Brasília brilhou no segundo dia da Mostra Competitiva Nacional do 57º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com a exibição de produções locais que refletem a riqueza cultural da região. O longa-metragem Pacto da Viola, dirigido por Guilherme Bacalhao, e o curta Inflamável, de Rafael Ribeiro Gontijo, representaram o Distrito Federal no maior evento de cinema da cidade. A programação da noite também contou com o curta paulista Javyju – Bom Dia, de Kunha Rete e Carlos Eduardo Magalhães.
Encerrando a noite, Pacto da Viola trouxe uma narrativa imersiva que une a tradição do sertão mineiro com elementos místicos. A trama acompanha Alex, um músico que retorna ao sertão após o fracasso na carreira para cuidar do pai, Lázaro, cuja saúde debilitada está cercada por rumores de um pacto demoníaco. A história, que mescla crenças populares com drama familiar, reflete o impacto das lendas e narrativas fantásticas que marcaram a infância do diretor.
Em entrevista ao Jornal de Brasília, Guilherme Bacalhao falou sobre como o filme trabalha a dualidade entre fé e superstição para construir o mistério em torno de Lázaro: “O filme trabalha muito sem dar essa resposta, se é ou não é, se o que acontece é verdade ou não. Muitos elementos que mobilizam a fé, os acontecimentos, são filtrados por ela. Uma porteira fechada no caminho, por exemplo, pode ser apenas isso ou pode significar uma ação de energias ruins.”
Bacalhao também destacou como a jornada do protagonista reflete questões sociais: “O Alex é um músico frustrado, um errante, que vive de subempregos, sempre em busca de um recomeço. Ele está inserido em um lugar onde as oportunidades são limitadas e onde uma grande fazenda, sendo o principal empregador, determina a vida de toda a comunidade.”
Sobre a trilha sonora, o diretor explicou a importância de integrar elementos culturais autênticos: “A gente separa muito a música sertaneja como se fosse só as ditas duplas, mas ela é muito mais do que isso. A música de viola e outras manifestações são músicas do interior, que carregam a essência cultural da região e que estão presentes em toda a história.”
Outro destaque da noite, o curta Javyju – Bom Dia trouxe uma narrativa que combina a espiritualidade indígena com uma visão futurista. Em entrevista ao JBr, Carlos Eduardo Magalhães explicou que esses elementos não são separados dentro da cosmovisão guaraní: “Na cultura guaraní, não existem dois universos. Estou conversando com você aqui, mas o nosso espírito também está. Não existe um mundo espiritual e um mundo de verdade. A ideia do filme vem da própria cosmovisão guaraní, que fala de Yanderu dar um basta para renovar.”
Magalhães também destacou o simbolismo de filmar em uma São Paulo pós-devastação, retratada por meio de uma estética minimalista: “Eu moro na ocupação 9 de Julho e filmei lá. Estudei ângulos para captar a sensação de uma cidade sem vida, algo desafiador em um lugar que nunca para. É uma percepção de vazio que dialoga com a narrativa do curta.”
Sobre a mensagem que o filme pretende passar, o diretor foi enfático: “Minha mensagem é para o povo guaraní. Que eles podem. Que o filme incentive a quebrar o estigma de que só podem fazer documentários sobre si mesmos. Para mim, o maior prêmio é esse reconhecimento dentro do povo guaraní, mostrando que o filme é útil para a cultura deles.”
A Mostra Competitiva Nacional segue com exibições de curtas e longas que celebram a diversidade do cinema brasileiro, reafirmando o papel do Festival de Brasília como um dos principais palcos da sétima arte no país.
57o FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
Data: Até 7 de novembro
Local: Cine Brasília (106/107 Sul), Cia. Lábios da Lua (Gama), Centro Universitário Estácio (Pistão Sul, Taguatinga) e Complexo Cultural de Planaltina.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) somente para as sessões da Mostra Competitiva Nacional no Cine Brasília. Entrada franca mediante retirada prévia de ingressos para as demais sessões.
Programação completa: festcinebrasilia.com.br