representando o Brasil. Para o concerto do dia seguinte, no mesmo local, uma tarja com os dizeres “ponto de vista político censurado”, em bom português, cobriu o nome do candidato do PSL. Isso porque houve vaias, em resposta a aplausos, e repercussão contrária de apoiadores de Bolsonaro, especialmente nas redes sociais. Em Brasília a tarja voltou.

Muita crítica

A despeito do caráter político que permeou todo o concerto, a apresentação em si agradou a todos os grupos ideológicos presentes e gerou pelo menos três momentos de catarse no Mané Garrincha. O primeiro aconteceu logo antes do intervalo de 20 minutos para troca do cenário, com a sequência ‘Wish You Were Here’, do álbum homônimo de 1975, e ‘Another Brick In The Wall Pt. 2’, hit do álbum conceitual ‘The Wall’, de 1979. Esta última contou com crianças de escolas do DF executando uma coreografia no palco. Depois da canção, houve os primeiros embates políticos entre a própria platéia.

O público de Brasília gritou “ele não” e ouviu, de si mesmo, que “ele sim”. Durante a pausa, surgiu o famigerado telão com os nomes de representantes da extrema direita desprezados pelo músico, que não se limitou a atacar políticos e mostrou frases de resistência contra Mark Zuckerberg, criador do Facebook, contra o antissemitismo, contra crimes de guerra e por aí vai. Quando Roger retornou do intervalo, reabriu os trabalhos com ‘Dogs’ e ‘Pigs (Three Different zones)’, pinçadas do LP ‘Animals’, de 1977, marcando o começo da fase ‘orwelliana’ do show.

Começou, então, a segunda catarse da noite, quando quatro chaminés emulando a capa do álbum supracitado se ergueram acima do palco e criaram um efeito visual interessantíssimo e bem explorado. Em certo ponto, a fábrica se transformou em outdoor e surgiu a frase “Trump é um porco”, momento em que até o pessoal do #EleSim, boa parte na Pista Premium, setor mais caro do evento, se juntou aos demais para tripudiar sobre as montagens constrangedoras com o governante norte-americano. Para se ter ideia, uma das imagens mais amenas foi Trump de batom.

O terceiro e último momento catártico foi quando Roger emendou a sequência ‘Mother’ e ‘Comfortably Numb’, ambas de ‘The Wall’, para encerrar a madrugada. Ao fim, depois de imagens de crianças em situação de rua, de pessoas passando fome, precedidas de apelos do músico por respeito à Declaração Universal dos Direitos Humanos, a citação, mesmo velada, a Bolsonaro teve pouquíssima importância para o resultado final. Um show para ficar na memória do brasileiro não apenas pela qualidade do grupo, mas por todo o contexto, certamente.

 Setlist Roger Waters Brasília 13/10/2018:

Breathe
One of These Days
Time
Breathe (Reprise)
Welcome to the Machine
Déjà Vu
The Last Refugee
Picture That
Wish You Were Here
The Happiest Days of Our Lives
Another Brick in the Wall Part 2
Another Brick in the Wall Part 3

Bis:
Dogs
Pigs (Three Different Ones)
Money
Us and Them
Smell the Roses
Brain Damage
Eclipse
Mother
Comfortably Numb

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