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Cinema

15ª Mostra de Cinema e Direitos Humanos amplia discussões abertas na COP30

A Mostra, promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, propõe debates sobre meio ambiente e direitos humanos a partir dos olhares de povos originários e comunidades tradicionais

Aline Teixeira

28/11/2025 5h00

do colo da terra cocar de palha baniwa crédito divulgação

Foto: Divulgação

A 15ª Mostra Cinema e Direitos Humanos (MCDH) segue em Brasília até domingo (30), no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), com uma programação que conecta cinema, direitos humanos e emergência climática. Com o tema “Direitos humanos e emergência climática: rumo a um futuro sustentável”, o evento dialoga diretamente com as discussões da COP30, realizada em Belém (PA), e reforça a urgência de repensar nossos modos de vida diante da crise ambiental.

Segundo a curadora Beatriz Furtado, a emergência climática determinou o eixo curatorial desta edição.
“Só haverá futuro para humanos e não humanos se a ação de reversão da crise climática for uma ação no presente. As consequências do uso virulento da Terra — mineração, desmatamento, agrotóxicos e combustíveis fósseis — estão dadas. A pergunta que nos colocamos sobre o futuro da vida no planeta guiou a seleção dos filmes. A resposta que os filmes nos dão é: O futuro é agora. Ou não será.”

Realizada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), a Mostra é uma das ações mais consolidadas da pasta na articulação entre educação e cultura em direitos humanos. Em 2025, o evento conta com parceria da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenação geral da produtora e professora Samantha Capdeville. Em Brasília, a realização envolve também a Faculdade de Comunicação da UnB e apoio do CCBB.

Homenageada da edição

A cineasta Sueli Maxakali, liderança do povo Tikmũ’ũn e referência no cinema indígena contemporâneo, é a homenageada desta edição. Seu longa mais recente, Yõg Ãtak: Meu Pai, Kaiowá (2025), premiado em festivais como o de Brasília, CachoeiraDoc e Mostra Ecofalante, abre o evento em todas as capitais participantes. O filme acompanha a busca de Sueli pelo pai, desaparecido durante a ditadura militar.

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Sueli Maxakali. Foto: EBC

Curadoria: Terra, Água e Floresta como eixos

A programação reúne filmes que traduzem a pluralidade cultural e ambiental do Brasil. Produções dirigidas majoritariamente por cineastas indígenas, quilombolas e ribeirinhos abordam território, memória, resistência e justiça ambiental.

Para Beatriz, esses olhares são essenciais em uma mostra nacional de direitos humanos:
“A escolha de Sueli Maxakali como homenageada definiu nosso caminho curatorial. As sessões Floresta/Raoni, Água/Antônia Melo e Terra/Nêgo Bispo acompanham essa proposta. Raoni, Antônia Melo e Nêgo Bispo são pensadores e lideranças fundamentais na defesa da vida. Os filmes foram escolhidos a partir do pensamento da Floresta, das Águas e da Terra.”

Entre os destaques estão Ainda Há Moradores Aqui, de Tiago Rodrigues, sobre o colapso urbano provocado pela Braskem em Maceió; Pau D’Arco, de Ana Aranha, sobre conflitos agrários no Pará; SUKANDE KASÁKÁ | Terra Doente, de Kamikia Kisedje e Fred Rahal, que denuncia os impactos dos agrotóxicos em terras indígenas do Mato Grosso; e Faísca, de Barbara Matias Kariri, que acompanha a mobilização de mulheres pelo retorno das onças ao território.

As sessões temáticas propõem uma travessia sensível pela relação entre humanidade e natureza. Beatriz explica: “É preciso ocupar as telas, pensá-las como territórios. A expectativa é que os filmes produzam os melhores sentimentos em defesa da vida. Que o horizonte das forças do Sagrado/Terra, expresso por mestres e mestras da Natureza, seja percebido como força vital.”

A programação inclui ainda a Sessão Infantil, com Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa, de Fernando Fraiha, e obras que exploram imaginários regionais e a relação das crianças com a natureza. Todos os filmes contam com Libras e legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE). Os debates também terão acessibilidade.

um talentoso e incorruptível jovem de periferia recém formado e uma famosa e mordaz cirurgiã – ele sem diploma por conta de uma dívida na faculdade, ela querendo voltar a operar após um trauma – passam a atuar como médicos de uma facção crimin
Foto: Divulgação

Formação e multiplicação de saberes

Nas semanas que antecederam as exibições, a Mostra realizou a oficina “Imagens do comum: cinema, educação e direitos humanos”, voltada para educadores, agentes culturais e comunicadores populares. Em Brasília, a atividade ocorreu na Faculdade de Comunicação da UnB, ministrada por Pedro B. Garcia.

O coordenador pedagógico da mostra, Leonardo Câmara, destaca o papel formativo das oficinas:
“As oficinas permitem que a reflexão sobre direitos humanos através do cinema se expanda para escolas, associações e centros comunitários. O cinema é uma ferramenta privilegiada de percepção de si, do outro e do mundo. Ao ser manejado como dispositivo para olhar memórias e narrativas do próprio lugar, ele torna o debate sobre direitos humanos uma experiência viva, não apenas um discurso.”

Leonardo reforça que a proposta pedagógica foi pensada para ser replicada:
“As metodologias são compostas por práticas sensíveis e exercícios de criação audiovisual que podem ser realizados com diferentes públicos. Assim, o alcance da Mostra vai além das salas de cinema, tornando o debate mais democrático, acessível e multifacetado.”

Uma trajetória de transformação

Criada em 2006, a Mostra Cinema e Direitos Humanos nasceu para celebrar o aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e ampliar, por meio do audiovisual, o acesso a debates essenciais sobre dignidade, igualdade e justiça social. Em quase duas décadas, o evento se consolidou como ferramenta de diálogo e transformação para públicos de diferentes regiões do país.

SERVIÇO
15ª Mostra Cinema e Direitos Humanos em Brasília
Quando: De 27 a 30 de novembro de 2025
Onde: Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB Brasília) – Asa Sul – Trecho 2 – Asa Sul,
Brasília (DF)
Gratuito
Classificação indicativa: confira a programação
Realização: Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) e Curso de
Cinema e Audiovisual da Universidade Federal do Ceará (UFC)

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