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Cinema

‘Borderlands’ recria, com grande elenco e sem sucesso, célebre videogame

É um filme simples, na essência, mas que lida com algo complexo: a busca por uma identidade própria

Redação Jornal de Brasília

19/08/2024 8h31

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Foto: Reprodução/Arad Productions.

Por Matheus Mans

Improvável. Esse é o adjetivo que mais se encaixa em Borderlands, adaptação cinematográfica do videogame de sucesso, em cartaz nos cinemas brasileiros. Afinal, trata-se de mais um projeto que estava rondando Hollywood há anos, mas que nunca se concretizava. Parecia um mito, uma lenda. Até que, de repente, tudo andou.

O longa é uma tradicional space opera (ópera espacial) e segue a essência do game: Lilith (Cate Blanchett) é uma caçadora de recompensas contratada por um homem poderoso para ir a um planeta às margens da galáxia e resgatar sua filha perdida. Mas, chegando lá, as coisas não saem como o esperado: a menina não parece estar interessada em retornar ao pai e, ao seu redor, estão figuras como um soldado baixinho (Kevin Hart) e um psicopata (Florian Munteanu).

É um filme simples, na essência, mas que lida com algo complexo: a busca por uma identidade própria. As primeiras conversas sobre Borderlands começaram em 2015, quando o cineasta e roteirista Leigh Whannell (de O Homem Invisível e Upgrade) abraçou o projeto. As primeiras negociações começaram a ser feitas, só que tudo desandou. Eli Roth, um diretor mais lembrado por seus trabalhos no cinema de terror, acabou sendo a opção final.

Mas, de novo, a escolha por Roth esbarra nesse problema essencial de criação de uma identidade. O jogo de Borderlands busca inspiração em inúmeros filmes que trafegam pelo universo da ficção científica – de Star Wars a Mad Max. Para criar um filme próprio, é essencial que o cineasta se afaste um pouco dessas influências diretas e tenha algo a dizer.

Roth parece não conseguir. Borderlands às vezes lembra uma colagem de pedaços de filmes de ficção científica que não deram certo, como O Destino de Júpiter e Valerian e a Cidade dos Mil Planetas; ou então um filme feito por fãs querendo imitar Star Wars e até Alita, produção que foi bem nas bilheterias em 2019. Difícil pensar em algo, dentro do filme, que tenha uma cara própria, uma identidade, algo que o torne, de pronto, identificável.

E é aí que voltamos ao adjetivo inicial: improvável. Não só o projeto, que parecia relutar em vir à vida, mas também tudo que o envolve. Roth tem uma mão muito pesada para o horror e não sabe criar uma aventura, como já tinha mostrado no esquisito O Mistério do Relógio na Parede. E o elenco é espantoso: as oscarizadas Blanchett (Blue Jasmine) e Jamie Lee Curtis (Halloween), Jack Black e Kevin Hart (ambos em Jumanji), Edgar Ramírez (Jungle Cruise).

DESCONFORTO

A lista de estrelas chama a atenção em um primeiro momento, mas, em seguida, só causa estranheza. Parece haver certo desconforto em partes dos atores, principalmente Blanchett – a inusitada presença dela, aliás, faz Borderlands parecer uma daquelas piadas em que um filme faz uma esquete do que Hollywood se transformou. Tudo é artificial, estranho, desconfortável.

Borderlands foge até do propósito de ser divertido – algo que parece simples, mas é mais complexo do que apenas fazer piadinhas com um Jack Black transformado em robô. Estranho, o filme não consegue passar a barreira do desconforto e sequer compreender com quem está falando.

Crianças? Violento demais. Adolescentes? Não vão se conectar com atores e história. Adultos? Bobinho demais. É um filme sem propósito, sem caminho, sem rumo. E isso é a pior coisa que pode acontecer com uma história. Assim, Borderlands é mais uma vítima da antiga maldição de filmes baseados em videogames, incapazes de fazer jus à história presente nos consoles. Será que não é melhor procurar novas ideias em outros lugares?

Estadão Conteúdo

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