Do teatro infantil da Cia Teatral Neia e Nando ao tapete vermelho internacional do cinema independente, a trajetória da jovem brasiliense Giovanna Queiroz Batista, 19 anos, reflete o poder transformador da arte e da educação. Primeira e única brasileira vencedora do Festival Internacional de Cinema ConnectHer, sediado em Austin (Estados Unidos), Giovanna volta ao Brasil para liderar, agora como professora, a primeira edição do Workshop de Criação de Filmes ConnectHer no país.
A oficina, realizada em parceria com a tradicional Cia. Teatral Néia e Nando, –onde Giovanna iniciou sua formação artística — é gratuita, aberta ao público jovem e ocorre de forma híbrida. Os encontros presenciais começam nesta quinta-feira 25 e tem continuidade nos dias 31 de julho e 1º de agosto no espaço da Cia Neia e Nando, no Vitrinni Shopping, em Águas Claras, seguidos por um mês de mentorias on-line personalizadas. Os participantes não apenas aprendem teoria e prática do cinema como também produzem seus próprios curtas, que serão inscritos no festival com a chance de disputar premiações em dólares.

“Foi na Néia e Nando que tudo começou, me deram base, me incentivaram a sonhar. Voltar agora como mentora, representando um festival internacional, é uma alegria imensa”, diz Giovanna ao Jornal de Brasília.
Da Neia e Nando para o mundo
Giovanna frequentou a Cia. Néia e Nando dos 10 aos 15 anos. Ainda adolescente, já se arriscava nos bastidores das peças: co-dirigia, ajudava na produção e criava esquetes. Em 2023, aos 17, escreveu, dirigiu e produziu seu primeiro curta-metragem, “Make Me Laugh” (Faça-me Rir), com celular, equipamentos emprestados e o apoio de amigos e familiares. A obra foi inscrita no ConnectHer Film Festival — iniciativa internacional que valoriza a produção audiovisual feita por jovens mulheres — e venceu o Prêmio de Voto Popular.
“Ganhar esse prêmio foi um divisor de águas”, afirma. “Me deu a confiança de que eu poderia ir mais longe. Pouco depois, recebi uma bolsa integral por excelência acadêmica para estudar cinema na York University, em Toronto, no Canadá. Uma conquista que ultrapassa R$ 1 milhão em valor”, completa Queiroz.

O cinema como ponte de transformação
O projeto, que chega ao Brasil em caráter social, pretende formar uma nova geração de cineastas, democratizando o acesso à produção audiovisual. Para Giovanna, esse é um compromisso pessoal: “Quero mostrar que cinema é sim uma carreira possível e promissora. Ainda existe o estigma de que arte é hobby, não profissão. Mas minha trajetória prova que com estudo, dedicação e apoio certo, é possível viver de arte, alcançar universidades no exterior e ter aulas com profissionais da Amazon, HBO e Netflix”, declara Giovanna Batista.
Durante o workshop, os participantes aprendem sobre roteiro, direção, produção, atuação e edição. Ao final da formação, os curtas desenvolvidos pelos alunos serão submetidos ao próprio Festival ConnectHer, onde poderão competir por premiações em dinheiro e exibição internacional. Giovanna destaca que o diferencial do curso é a imersão criativa completa: “Eles não vão só assistir a aulas. Vão produzir, filmar, editar e lançar seus filmes. Vão sentir o que é transformar uma ideia em uma obra audiovisual concreta”, aponta Queiroz.

Gratuito e acessível
A realização da oficina em parceria com a Cia. Néia e Nando é também uma forma de retribuir à comunidade que a acolheu nos primeiros passos. As inscrições foram 100% gratuitas, com o objetivo de tornar o acesso ao cinema mais democrático e inclusivo. “O cinema mudou minha vida. Agora quero usar tudo que aprendi para impulsionar outras histórias, outros talentos. Acredito que muitos jovens talentosos só precisam de oportunidade. Esse projeto é justamente sobre isso: abrir portas”, diz Giovanna.
Após os encontros presenciais, os alunos continuarão em contato com Giovanna por meio de sessões on-line de acompanhamento. “Durante um mês, faremos duas sessões semanais de feedback. Vou acompanhar o desenvolvimento dos filmes, orientar na finalização e nas inscrições para o festival. Quero estar ao lado deles em cada etapa”, comenta Batista. Questionada sobre o que mais espera ver nos filmes brasileiros que estão por vir, Giovanna se emociona. “Ainda estou para descobrir, mas acho que o que mais vai me surpreender é estar desse lado — vendo a criatividade dos alunos florescer, como um dia floresceu em mim”.
O ConnectHer Film Festival já premiou mais de US$ 300 mil em projetos audiovisuais ao redor do mundo. A chegada da oficina ao Brasil sinaliza uma nova fase de internacionalização do evento e coloca o Distrito Federal no mapa da formação de jovens talentos no cinema. Para Giovanna, mais do que um curso, o projeto é uma missão: “Quero inspirar, mas também equipar. Ensinar técnica, sim, mas também mostrar que é possível sonhar grande e realizar. Isso muda vidas — mudou a minha.” As vagas para o workshop são limitadas. As inscrições já foram encerradas. Interessados em participar de uma segunda edição devem acompanhar as redes sociais da ConnectHER.