Andréia Castro
Especial para o Jornal de Brasília
Tipos regionais da cultura popular e do folclore brasileiro, como bumba-meu-boi e baianas, estão representados na coleção Cenas Brasileiras, de Cândido Portinari. Composta por 12 painéis que constituem uma das mais homogêneas criações do pintor, a série abre hoje para visitação gratuita no Salão Negro da Câmara dos Deputados, onde fica até 16 de setembro.
Acervo do Banco Central, é a primeira vez que todos os painéis são reunidos fora do banco para o grande público. Além de Portinari, os brasilienses também terão a chance de ver de perto a Primeira Missa no Brasil, obra pintada em 1861 por Vitor Meireles, inédita na capital.
Com desenho expressivo, efeitos dramáticos e uso inusitado da forma e da cor, “Portinari conseguiu ampliar seu universo conceitual, sem esquecer a exaltação ao povo brasileiro”, afirma a curadora da coleção, Telma Ceolin. O primeiro quadro da série, Descobrimento do Brasil, foi pintado entre 1954 e 1956, a pedido de Assis Chateaubriand para decorar o saguão da revista O Cruzeiro.
Durante a realização dos painéis, o artista plástico havia atingido a maturidade artística e tornara-se o “clássico moderno” tupiniquim. “Com Cenas Brasileiras, ele sai do cubismo tradicional para fazer uso dos recursos do expressionismo”, completa Ceolin.
Voltado para particularidades regionais, Portinari passeia pelos tipos populares. A série inclui: Descobrimento do Brasil, Anchieta, Bandeirantes, Frevo, Bumba-Meu-Boi, Samba, Vaqueiros do Nordeste, Baianas, Garimpo em Minas Gerais (Garimpeiros), Jangada do Nordeste, Gaúchos e Seringueiros.
Portinari (1903–1962) é um dos artistas plásticos brasileiros mais reconhecidos no exterior, com obras premiadas em vários países. Representante do modernismo brasileiro, ele participou da Semana de Arte Moderna de 1922 – marco da transformação que renovou a cultura do País.
Uma das obras mais reproduzidas por livros didáticos, a Primeira Missa no Brasil, pintada em Paris por Vitor Meireles, pertence ao Museu Nacional de Belas Artes, do Rio de Janeiro, e só saiu de lá duas vezes: para ser exposta na Bélgica e para uma mostra no Sul do Brasil.
Embora tenha sido criado mais de três séculos depois da chegada de Pedro Álvares Cabral às terras brasileiras, o quadro é referência instantânea quando se fala sobre o início da colonização pelos portugueses. Reproduzida desde a sua realização, “a obra sofreu profunda restauração em 2006 e, com isso, mantém a mesma aparência de quando foi pintada”, explica Pedro Xexéu, o curador do Museu Nacional de Belas Artes.
Vitor Meireles (1832-1903) deixou acervo de retratos, panoramas e quadros históricos. Bastante requisitado pelo governo imperial, realizou diversas obras representando momentos históricos, eventos da Corte e paisagens do Brasil.