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Cinema

Do Cerrado a Hollywood o jovem diretor do DF estreia com “Além da Culpa”

Primeiro curta de Israel Córdova conquista prêmios em Los Angeles e projeta a força cultural de Brasília no cinema internacional

Tamires Rodrigues

16/09/2025 11h09

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Israel Córdova diretor do curta-metragem “Além da Culpa”

O brasiliense Israel Córdova, 27 anos, celebra a estreia internacional de seu primeiro curta-metragem, Além da Culpa, no CinePride Film Festival, em West Hollywood, Los Angeles. A produção voltou premiada no último domingo (14) com dois troféus: Melhor Fotografia, assinada por Petrônio Neto, e o título Trailblazer, que reconhece pioneiros no audiovisual queer. A conquista coloca o cinema do Distrito Federal no mapa de um dos eventos mais simbólicos do circuito LGBTQIAP+.

Natural de Taguatinga, Israel cresceu cercado pelo ambiente rural e religioso que hoje atravessa a estética e a narrativa de sua obra. O filme acompanha o encontro entre Mauro (Danilo Castro) e Léo (Bruno Estrela), dois homens que compartilham silêncios, tragos de cachaça e desejos reprimidos em uma fazenda isolada. Para o diretor, a escolha do cenário foi determinante. “Nasci e cresci próximo a esse contexto rural, marcado por religiosidade e silêncio. Quis trazer um amor que quebrasse essas barreiras, mas sem cair na lógica da tragédia que tantas vezes vemos em filmes LGBTQIAP+. Preferi mostrar esperança.”

A sensibilidade da trama ganha força com as atuações de Danilo e Bruno, nomes já consolidados na cena cultural. Danilo, cearense radicado em Brasília, acumula passagens por novelas da TV Globo, séries portuguesas e produções do Centro-Oeste. Bruno é ator, dramaturgo e educador, premiado em diferentes festivais e referência na revitalização de espaços culturais da capital. “A experiência com eles foi extremamente leve e construtiva. Nós três somos gays e falávamos a mesma língua. Essa afinidade deu força ao filme”, contou o diretor ao Jornal de Brasília.

O elenco se completa com o jovem ator brasiliense Daniel Queiroz, que interpreta Vitin e reforça o elo de gerações no projeto. Para Israel, a escolha dos intérpretes foi estratégica: cada um carrega em cena marcas e vivências que tornam a narrativa mais próxima da realidade. A busca, segundo ele, era por performances que transmitissem intimidade, cumplicidade e verdade.

O impacto em Hollywood trouxe também reflexões sobre o papel das políticas públicas no fortalecimento do cinema nacional. Além da Culpa foi contemplado pela Lei Paulo Gustavo DF, que viabilizou a produção e o lançamento do curta. “Sem esses mecanismos, dificilmente novos realizadores teriam espaço no mercado. A Lei Paulo Gustavo foi o que me permitiu transformar uma ideia em filme e representar o Brasil no exterior. Sou e serei eternamente grato.”

A passagem por Los Angeles marca apenas o início de uma trajetória que já soma novos capítulos. O curta segue para mostras em Ohio e Nova Iorque, além de ter exibição confirmada em outubro na Mostra de Curtas de Goiânia. Para o jovem cineasta, o momento representa não apenas a validação de seu trabalho, mas também um convite para que outras vozes do Cerrado encontrem ressonância no mundo.

Enquanto o curta circula internacionalmente, Israel prepara seu primeiro longa, Onde Sangram os Homens, atualmente em fase de captação. A expectativa é que o projeto dê continuidade a um estilo marcado pela intensidade emocional e pelo olhar sensível sobre masculinidades e afetos. “Quero continuar contando histórias que toquem o coração. Eu gosto de chorar em filme, e quero levar esse sentimento para o meu cinema também”, disse ao jornal.

Com apenas uma obra lançada, o diretor já demonstra maturidade e visão de futuro, equilibrando memória pessoal e olhar coletivo. Sua estreia internacional revela não apenas talento, mas também a potência de um cinema brasiliense que dialoga com questões universais de afeto, identidade e pertencimento.

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