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Cinema

Cine Cultura renasce como um abraço da cidade ao cinema

Com novas galerias, exposições, arquitetura afetiva e som de ponta, o espaço convida Brasília a respirar cinema — antes mesmo da primeira cena

Tamires Rodrigues

25/07/2025 5h00

Atualizada 24/07/2025 21h25

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Foto: Divulgação

Antes mesmo do início do filme, algo já mudou. A luz suave, o silêncio que acolhe, as imagens nas paredes, as esculturas no caminho. No coração do Liberty Mall, o Cine Cultura não apenas passou por uma reforma — ele se reinventou. Mais do que um cinema, agora é um lugar de permanência, encontros e atravessamentos. Um espaço onde a arte pulsa antes, durante e depois da sessão.

À frente da transformação está Nilson Rodrigues — produtor, curador e amante confesso da sétima arte. Com um investimento de R$ 1,25 milhão, viabilizado por financiamento do BRDE, ele lidera a renovação do Cine Cultura, que se consolida como um centro cultural. “Temos a melhor programação e, agora, também a melhor qualidade de som e imagem”, afirma ao Jornal de Brasília. “Reformamos as quatro salas com sistema de som 7.1, poltronas novas, telas perolizadas, climatização independente e acessibilidade total. E tornamos o espaço mais bonito, mais afetivo.”

A nova arquitetura, assinada por Ricardo Luiz Ferreira, é uma ode à memória afetiva dos cinemas de bairro de Paris e Nova York. Nas paredes, mais de 500 retratos de diretores e atores icônicos. Nas laterais, totens silenciosos de Charles Chaplin, Marilyn Monroe e Orson Welles convidam o público a entrar — não só no filme, mas na própria história do cinema.

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Foto: Divulgação

Mas a grande novidade está além da tela. Duas novas galerias de arte foram inauguradas como parte da experiência. A Galeria Francisco Galeno homenageia o artista piauiense radicado em Brazlândia, falecido recentemente, com a exposição Os Pássaros, assinada por Fernando Madeira e com curadoria de Angélica Madeira. Já a Galeria Luís Humberto celebra o mestre da fotografia brasiliense, reunindo obras de Zuleika de Souza, Luiza Venturelli, Leopoldo Silva, André Dusek e outros nomes de peso na mostra coletiva Tempos de Luta.

“Somos de Brasília e temos compromisso com a cultura da cidade e com seus ícones”, diz Nilson. “As galerias ampliam a experiência de quem vem ver um bom filme. Agora, o público também pode se conectar com as artes visuais, com a fotografia, com a cidade.”

Do lado de fora, a intervenção artística continua. No corredor de acesso, a mostra A Disfunção do Clipe, com esculturas de ferro do artista Sanagê Cardoso, chama atenção. A curadoria é de Wagner Barja, reconhecido educador e artista visual da capital. A obra, como todo o ambiente, não busca decorar o espaço — quer provocar.

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Foto: Divulgação

Um manifesto cultural em plena capital

Para Nilson, a renovação do Cine Cultura é também uma resposta a um vazio. “Brasília está abandonada. Os teatros estão fechados, não há galerias, não existe uma agenda cultural estruturada na capital do país. É trágico”, desabafa. “Nossa pretensão é cobrir essas lacunas. Queremos transformar o Cine Cultura em um espaço cultural vivo, um lugar de resistência.”

A estreia da nova fase reforça esse propósito. A programação inclui estreias como Uma Bela Vida, novo longa de Costa-Gavras, e Cloud – Nuvem de Vingança, representante japonês no Oscar 2025. Estão previstas ainda pré-estreias aguardadas, como A Melhor Mãe do Mundo, de Anna Muylaert — exibido na Berlinale — e Monsieur Aznavour, cinebiografia do lendário cantor francês.

“Queremos sempre oferecer o melhor. A boa arte precisa encontrar seu público. Brasília precisa e merece”, resume.

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Foto: Divulgação

O compromisso com a formação de público segue firme. “Vamos continuar com pré-estreias, debates, festivais e projetos com estudantes da rede pública. Isso faz parte da nossa missão desde o início.”

O cinema como lugar de permanência

Mais do que ver um filme, a proposta é permanecer. Chegar antes, ver uma exposição, ouvir música, sentir-se parte de algo. E depois — talvez — ficar mais um pouco. “Espero que o público se sinta mais acolhido, que vivencie o cinema desde antes de entrar na sala”, diz Nilson. “Quero que sintam que aquilo ali também é deles.”

Em tempos de telas múltiplas, velocidade e isolamento, o Cine Cultura aposta no contrário: na presença, no ritual, no encontro. “O público voltou. O mercado exibidor já registra os mesmos números de antes da pandemia. O cinema não morrerá nunca — nada o substitui.”

E ao fim da conversa, quando pergunto o que ele espera que o público sinta ao cruzar as novas portas do Cine Cultura, Nilson responde sem hesitar:

“Um sentimento de amor ao cinema.”

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