Menu
Cinema

Festival de Brasília abre Mostra Competitiva com histórias que conectam o país

Em entrevista ao JBr, os co-diretores Clarissa Campolina e Sérgio Borges, responsáveis pelo longa “Suçuarana”, falaram sobre o impacto da produção

Tamires Rodrigues

01/12/2024 23h37

Atualizada 02/12/2024 0h54

mostra competitiva nacional maremoto (rn) + chibo (rs) + suçuarana (mg) @gustavoalcantarafotografia 0070

Foto: Divulgação/Gustavo Alcantara

O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro deu início à aguardada Mostra Competitiva Nacional neste domingo (1º/12), marcando um dos momentos mais emblemáticos de sua 57ª edição. A seleção inicial trouxe histórias que cruzam diferentes paisagens e vivências do país, revelando narrativas que vão de São Miguel do Gostoso (RN) à fronteira com o Uruguai, passando pelos quilombos de Minas Gerais.

A noite abriu com a exibição do longa-metragem “Suçuarana”, dirigido por Clarissa Campolina e Sérgio Borges. A obra mineira narra a jornada de Dora, uma mulher que percorre estradas em uma região mineradora em busca de trabalho e de um pedaço de terra que pertenceu à sua mãe.

Além do longa, os curtas “Chibo”, de Gabriela Poester e Henrique Lahude, e “Maremoto”, de Cristina Lima e Juliana Bezerra, também compuseram a sessão inaugural, explorando olhares que ampliam e enriquecem a pluralidade do cinema nacional.

“Suçuarana”: conexão entre cinema e natureza

Clarissa Campolina e Sérgio Borges, diretores de Suçuarana, compartilham suas visões em entrevista ao Jornal de Brasília sobre o filme e o impacto de apresentá-lo no Festival de Brasília. O longa, inspirado livremente no romance “A Fera na Selva” do escritor Henry James, traz uma abordagem poética e crítica sobre a relação entre o ser humano e a natureza, explorando questões ambientais, espirituais e sociais.

Clarissa Campolina explicou como o longa foi inspirado no romance A Fera na Selva e adaptado para um contexto contemporâneo. Segundo a diretora, o processo foi desafiador: “Elaboramos o projeto em 2018 dentro de um núcleo criativo. Não queríamos um filme de época, mas algo que debatesse coletivamente o texto, trazendo um mundo ao redor dos personagens, diferente do livro, que é muito centrado em dois protagonistas.”

mostra competitiva nacional maremoto (rn) + chibo (rs) + suçuarana (mg) @gustavoalcantarafotografia 0053
Foto: Divulgação/Gustavo Alcantara

Sérgio Borges, por sua vez, destacou as inspirações para tratar temas como mineração e exploração ambiental de forma sensível. “Vivemos em Minas Gerais, estado marcado pela mineração desde o Brasil Colônia. O filme reflete sobre essa devastação, mas também contrapõe com uma comunidade que vive em conexão com a terra. Essa dinâmica de vida oferece outro tempo, distante da urgência da cidade ou da estrada, que é parte do nosso filme, um road movie em certa medida,” explicou.

A abordagem visual e narrativa do longa também foi tema de destaque. Campolina apontou as escolhas estéticas feitas para as duas partes do filme: “Na primeira parte, com uma câmera frenética e digital, acompanhamos a busca da protagonista, Dora. Já na segunda, quando ela encontra uma comunidade com outra relação com a terra e o trabalho, usamos 16 milímetros e planos mais longos para refletir a calma e o cuidado daquele espaço.”

Sérgio Borges acrescentou detalhes sobre os desafios técnicos, especialmente ao retratar os cenários impactados pela mineração. “Filmamos até de helicóptero, porque as mineradoras bloqueiam drones. Precisávamos mostrar esse contexto, e foi assim que conseguimos situar as imagens no filme.”

A conexão com o Festival de Brasília também foi motivo de celebração para os diretores. “É uma honra exibir aqui na Sala Vladimir Carvalho. Este festival é essencial para a construção do cinema brasileiro,” afirmou Campolina. Borges, que já venceu o festival em 2010 com O Céu Sobre os Ombros, compartilhou sua emoção: “Alguns dos momentos mais felizes da minha trajetória foram aqui em Brasília. Voltar com Suçuarana é uma alegria imensa.”

O filme, com sua poesia e crítica social, convida o público a repensar a relação com o meio ambiente, ao mesmo tempo em que celebra a força do cinema brasileiro em um dos festivais mais importantes do país.

A Mostra Competitiva segue até o final do festival, reafirmando sua tradição de revelar talentos e provocar reflexões sobre o Brasil em suas múltiplas dimensões.

57o FESTIVAL DE BRASÍLIA DO CINEMA BRASILEIRO
Data: Até 7 de novembro
Local: Cine Brasília (106/107 Sul), Cia. Lábios da Lua (Gama), Centro Universitário Estácio (Pistão Sul, Taguatinga) e Complexo Cultural de Planaltina.
Ingressos: R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia) somente para as sessões da Mostra Competitiva Nacional no Cine Brasília. Entrada franca mediante retirada prévia de ingressos para as demais sessões.
Programação completa: festcinebrasilia.com.br

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado