O documentário Aqui não entra luz, dirigido por Karol Maia, integra a mostra competitiva do 58º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, que acontece de 12 a 20 deste mês. A sessão do longa será no dia 17, às 21h, no Cine Brasília.
O filme nasce de uma vivência pessoal: filha de uma ex-trabalhadora doméstica, a diretora entrevista mulheres que atuam nessa profissão. Seus relatos expõem memórias afetivas, episódios de violência e exploração ainda presentes na realidade de milhões de brasileiras, mas também revelam a resistência cotidiana por direitos e a força da maternidade como elo central em suas trajetórias.
Narrado em primeira pessoa, o documentário mescla lembranças íntimas e histórias de mulheres da Bahia, Maranhão, Minas Gerais e Rio de Janeiro – estados que mais receberam mão de obra escravizada no país. O título se inspira nos espaços arquitetônicos da senzala e do quarto de empregada, símbolos de segregação e racismo que atravessam a história brasileira. O resultado é um gesto de escuta, memória e reconhecimento da luta dessas mulheres.
Segundo o IBGE, o Brasil tem cerca de 6 milhões de trabalhadores domésticos, mas menos de um quarto possui carteira assinada. Mesmo com a PEC das Domésticas (2013), que assegurou direitos como FGTS, seguro-desemprego e jornada limitada, a informalidade permanece elevada e voltou a crescer nos últimos anos, mostrando que apenas mudanças legais não bastam para garantir condições justas.
A produção foi viabilizada por uma rede de apoios. O primeiro incentivo veio do Rumos Itaú Cultural, seguido por recursos da Lei Paulo Gustavo (MG) e do Programa Histórias que Ficam – Fundação CSN. A finalização contou ainda com uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Benfeitoria, que também destinou parte da arrecadação a um fundo emergencial de apoio às trabalhadoras entrevistadas.
Aqui não entra luz marca a estreia de Karol Maia, 31 anos, na direção de longas-metragens. A cineasta já realizou projetos como Helipa – Um Autorretrato (Paramount), Mães do Brasil 2 (TV Globo) e Cartas Marcadas (Warner Bros.). O filme é produzido pelo Apiário Estúdio Criativo, em coprodução com a Surreal Hotel Arts, e tem distribuição da Embaúba Filmes, responsável por títulos como Marte Um, Arábia, Inferninho e Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos.
Sinopse
Entre memórias pessoais e pesquisas históricas, uma cineasta, filha de uma trabalhadora doméstica, percorre quatro estados brasileiros marcados pela escravidão. Ao investigar como a arquitetura foi pensada para segregar corpos e sustentar hierarquias, ela encontra resistência, memória e afeto nas histórias das mulheres que escuta.